quinta-feira, agosto 29, 2013

AEU vs sua representatividade

Por Amos Fernando

Nos últimos tempos tenho acompanhado com muita preocupação e dor, o funcionamento da Associação dos Estudantes da Universidade Eduardo Mondlane, conhecida por AEU, onde por imperativos académicos sou membro, mesmo sem o quiser ser.


Explico porquê? É que o estatuto da AEU obriga a todo o estudante que ingressa na universidade a ser membro, mesmo sem o seu consentimento.

Pelo modus operandi da AEU, logo que o estudante se inscreve na UEM passa logo a pagar quotas, o que faz desta se calhar a melhor associação em Moçambique, com quotas pagas em 100 por cento. Sobre isto vou falar mais adiante.

Na verdade, a minha preocupação começou logo que entrei nesta universidade há quatro anos, e desde muito cedo tento perceber como é que esta associação funciona. O facto é que de representatividade como tal, na minha opinião não existe, senão aquilo que chamaria de uma aldrabice formalizada ou mesmo uma roubalheira sob o olhar passivo da própria universidade.

Nos últimos três ou quatro anos aconteceram coisas muito preocupantes, a começar, em 2010, foram realizadas eleições, para a presidência da AEU, invalidadas por causa de uma fraude alegadamente preparada pelo elenco que outrora estava no poder, na tentativa de se perpetuar no poder, directa ou indirectamente, mas graças à vigilância dos estudantes, a manobra acabou mal, o que resultou na destituição imediata do mesmo.

Em 2011, (Julho), novas eleições, ganhas pelo actual presidente da AEU, Ayrton Cassamo, cujo mandato já deveria ter findado, mas que ninguém até aqui foi informado das razões deste ainda estar a usar a capa de representante dos estudantes da UEM.

Vários são os comentários levantados pelos estudantes em torno do mandato do actual elenco da AEU, com os mais críticos a considerá-lo de um grupo de gente de má-fé, que nada fez em defesa dos estudantes, senão ter passado a vida viajando pela África do Sul, entre outros pontos. Sublinhe-se não todos, mas o grosso dos elementos deste elenco, deixou muito a desejar.

O que mais preocupa os estudantes da UEM, é o facto de a AEU ter-se tornado inexistente na vida dos mesmos na universidade, mas estes continuam a pagar quotas. Olhando nesta perspectiva me arrisco a dizer que estamos perante uma AEU sem representatividade, logo sem legitimidade.

Eleições vs representatividade

Facto curioso, e mais preocupante é que poucos são os estudantes da Universidade Eduardo Mondlane com conhecimento sobre a existência da tal AEU. O mais caricato ainda é que pelo menos nos últimos anos, nas conversas que tive com os mais antigos estudantes da universidade, não se sabe quando é que um presidente da AEU teve mais de mil e quinhentos votos.

Mas o que sei é que o elenco do presidente Ayrton Cassamo, se a memória não me trai, não teve, no mínimo, 800 votos, ou seja, nem 800 estudantes votaram nele, para ser mais claro ainda, nem pelo menos duas residências universitárias da UEM votaram nele, mas este passou os últimos dois anos usando a capa de representante dos cerca de 32 mil estudantes da universidade.

Entretanto, o pior está por vir. Na última segunda-feira (26 de Agosto), foram realizadas outras eleições, onde estiveram a concorrer para a sucessão do Ayrton Cassamo, quatro candidatos, Shaila Marrengula, Nuno António, Fernando Júnior e Victor Macandza, pelas listas A, B, C e D, respectivamente.

No dia da votação, fiz uma pequena ronda, para verificar de perto o processo de votação, mas o que constatei é doloroso. Na mesa da ECA por exemplo, por volta das 15 horas, os dados que tive acesso davam conta que somente 46 pessoas tinham votado, pela mesa da residência Nº 8, na Av. Karl Marx, já por volta das 17.00 horas, numa conversa com um dos delegados das listas, sem precisar dos números disse-me que tinham votado poucas pessoas, o mesmo na mesa da R4.

No entanto, no final da votação e contados os votos, a Comissão de Eleições da AEU anunciou Nuno António, candidato da lista B como vencedor, com um total de 740 votos, apesar dos vários protestos que estão a ser apresentados pelas restantes listas, alegadamente porque Nuno terá sido surpreendido a fazer campanha na hora da votação e até mesmo a subornar eleitores a votarem nele, segundo testemunham imagens de um câmara amador apresentadas terça-feira (27.08), pela Televisão Independente de Moçambique (TIM).

O número de votos que Nuno António acumulou, em termos de representatividade na universidade é tão insignificante para um universo de pouco mais de 32 mil estudantes, que este irá representar. E mais, para elucidar isto, estamos a dizer que nem o número de bolseiros da UEM ele conseguiu ultrapassar, que no ano passado rondava entre 1.000 e 1.200, se não me engano. Com estes números de votos que Nuno António conseguiu ganhar, não vejo diferença com a eleição do presidente do núcleo de uma faculdade.

Agora a questão que se coloca é: Será que a UEM vai autorizar ou legitimar a tomada de posse do Nuno, como representante dos estudantes, uma vez ele não representar pelo menos 10 por cento dos estudantes da universidade?

A mesma questão a colocaria, mesmo se tivesse ganho qualquer outro candidato, porque o que mais me preocupa é continuar-se a chamar AEU como órgão soberano, cujo objectivo é representar os estudantes da UEM, enquanto apenas representa um punhado de estudantes.

Acredito eu que é tempo da universidade, no seu mais alto nível, tentar entender o que está acontecer, e tentar claro recuperar o nome da AEU, e consequentemente da mesma UEM, uma vez que ela só existe porque há estudantes. E mais: é tempo dos próprios estudantes exigirem a revisão dos estatutos da AEU, para que passe a ser obrigatório que o presidente da AEU consiga, no mínimo, 50 por cento dos votos. Porque não se pode continuar a chamar Associação dos Estudantes nestes moldes.

Tenho ainda a lamentar, que esta mesma AEU tem vindo a marginalizar os estudantes em todos os níveis, a partir do momento em que só sabe cobrar quotas, mas prestar contas que é bom, não, entre outras irregularidades.

Magnífico Reitor, Prof. Doutor Orlando Quilambo, em nome dos pouco mais de 32 mil estudantes desta universidade, e em nome da boa imagem da UEM, solicito-lhe encarecidamente que tome algum posicionamento, sobre este cenário, porque como sabeis a última palavra nesta universidade é sua. E nós estudantes, não podemos continuar a nos enganar. (Amós Fernando)

Fonte: Jornal Notícias – 31.08.2013

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