Segundo informações avançadas pelo jornal O País, a arma usada no assassinato de Valentina Guebuza está em situação ilegal e terá sido trazida da África do Sul pelo marido da vítima, Zófimo Muiuane. Nas buscas feitas à residência do casal terão sido também encontrados dois carregadores, avança a publicação.
"A primeira indicação que temos é de um caso autêntico de violência doméstica, que acabou desembocando, infelizmente, na morte da cidadã Valentina Guebuza", disse o porta-voz do Comando-Geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), Inácio Dina, à emissora pública Rádio Moçambique.
Segundo Inácio Dina, Valentina Guebuza foi baleada em casa na noite de quarta-feira, em Maputo, com recurso a uma pistola. Foi levada ainda com vida para o Instituto do Coração de Maputo (ICOR), mas não resistiu aos ferimentos.
Depois da notícia que está a chocar o país, terão surgido também informações de que o alegado assassino, Zófimo Muiuane, terá cometido suicídio na prisão, algo que foi desmentido pelas autoridades, que confirmam que o suspeito se encontra detido nas instalações da PRM.
A Folha de Maputo refere a publicação de um texto nas redes sociais, no início desta semana, que apontava desentendimentos graves entre o casal e que, segundo o mesmo jornal, poderá estar relacionado com o crime.
A bancada parlamentar da Frelimo, partido no poder em Moçambique e do qual Armando Guebuza é membro histórico e foi presidente durante dez anos, endereçou hoje condolências pela morte de Valentina Guebuza, que também pertencia àquela força política.
"Para a Frelimo, esta morte revela uma clara manifestação de violência doméstica. A Frelimo repudia qualquer tipo de violência contra as mulheres", disse Margarida Talapa, chefe da bancada parlamentar da Frelimo.
De empresária e poderosa a vítima de “maldição presidencial”
A filha mais nova do ex-chefe de Estado, com 36 anos, dirigia a ‘holding' familiar Focus 21 Management & Development, com interesses na banca, telecomunicações, pescas, transportes, mineração e imobiliário.
A revista Forbes colocou-a em 2013 no sétimo lugar das vinte jovens mais poderosas de África, numa lista liderada pela angolana Isabel dos Santos, igualmente filha de um chefe de Estado.
Em Abril de 2014, os negócios de Valentina Guebuza estiveram sob polémica, ao receber a adjudicação directa da operação de passagem do sinal analógico para digital de televisão e rádio, avaliada em 150 milhões de dólares.
O acordo de concessão foi entregue à Startimes Software Tecnology, empresa da China que detinha 85% da Startimes Mozambique, da qual Valentina Guebuza era presidente.
A Focus 21 detinha igualmente interesses no terminal de cereais do porto da Beira (Beira Grain Terminal), juntando-se a várias empresas, incluindo os Caminhos de Ferro de Moçambique.
Num trabalho publicado pela Forbes em 2012, Valentina Guebuza descrevia uma infância humilde e que chegou a trabalhar num restaurante e como secretária, enquanto estudava Engenharia Civil na África do Sul.
A revista retratava-a como a "princesa milionária", que construiu a sua carreira empresarial durante os mandatos presidenciais do pai, levando o Centro de Integridade Pública, organização moçambicana da sociedade civil, a pedir ao Ministério Público a investigar o súbito enriquecimento de Valentina Guebuza, o que nunca terá acontecido.
A filha do antigo Presidente envolveu-se ainda na política, ao ser eleita para o Comité Central da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), no congresso realizado na cidade de Pemba em 2012, e mantinha um lugar no órgão mais importante do partido no poder entre congressos.
A empresária casou-se a 26 de Julho de 2014 com Zófimo Muiuane, chefe do departamento de marketing da operadora de telecomunicações Mcel, numa cerimónia religiosa na Igreja Presbiteriana de Chamanculo, nos arredores de Maputo, perante centenas de convidados, e ambos tiveram um filho.
Mais uma polémica morte de familiares de chefes de Estado moçambicanos
A carreira de Valentina Guebuza foi interrompida por um homicídio com contornos de violência doméstica e que se junta a um rol de casos envolvendo familiares de antigos estadistas.
Josina Machel, filha do primeiro Presidente da República, Samora Machel, ficou cega de um olho no final de 2015 num caso igualmente atribuído a violência praticada pelo seu companheiro.
Em 2007, o filho mais velho do ex-Presidente Joaquim Chissano foi associado ao assassínio do jornalista Carlos Cardoso, ocorrido sete anos antes.
Durante o julgamento, vários arguidos ligados à morte do jornalista apontaram o envolvimento no caso de Nympine Chissano, dando origem a um processo autónomo, que não chegou ao fim, devido à sua morte, aos 37 anos.
Fonte: SAPO com Lusa - 15.12.2016
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