Confiaram na razão que eles têm como se essa razão fosse um direito inviolável, esquecendo-se que estamos num país em que mesmo o direito mais sagrado – direito à vida – é violado a favor da minoria abastada.
Esqueceram-se que, infelizmente neste país, o pobre não tem direito, apenas tem deveres. E o dever dele é não reivindicar o seu direito.
A detenção, esta semana, do presidente do Fórum dos Desmobilizados de Guerra, Hermínio dos Santos, é uma surpresa para muitos. Para mim, mais do que uma surpresa, é a concretização do que se vinha revelando, que aconteceria nos primeiros anos após as eleições que conduziram a Frelimo e o seu candidato à vitória esmagadora sobre a oposição.
Primeiro, foram os preços de combustíveis que foram libertados sem olhar para as consequências sociais, depois de longo tempo de congelamento para que não tivesse qualquer interferência no processo eleitoral, sobretudo nos resultados que a Frelimo esperava alcançar. Hoje, tudo subiu exponencialmente. Os 10, 15 e 20% do reajustamento do salário mínimo foram reduzidos aos números negativos pela inflação.
Segundo, depois das referidas eleições em que a Frelimo reduziu a oposição à insignificância, com a ajuda expressa e incondicional dos desmobilizados, a hora é de fazer demonstração de forças para quem quer que seja, que ameaçar com manifestação que possa criar uma instabilidade. O Governo, prevendo levantamentos populares, decidiu reforçar as forças policiais para esse efeito. No entanto, distraiu-se de preparar a corporação para travar o crime violento, achando que não seria fonte de instabilidade.
Os desmobilizados, sobretudo o seu presidente, Hermínio dos Santos, cometeram erros de palmatória ao escolher um momento inoportuno para reivindicar o aumento dos seus magrinhos subsídios. Igualmente, cometeram o pecado mortal por não terem feito uma leitura apocalíptica do que seria o resultado do seu apoio expresso à Frelimo, para a consecução da maioria absoluta e qualificada no parlamento. Hoje, vão ter de pagar pelas opções que eles mesmos tomaram.
Confiaram na razão que eles têm como se essa razão fosse um direito inviolável, esquecendo-se que estamos num país em que mesmo o direito mais sagrado – direito à vida – é violado a favor da minoria abastada. Esqueceram-se que, infelizmente neste país, o pobre não tem direito, apenas tem deveres. E o dever dele é não reivindicar o seu direito.
Para esta situação, há duas saídas para os desmobilizados: calarem-se, consentindo a dura e cruel realidade que vivem ou partirem para uma manifestação condizente com a crueldade a que estão sujeitos, desafiando as consequências que dela podem advir. Não é o que eu espero, mas também não posso descartar essa hipótese em função do que está a acontecer.
Dizia um pensador que “os governantes devem ter em consciência que uma das maiores subtilezas da arte de governar é nunca levar o povo ao desespero”. Um povo desesperado é igual a um militar levado ao desespero por um inimigo. É perigoso.
Fiquei chocado quando, no programa Balanço Geral de ontem, da Rede Record, apresentado por Ernesto Martinho, vi a esposa de Hermínio dos Santos, uma mulher desgastada pela vida e deficiente visual, a chorar como se de uma criança se tratasse, de raiva e desespero de lhe terem detido o seu marido e de nada ter para alimentar a si e aos seus filhos. Igualmente, fiquei sentido e sensibilizado ao ver um desmobilizado – esfarrapado e desgastado pelas condições nas quais vive – a emocionar-se pela detenção do seu presidente. De tudo quanto falou, retive o seguinte: “estou disposto também a estar onde se encontra o meu presidente por reivindicar o que nos pertence”. Senti que, infelizmente, ele ainda não sabe que, neste país, a desobediência é direito do Estado, a ele deve a obediência.
Barack Obama disse algo que tem de estar na mente de qualquer moçambicano: “E mesmo quando estiverem em dificuldades, mesmo quando se sentirem desencorajados e vos parecer que as outras pessoas vos abandonaram – nunca desistam de vocês mesmos. Quando desistirem de vocês mesmos é do vosso país que estão a desistir. A história da América não é a história dos que desistiram quando as coisas se tornaram difíceis. É a das pessoas que continuaram, que insistiram, que se esforçaram mais, que amavam demasiado o seu país para não darem o seu melhor. A vossa vida actual não vai determinar forçosamente aquilo que vão ser no futuro. Ninguém escreve o vosso destino por vocês”.
Fonte: O País online - 13.08.2010
9 comentários:
Mabunda Selecionado.
Há gente que escreve! Parabéns Ma...bunda.
Zicomo
Mano Xingondo,
Nao pode brincar assim, ele escreve bem, so esta trabalhar no sitio errado.
Deixa-la ele vir pra Seleccao.
Heheheheheh, voce Karim nao me arranja problemas pa, heheheheh, epa estou a rir mesmo. RISOS
Zicomo
Ena pá, essa selecção quem será o guarda-redes?
não esquecer dum bom defesa central-"beque", que "parta" pernas antes da entrada da grand area!
Tipo Mabjaia! "Vrumussa" e "vuna" bem, or tipo "Heitinga"!
Fungulamasso
Um artigo excelente este. Aliás, este é um dos artigos em que Lázaro Mabunda alerta para que compatriotas deixem do comodismo, deixem de serem enganados. Os desmobilizados de guerra e em particular o seu presidente aperceberam-se tarde ou só agora que não deviam ter contribuído para uma vitória ditatorial (esmagadora). Eis o que Mabunda escreve: " Os desmobilizados, sobretudo o seu presidente, Hermínio dos Santos,...cometeram o pecado mortal por não terem feito uma leitura apocalíptica do que seria o resultado do seu apoio expresso à Frelimo, para a consecução da maioria absoluta e qualificada no parlamento. Hoje, vão ter de pagar pelas opções que eles mesmos tomaram." fim de citacão
Os melhores analistas, mesmo que frelimistas, já sabiam do perigo dos algozes em caso de uma vitória esmagadora da Frelimo capturada por LAMBEBOTAS E CRIMINOSOS. Há opiniões abertas de alguns que manifestam que a Frelimo devia ir para a oposição e talvez assim se purificaria dos oportunistas, lambebotas que lá pululam.
Hermínio dos Santos deve ter aprendido que tinha feito maus cálculos. Esta é lição para todos os moçambicanos. Temos que acordar e lutar arduamente onde quer que estejamos. Acabemos com conformismo, fazendo diferença. Entendo-o assim.
Reflectindo,
Por isso o selecionei.
Mas acrescentar aos ditos "melhores analistas mesmo que frelimistas",
A frelimo nao vai 'a oposicao, a frelimo ACABA aqui, e com ela toda a historia negativa de Mocambique,
O Samora Machel sera sempre o Primeiro Presidente de Mocambique parcialmente independente, e heroi.
Os Jovens vao continuar a te-lo como fonte de inspiracao por aquilo que ele quiz pelo seu Povo.
Mocambique Totalmente Independente 'e dos Jovens de Hoje.
Pois é Mabunda foi simplesmente convincente… Parabens…
Faz tempo que é seleccionado o Lázaro Abdul, só me quis decepcionar quando do trabalho de desfil do Carlos serra Júnior um protesto pacífico sobre desflorestamento em Moçambique e por que razão chamou-o de estar a defender agendas inconfessáveis! ah!... aí não gostei mesmo, não que ele escreva para me agradar, mas sentim um pouco de falta de inparcialidade na análise dele e o resultado está à vista hoje.
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