O Governo moçambicano reafirmou ontem que o megaprograma agrícola ProSavana "é prioritário" como forma de converter agricultura de subsistência em produção de mercado, e que pretende aumentar a cooperação com o Japão, um dos parceiros do projecto.
"O Governo considera este projecto importante e prioritário na agenda de cooperação com o Japão, pelo impacto que vai ter na modernização e desenvolvimento do sector agrícola", afirmou o ministro dos Transportes e Comunicações, Carlos Mesquita, que falava por ocasião da celebração do aniversário do imperador do Japão, Akihito, ontem assinalado na embaixada nipónica em Maputo.
Segundo Mesquita, o ProSavana tem como objectivo "contribuir para melhorar a segurança alimentar e aumentar a renda dos camponeses e introduzir novas tecnologias que permitam a transição de produtores de subsistência para produtores de mercado nacional e internacional".
Marcado pela controvérsia desde o seu nascimento, o ProSavana foi concebido pelos governos de Moçambique, Brasil e Japão e tem gerado receios de usurpação de terras das comunidades residentes na área do programa e motivado protestos dos habitantes do corredor de Nacala e de várias organizações não-governamentais, que questionaram o sucesso de uma experiência similar no Brasil.
O ministro dos Transportes e Comunicações apontou o corredor de Nacala como "o principal enfoque" das relações de cooperação entre os dois países, ao abrigo de um entendimento celebrado em 2014, "com vista a imprimir uma maior dinâmica económica a essa região, bem como promover o bem-estar das populações que nela vivem".
O governante referiu a reabilitação e ampliação do porto de Nacala, e o melhoramento e construção e novas estradas entre Nampula e Linchinga, além do aumento do transporte de energias eléctrica na região.
Por outro lado, pediu o empenho do Governo de Tóquio na aceleração das decisões finais de investimento em relação aos projectos de gás natural na bacia do Rovuma, no norte de Moçambique, onde a japonesa Mitsui participa na Área 1, numa concessão liderada pela norte-americana Anadarko.
"Gostaria de ver engajado o Japão, para que se chegue à decisão final de investimento na bacia do Rovuma, factor que irá contribuir para o incremento das trocas comerciais entre os dois países e potenciar o desenvolvimento de Moçambique", declarou.
Na Terça-feira, o Governo moçambicano aprovou uma série de instrumentos jurídicos para acelerar a produção de gás natural na bacia do Rovuma, onde se estima existir um dos maiores depósitos do mundo, mas ainda sem decisões finais de investimento dos dois consórcios, liderados pela Anadarko e pela italiana ENI.
O sector da energia foi destacado pelo embaixador japonês como uma das áreas em que as relações bilaterais "têm progredido consistentemente", dando os exemplos de unidades de processamento de electricidade em Nampula e Maputo, além de programas de saúde e educação e formação de quadros.
Akira Mizutani mencionou também a crise política e militar em Moçambique e o escândalo das dívidas de empresas estatais escondidas das contas públicas.
"Há uma satisfação em que a vontade de mudar Moçambique começa a caminhar na direcção certa, através dos esforços dos mediadores internacionais e do início da auditoria independente internacional", declarou o diplomata, em alusão às negociações de paz em curso e à contratação de um auditor externo para avaliar o real impacto dos empréstimos ocultos, que fizeram disparar a dívida pública.
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, reuniu-se em Agosto com o Primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, em Nairobi, à margem da Conferência Internacional de Tóquio para o Desenvolvimento de África (Ticad).
Nyusi e Abe partilharam a intenção de se aprofundar as relações entre os dois países, quando o Japão já é um dos principais parceiros internacionais de Moçambique.
Fonte: SAPO – 08.12.2016
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