A propósito das
ameaças de morte
Carta Aberta a Sua Excia Jacinto Nyussi, Presidente da
República
Excia,
Na sequência das notícias que têm sido veiculadas
pelos Órgãos de Comunicação Social, com destaque para o Diário da Zambézia, STV
e TVM, indicando a ocorrência de mortes ou ameaças de morte na nossa cidade e
quiçá província, vimos por este meio rogar a V. Excia para que no uso das
competências que lhe são atribuídas pela Constituição da República e
reconhecendo a separação de poderes, envide esforços no sentido de mandar
averiguar a situação, no intuito de travar a proliferação destas ações que
contrastam com os princípios de um Estado de Direito Democrático, conforme
estatuído na nossa Lei Mae, a Constituição da Republica!
Excia, há escassos dias recebemos através dos órgãos
de informação social a triste noticia segundo a qual um grupo de indivíduos tem
ameaçado de morte ao Jornalista do Diário da Zambézia, Senhor António Zefanias.
Em meu nome pessoal, manifesto a minha solidariedade não só aquele jornalista,
mas a todos concidadãos nossos que tem sido vitimas destas acções! Condeno
veementemente estes actos macabros, levados a cabo pelos inimigos da nossa
Constituição da República, inimigos da liberdade de expressão, violando
flagrantemente inter alia, o preceituado nos Artigos 38, 40 e 48 da
Constituição da República de Moçambique.
Excia, o Artigo 30 da nossa Lei Mãe, reza que: 1.“Todos os cidadãos tem o dever de respeitar a Ordem Constitucional.” 2.Os actos contrários ao estabelecido na Constituição são sujeitos a sanção nos termos da lei” Por sua vez, o Artigo 40 preconiza que: “ 1-Todo o cidadão tem direito à vida, à integridade física e moral, e não pode ser sujeito à tortura ou tratamentos cruéis ou desumanos; 2- Na República de Moçambique não há pena de morte”. E por sua vez o Artigo 48.1, inserido no Capitulo II da Constituição da República de Moçambique, determina que “Todos os cidadãos têm direito à liberdade de expressão, à liberdade de imprensa, bem como o direito à informação”.
O jornalista António Zefanias e colegas de profissão, sob protecção da Constituição da República de Moçambique, tem vindo a exercer suas actividades. E verdade que nem tudo o que o Diário da Zambézia ou outros órgãos de informação escrevem ou divulgam e ou pode ser do nosso agrado, ou das instituições estatais, mas não podemos permitir que se cultive o ódio e a vingança por mãos próprias, apenas porque discordamos dos pontos de vista dos jornalistas ou de quem quer que seja!
Ao Estado recai o ônus do monopólio do uso da forca
dentro da Lei e a promoção da justiça, e cabe aos seus agentes impor a Lei e a
Ordem e sobretudo fazer valer a Lei Mãe, a nossa Constituição da República. Há
sensivelmente dois meses, soubemos através dos órgãos de informação que a Chefe
da Bancada da Renamo foi vítima de uma ameaça a sua vida na cidade de
Quelimane!
Há menos de um mês, concretamente no dia 27 de
Setembro 2016, a membro da Assembleia Municipal, Nilza Gomes, por sinal da
bancada do Partido Frelimo, ameaçou publicamente (em sede da Sessão da
Assembleia Municipal) ao Edil desta cidade de morte. O Presidente da Assembleia
Provincial denunciou há cerca de um mês de ter sido vítima de um assalto a sua
residência!
E agora através dos órgãos de informação somos
informados de que o Director do Diário da Zambézia sofreu ameaças de morte!
Começa a ser ensurdecedor o silencio das autoridades competentes! Isto para não
mencionar os assassinatos de cidadãos pelos esquadrões da morte em Quelimane,
Nicoadala, Mocuba (Mugeba), Gurué, entre outros locais.
Excia, A nossa Constituição é clara!
Nãohá pena de morte na República de Moçambique! Ou
seja nem ao Estado se permite o direito de retirar a vida aos seus cidadãos!
A pergunta que não se cala Excia, e simples: Quem são
estes cidadãos que se sobrepõem a Autoridade do Estado e a Constituição da
República com impunidade? O que o Estado estará a fazer para impor a Lei, a
Ordem e a Tranquilidade Pública? A impunidade gera e alimenta a violência e o
ódio! Excia, a cidade de Quelimane, capital desta província e uma cidade
pacata, mas de pessoas nobres e amantes da paz! Por isso pedimos à V.Excia,
entanto que Mais Alto Magistrado da Nação para que no uso dos poderes que lhe
são conferidos pela Constituição da República, faça respeitar a mesma, nesta
parcela do País e crie uma Comissão de Inquérito com vista a esclarecer as
denuncias feitas por cidadãos pacatos sobre estes actos macabros.
Não podemos continuar a assistir impávida e
serenamente a morte de concidadãos nossos ou a proliferação da cultura de
ameaças a morte por parte de pessoas singulares e ou ligados ao aparto
securocrata, ante o silencio ensurdecedor das entidades constitucionalmente
competentes. Muitos concidadãos nossos têm sido assassinados pelos chamados
“esquadrões de morte” e pela violência armada em vários pontos da nossa
província e do nosso pais (Nicoadala, Quelimane, Gurué, Mocuba, Morrumbala,
Mopeia), conduzindo precocemente a viuvez e a orfandade de muitas mulheres e
muitas crianças.
Este acto é abominável aos olhos de Deus, e tenha a
certeza Excia, que o ódio que isso deixa levará a vinganças intermináveis,
porque aqueles cujos parentes são barbaramente mortos vingar-se-ão, cedo ou
tarde.
Urge fazer calar as armas! Urge fazer parar a violência! Urge promover a Paz, a Concordia e a Unidade Nacional!
Temos um sonho simples: ajudar a fazer crescer a nossa
terra, Moçambique! Diminuir o sofrimento do nosso povo ostracisado!
Contribuir para o bem-estar dos nossos pais e mães,
irmãos e irmãs!
Excia,
Reconhecemos que somos pequenos, ate mesmo insignificantes, mas aos olhos de Deus, o Criador e da nossa Constituição, apesar da nossa pequenez, nossas vidas deveriam merecer o mesmo respeito!
Porque somos todos emigrantes neste planeta, como bem
o disse o Santo Padre, despedimo-nos na esperança de não o termos ofendido, mas
expressado o nosso sentimento, como reza a nossa Lei Mãe – A Constituição da
República!
E Mais Não Disse,
Quelimane, 30 de Novembro de 2016
Manuel de Araújo, Cidadão Simples
DIÁRIO DA ZAMBÉZIA – 01.12.2016
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