Beira
Os jornalistas flagraram uma operação de recrutamento de jovens só da Frelimo para preencherem vagas nas Assembleias de Voto que funcionarão nas próximas eleições
Os jornalistas Adriano Remedi e Miraldina Gabriel, ambos ao serviço da STV, do Grupo SOICO, foram detidos ontem na Beira, durante três horas consecutivas, na 11.ª Esquadra da Polícia da República de Moçambique (PRM) na capital da província em Sofala. Tudo começou quando, depois de uma denúncia, os referidos repórteres e ainda um terceiro jornalista, Francisco Raiva, interceptaram centenas de jovens do partido Frelimo num processo de selecção para preencherem os postos depresidentes de assembleias de voto nas próximas eleições.
A história começa com um anúncio, divulgado pelo STAE (Secretariado Técnico de Administração Eleitoral), de que iria decorrer um concurso público destinado a recrutar cerca de mil presidentes de assembleias de voto, na Beira, para assumirem essas funções nas próximas eleições. Até aqui a questão era pacífica e normal. Só que, entretanto, os jornalistas da STV foram alertados de que jovens previamente selecionados pela Organização da Juventude Moçambicana, organização d Partido Frelimo, estavam ao nível das células do seu partido nos bairros da Beira a serem recrutados, num processo ilegal e paralelo, para que fossem apenas jovens do partido Frelimo a preencherem as tais mil vagas que o STAE havia anunciado, de presidentes de mesas de voto.
Desconhece-se ao certo se essa operação de recrutamento paralelo estava de facto concertada com o STAE provincial, mas as suspeitas surgiram e os jornalistas fizeram-se ao local onde isso estava a suceder, alertados por uma denúncia.
Os jornalistas foram alertados, na base de que a operação era para apenas se recrutar jovens do Partido Frelimo para as presidências das assembleias de voto e essa operação decorria em conluio com autoridades das conservatórias.
Alertados os jornalistas da STV foram ao Comité da Frelimo ao nível da cidade da Beira, na Munhava, onde realmente encontraram centenas de jovens a serem submetidos à tal selecção “secreta”. Surpreendidos nessas manobras e cientes de que tinham sido detectados, os membros da OJM começaram por agredir o jornalista Francisco Raiva, que sofreu ameaças veladas entre elas de que lhe tirariam a câmara de filmar.
Outro colega de Raiva, Adriano Remedi, acabaria também por sofrer ameaças e sevícias. Acabaram por ser detidos pela Policia os jornalistas Adriano Remedi e Miraldina Gabriel.
A Policia colocou-se em defesa da manobra partidária tentando assim intimidar a Imprensa.
Os elementos da Frelimo enfurecidos acabaram por reter o carro da STV usando barricadas de blocos.
E posto isso chamaram a Polícia a fim de conseguirem sob ameaça das autoridades obrigar os jornalistas a afastarem-se do local sem registarem as provas visiuais da tentativa em curso de promoção do recrutamento de jovens só da Frelimo para preencherem as vagas nas assembleias de voto das próximas eleições, aparentemente para melhor “o Partido Frelimo poder promover a viciação de resultados”.
De acordo com fontes que falaram à Reportagem do diário digital Canalmoz e semanário Canal de Moçambique, a resistência dos membros da Frelimo a que fossem filmados derivou do facto de eles terem sido apanhados em contrapé e assim ter sido desmontado o seu plano com a chegada ao local da Imprensa.
“Haviam preparado todo o processo com prudência mas finalmente tinham aparecido jornalistas” da STV a flagrar a “manobra”.
“Eles começaram nas células dos bairros. Começaram com a selecção na base, núcleos, até aos secretários da OJM nos bairros. Assim a lista dos jovens para irem às assembleias de voto preencher as vagas do STAE saíam dos bairros. Estes compilavam as listas e encaminhavam-nas ao comité da cidade da Frelimo, na Munhava. O requisito era ter cartão vermelho do partido Frelimo”, contou-nos um dos jovens que falou à nossa Reportagem sob anonimato para não sofrer retaliações. A mesma informação foi-nos avançada por outros jovens em situações distintas.
A selecção visava o enquadramento de “jovens fiéis à Frelimo nas mesas de votação, por forma a garantirem a vitória da Frelimo na Beira”.
Na Beira as probabilidades da Frelimo recuperar o Município são bastante remotas e nessa ordem de ideias estão a tentar por todas as formas conseguirem chegar ao objectivo de vencer as autárquicas marcadas para 20 de Novembro.
“A Frelimo tratou de tudo de forma minuciosa. O STAE colocou o anúncio no Jornal local. Os funcionários públicos do cartório notarial foram arregimentados para estarem em funções naquela sede do partido”.
“Para a sede da Frelimo foram destacados funcionários da conservatória que lidam com a emissão de registos criminais. Funcionários da saúde que lidam com a emissão de atestados médicos foram igualmente arregimentados para desempenharem tarefas na sede da Frelimo para que tudo fosse assegurado”. Eis em resumo as denúncias de jovens que afinal de contas nada têm a ver com a Frelimo e foram quem deu o sinal de alerta à Imprensa por terem ficado desconfiados com o facto de funcionários de Estado estarem a trabalhar na sede do partido para tais efeitos.
Na selecção dos candidatos a presidentes da mesa de assembleias os funcionários pediam aos jovens compromissos de honra, contaram-nos alguns jovens.
“Todos os documentos requisitados pelo STAE estão a ser tratados na sede da Frelimo. Assim, os documentos serão entregues pelo partido ao STAE e passava-se tudo como se os candidatos tivessem submetido directamente as candidaturas ao STAE”, frisa uma das nossas fontes.
Alguns jovens denunciaram a prática que estava em curso, à Imprensa, porque para eles ficara claro por que razão a Frelimo afinal não quer a paridade nos órgãos eleitorais, como já haviam ouvido falar e é o que está em cima da mesa nas rondas do diálogo de surdos entre a Renamo e o Governo, dominado pela Frelimo.
“Querem garantir a fraude”, disse um desses jovens à nossa Reportagem.
O processo de selecção, pelo STAE, de candidatos a presidentes das mesas de voto começou anteontem e termina no próximo sábado. Só para Beira são necessárias mil pessoas.
A propósito do episódio denunciado à Imprensa na Beira, a nossa Reportagem procurou ouvir o secretário provincial da Frelimo em Sofala, Henriques Bongesse. Este disse-nos que o assunto é do Comité da Cidade da Frelimo e só a esses compete falar.
Tentámos telefonar para o secretário do Comité da sede da cidade. O número estava fora de serviço.
Francisco Manjate, director-adjunto de informação da STV e delegado na Beira, quando ouvido pelo Canalmoz para se poder pronunciar sobre o que sucedeu aos jornalistas da sua estação televisiva a ponto de terem sido detidos pela Policia, disse: “Estivemos na 11ª Esquadra da Polícia e os agentes não sabiam definir que tipo de crime impendia sobre os jornalistas, que acabaram sendo soltos. Lavrou-se um auto e o comandante comunicou-nos que os jornalistas poderão ser ou não chamados”, afirmou.
Manjate acabaria por denunciar à nossa Reportagem que “a PRM tentou reter as câmaras” aos jornalistas.
“Eu perguntei que lei obrigava a tal procedimento e não tendo encontrado resposta a PRM não insistiu”.
Refira-se que em Julho passado a PRM prendeu o jornalista free lancer, Edwin Hounnou, sobre a alegação de violação de segredo militar. Hounnou foi liberto cerca de uma semana depois sob termo de identidade. O processo nunca mais avançou. Na altura Edwin Hounnou foi apanhado a fotografar agentes da PRM, dentro do quartel da Policia, a serem transportados em autocarros da empresa ETRAGO semelhantes aos que estavam na altura a ser atacados por homens armados da Renamo em Muxúnguè, agindo em retaliação pelo ataque que forças especiais de Policia – FIR, tinham efectuado pouco tempo antes à sede civil da Renamo naquele posto administrativo do distrito de Chibabava, na Estrada Nacional N1.(Adelino Timóteo)
Fonte: CANALMOZ – 05.09.2013
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