Por Gento Roque Chaleca Jr.
“Anos atrás estava convencido que o adubo
para o desenvolvimento de Moçambique era a educação. Hoje temos dezenas de
Universidades, entre públicas e privadas, algumas das quais para além de
produzirem calorias para o desemprego, são viveiros da corrupção. O problema de
Moçambique é, a par de alguns governantes que fazem da corrupção uma didáctica,
a falta de um sistema de educação de qualidade, em que se aprende a pensar.”
Extracto de uma conversa com os meus sobrinhos.
Foi-me pedido que falasse um pouco sobre a
qualidade da educação enquanto sistema de ensino no país, um assunto
polissémico que esta crónica não pretende esgotar, até porque o próprio
conceito de qualidade não é consensual, o que torna difícil, senão impossível,
emitir uma opinião pessoal “acabada”. Também não conheço, neste “pantanal” de
mutações constantes, alguém que tenha o “monopólio” da verdade absoluta, que já
é per si, relativa.
Uma educação de qualidade resulta, no meu entender,
de um processo teórico e prático, no qual, através do ensino e aprendizagem, um
país consegue travar as batalhas do subdesenvolvimento, garantindo, deste modo,
a melhoria de vida do seu povo.
Neste processo, o capital humano é o principal
dinamizador da mudança e não o inverso. A razão deste argumento resume-se na
interrogação: pode haver uma educação sem qualidade? A resposta à pergunta é
não, pois sem uma educação de qualidade, o cenário é caracterizado por
conformismo, preguiça e repetição.
Perante isto, urge questionar qual é o actual
estágio da educação em Moçambique? Não é o pior do mundo, graças a intervenção
de poucas almas que tentam, contra “a catequese do governo”, salvar o ensino
que não produz “enzimas” suficientes para travar o subdesenvolvimento. Temos um
ensino cuja qualidade está condicionada ao capital financeiro.
O Ministério da Educação (MINED) não consegue, por
mais remendo que faça, estancar esta injustiça. Ademais, esta instituição
limita-se a aplicar “políticas importadas” e mal ensaiadas, que já causaram o
afastamento de vários antigos ministros (e o actual, infelizmente, sairá com a
mesma inglória).
Só para citar alguns exemplos elucidativos, no
ensino primário, onde era suposto dotar as crianças do saber, inventou-se a passagem
automática que torna também automática a disfuncionalidade do sistema.
Não é concebível que uma criança na 5ª classe não
saiba ler nem escrever o próprio nome. A culpa não é do professor nem da
criança, mas sim da ineficácia do sistema. Airoso tempo em que, no sistema
socialista, a que faço parte, éramos ensinados já na primeira classe o
abecedário, a matemática e um conjunto de habilidades, como por exemplo, lançar
a semente à terra, fabricar tijolos, peneiras, panelas de barro, anzóis de
pesca, etc.
Estes alicerces foram destruídos pela ganância do
capitalismo e do “vil metal”. O socialismo foi mau em muitas coisas, mas
dotou o país de um ensino igualitário que “obrigava” o estudante a pensar e a
saber fazer.
Os currículos de ensino que o MINED oferece aos
moçambicanos só servem para “dar parto” a um número não quantificado de
Universidades, que para além de produzirem pouco, criam um exército de
diplomados desempregados.
Se continuar a surgir Universidades
como cogumelos em tempo chuvoso e muitas delas a funcionar em
instalações improvisadas, assistiremos a uma proliferação de diplomados
medíocres e clubes de aprendizes de professor, incapazes de reflectir sobre os
problemas do país.
Se queremos Universidades modernas e progressistas
temos que apostar na qualidade do ensino. Não o fazer, será equivalente a
continuar a desperdiçar, desbaratar ou desvalorizar capitais.
Tatenda (Obrigado)
In O Autarca - 27.08.2013
Sem comentários:
Enviar um comentário