" Estamos
orgulhosos…faríamos de novo
Guebuza diz que fez
o que devia ter feito nas dívidas ocultas e pronto
O antigo Presidente
da República, Armando Guebuza, não mostrou qualquer tipo de remorso em relação
ao processo de contratação de dívidas na ordem de 2.2 biliões de dólares
americanos para três empresas, todas ligadas à estrutura do poder securitário
nacional, mais concretamente o Serviço de Informação e Segurança do Estado
(SISE) e as Forças de Defesa e Segurança.
Armando Guebuza não
admite qualquer erro (de forma concreta) em todo o processo de contratação das
“dívidas ocultas”, que obrigaram o Fundo Monetário Internacional (FMI) e outros
parceiros bilaterais e multilaterais a romperem cooperação com a República de
Moçambique.
Falando no dia 28
de Novembro último, na Comissão Parlamentar de Inquérito para Averiguar a
Situação da Dívida Pública, o antigo Presidente da República justificou todo o
secretismo que envolve o processo da contratação das dívidas a questões “estratégico-militares”,
particularmente tendo em conta a diversa “informação classificada” que estava
em poder do SISE.
“A idealização,
concepção e contratação dos empréstimos visando adquirir meios destinados a
operacionalizar o objectivo pretendido foi feita de forma sigilosa em função
de informação classificada na posse das FDS, sobretudo, os Serviços de
Informação e Segurança do Estado” – justificou Armando Guebuza diante de
deputados que fazem parte da comissão de inquérito, cuja composição é dez para
a Frelimo e um único para o MDM.
Mas antes mesmo de
iniciar a responder as oito questões atempadamente enviadas, Armando Guebuza
decidiu dar aulas de sapiência sobre o seu trajecto na luta de libertação
nacional, desde o primeiro dia que “abandonou” a família para se juntar à
Frelimo na epopeia libertária. A estratégia foi interpretada como de ameaça,
tudo na perspectiva de evitar que os deputados colocassem questões de
insistência em relação ao nível de responsabilidade de Armando Guebuza na
contratação das dívidas.
“Muito novo
abandonei a família para me juntar à Frelimo em Dar-Es-Salaam. A caminho fui
preso, devolvido ao país e enviado à cadeia a mando da temível PIDE. Depois de
sair, de novo fugi, para me juntar à Frelimo, para combater e libertar a pátria.
É pela pátria e com o mesmo sentido de pátria que hoje vivo”- explicou Guebuza,
no início da audição.
Ainda antes de
iniciar a responder às perguntas, Guebuza continuou passeando a sua classe
deixando claro que ele e todo o governo por si chefiado estavam orgulhosos pelo
desempenho dos 10 anos de governação e toda a acção foi desenvolvida
respeitando o juramento feito na tomada de posse de 2005 e depois em 2010.“Na
verdade, constitui motivo de orgulho para mim e para os meus colegas do
governo, o trabalho realizado nos dois mandatos presidenciais” - fez questão de
frisar, o antigo Presidente da República, figura que tem estado no centro da
crítica pública, tendo em conta os efeitos perversos das dívidas ocultas. Já no
rol das respostas, Armando Guebuza buscou maior parte das justificações no
alegado cumprimento escrupuloso da Constituição da República e demais leis
nacionais e sempre na perspectiva de assegurar paz, estabilidade e defesa da
soberania e integridade nacionais. De forma reiterada justificou a contratação
das acultadas dívidas à necessidade de assegurar capacidade de combate à
pirataria marítima e as acções da Renamo. A questão do secretismo na
contratação das dívidas foi justificado pela suposta necessidade de proteger
questões de “segurança e estratégia militar”, tendo em conta “informação
classificada” que tinha sido disponibilizada pelo SISE.
De resto, as
respostas concretas às perguntas feitas não fugiram, nem tão pouco, do tipo de
respostas que o actual governo de Moçambique já tinha disponibilizado
publicamente, incluindo diante de doadores internacionais. No rol das
respostas, Guebuza disse que não tinha qualquer dúvida de ter agido conforme as
leis e tendo em conta a necessidade de defesa dos superiores interesses da
nação moçambicana, pelo que entende que a ser confrontado com as mesmas
circunstâncias, pudesse voltar a tomar exactamente as mesmas medidas.
“Qualquer governo
responsável, nessas condições, acredito que agiria como nós o fizemos, e, se
tivéssemos que estar nas mesmas condições e para tomar as mesmas decisões,
considerando o circunstancialismo descrito naquele momento, nós faríamos
justamente da mesma maneira hoje, em defesa da pátria amada e do maravilhoso
povo moçambicano” - disse Guebuza, convicto de que tomou as melhores decisões
que tinha que tomar, apesar de as dívidas estarem a influenciar de forma
excessivamente negativa o curso da economia nacional, que se caracteriza pelo
aumento do custo dos factores de produção, aumento exponencial de produtos e
serviços e, por consequência, a redução do poder de compra das populações,
especialmente as mais carenciadas. "
Fonte: MEDIA FAX – 07.12.2016
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