Somos um País óptimo. Isto vai dando para tudo.
Apesar de prever um crescimento anual da economia moçambicana na ordem dos 6% ao longo dos próximos cinco anos, ultrapassando o dos países vizinhos, e de considerar que o sector bancário em expansão irá apoiar esse crescimento através dos mercados de crédito emergentes – mais um dos eternos paliativos para conter as nossas justificadas inquietações – um estudo divulgado há dias pela «Companies & Markets», de Inglaterra, salienta que “Moçambique continua a sofrer de um fraco ambiente de negócios” e que “embora tenha registado avanços em termos de democratização desde o fim da guerra civil, o sistema democrático permanece fraco”. Nós acrescentaríamos: EM RISCO.
E acrescentaríamos isso, porque na sua parte mais sensata e clarividente, o estudo faz ainda notar que há “aumento dos níveis de corrupção e de exclusão política” dos que “não apoiam o partido Frelimo”. Quem são afinal os corruptos para os autores do estudo?
Não concluem. Mas consideram que a corrupção continuará a constituir um desafio significativo que tornará mais difíceis as tarefas para se combater a pobreza e as desigualdades de rendimento.
Refere, contudo, que tudo isto se deve a uma oposição fraca a opor-se a um poder da Frelimo que actua cada vez com maior impunidade. Não diz de onde vem o fôlego dos corruptos, mas o que vale é que o sentido de cidadania crescente vai encarregando-se de esclarecer. Nas ruas os cidadãos conversam sobre o tema e percebe-se que os prevaricadores já foram tipificados e identificados e vão-se conhecendo cada vez melhor as suas cumplicidades com os “donos” do regime.
O que o estudo britânico não diz é que os doadores e financiadores que avançam com as constatações optimistas sobre Moçambique não tardarão a serem considerados pelos moçambicanos excluídos como um dos principais factores de desestabilização do clima político interno do País, quando todos se convencerem que os aliados de quem nos está a afundar são precisamente os que financiam a sobrevivência deste regime de corruptos em que vivemos hoje.
Temos um governo que diz combater a corrupção, mas na casa onde a soberania nacional assume a sua expressão mais simbólica – a Ponta Vermelha – a Residência Oficial do Chefe de Estado – esse mesmo governo recebe, com pompa e circunstância, cidadãos de conduta duvidosa, desde um condenado a vinte anos de cadeia ainda a não cumprir pena mediante alegação dela ainda não ter transitado em julgado, a “barões” de toda a espécie. É como dizer fartai vilanagem. É como dizer: roubem e trafiquem à vontade, nós estamos aqui para vos proteger.
Temos um governo que pretende fazer crer que combate a corrupção, mas continua a dar evidências aos juízes e outros magistrados do que pode ser o seu futuro se se desviarem da “linha da ordem”. Ameaça velada.
Temos um governo que diz combater a corrupção, mas que fruto da exclusão de quem pretende contribuir para um País de gente séria que continue a orgulhar-nos com os seus hábitos e costumes, continua a humilhar-nos com os maus exemplos que proporciona aos seus concidadãos.
Temos um governo que diz combater a corrupção, mas já ninguém duvida que é, simultaneamente, jogador e árbitro.
É este estado de coisas que a dita comunidade internacional quer continuar a apoiar? Com que tipo de moçambicanos é que a comunidade internacional quer estar? De que lado?
Será que os moçambicanos todos vão aturar muito mais tempo estas brincadeiras todas sem que a paciência se esgote?
Será que esta coisa das autoridades já não conseguirem manter a ordem nos mercados, já não conseguirem evitar a corrupção dos agentes da polícia de trânsito, já não conseguirem evitar a corrupção dos agentes da polícia municipal em Maputo, não é o princípio de uma desordem que nem mil exércitos conseguirão conter?
De que valerão os discursos e os gestos de apoio à Sociedade Civil se a máfia local já criou a sua própria “Sociedade Civil” para sugar os fundos que vão estando disponíveis para alegadamente a fortalecer?
Estamos de facto encurralados se a própria comunidade internacional não abandonar rapidamente a sua tendência nata para a cegueira.
Será muito difícil verem que o próprio partido no poder incumbiu as suas elites de criar organizações para chuparem a ajuda supostamente destinada a uma real sociedade civil?
Ou será que a dita comunidade internacional também já está tomada pelo crime organizado e bem metida no jogo sujo, como os mais impacientes já comentam?
É demasiada apatia para podermos acreditar que se trate de ingenuidade. Tal como o governo confunde os cidadãos, com os seus maus exemplos, a comunidade internacional tem de ser mais explícita nas suas opções para que não seja confundida. “A mulher de César não basta ser séria, precisa parecer”.
A hipocrisia não passa despercebida eternamente.
Já nas ruas se fala disso.
Se as medidas para inverter esta tendência não forem consequentes, pode não tardar que as coisas se tornem irreversíveis como na Somália e outros casos em que de um dia para o outro o que parecia óptimo se tornou um martírio. Essas coisas acontecem quando menos se espera.
Estamos cansados de falar deste risco a que em tempos idos no Brasil se chegou a chamar qualquer coisa como “Risco Brasil”.
Fonte:CanalMoz - 09.07.2010
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