Os bispos católicos moçambicanos alertaram, ontem, para o eventual regresso, “muito forte, ao monopartidarismo” em Moçambique, onde o tráfico de pessoas e órgãos humanos está a tornar-se “preocupante” e a vida da população “ainda está longe do mínimo desejável”.
Em comunicado divulgado ontem, a Conferência Episcopal refere, numa avaliação da situação de Moçambique, que “o dia-a-dia faz intuir uma tendência muito forte ao monopartidarismo no país”.
Os religiosos apelam aos políticos para que invertam o cenário e reconhecem que a revisão da Constituição (a decorrer em breve) é “um momento e um exercício delicado. Acreditamos, no entanto, que a maturidade e a honestidade dos políticos prevaleçam e façam desse exercício uma oportunidade para Moçambique dar um verdadeiro exemplo de democracia”, diz o comunicado.
Porém, afirmam os prelados que, “se houver alguma tentação para o contrário, que a amarga experiência do monopartidarismo no passado persuada todos os políticos a desistir dos seus maus intentos”. Na nota, a Conferência Episcopal de Moçambique refere-se ainda a casos de tráficos de seres e órgãos humanos denunciados pela Igreja Católica em 2004 e 2005.
“Outros aspectos sociais muito preocupantes são o tráfico de seres e órgãos humanos. Quando a Igreja Católica, em 2004 e 2005, denunciou os primeiros casos conhecidos, muito se fez e muito se disse para afirmar que era falso e não faltou quem gostasse de ver a Igreja Católica no banco dos réus e punida, como boateira”, afirmam os bispos.
As primeiras denúncias de tráfico de pessoas e órgãos humanos em Moçambique foram feitas por uma missionária brasileira, então residente em Nampula: Elilda dos Santos.
A freira Elilda dos Santos, que deixou Moçambique alegando ter sido alvo de “vários métodos de pressão” por parte das autoridades moçambicanas, disse que possuía provas sobre a existência de tráfico internacional, mas nunca as apresentou publicamente.
“Hoje, a imprensa quotidiana está confirmando, com casos, um fenómeno de dimensão planetária”, consideram os bispos católicos.
A Igreja Católica em Moçambique voltou a criticar o executivo de Maputo por, alegadamente, desrespeitar os direitos humanos ao admitir a implementação de mega-projectos “sem impacto imediato” ou resultado “negativo” na vida da população moçambicana. (Redacção)
Fonte: O País online - 12.01.2011
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