Por Mouzinho de Albuquerque
Nesta coluna já
há tempos tive a ocasião de sugerir a conveniência de se tomarem medidas
contundentes contra os padres, particularmente locais ordenados, por
vilipendiarem a Igreja Católica.
Era um “grito” de
revolta contra comportamentos que considerava pouco dignos, que em nada
prestigiavam esta igreja, por parte de quem se diz “representante” de Deus, o
que podia estar a “diluir” a unidade dos cristãos e deles (padres).
Na altura
condenei e defendi a adopção de medidas severas contra esses padres, por parte
da diocese de Nampula, se bem que teria conhecimento sobre isso, para que a
Igreja Católica não continuasse a ser vilipendiada, injuriada e desrespeitada,
por aqueles (principalmente os padres locais ordenados) que tivessem por
obrigação e dever, dar exemplo de ética e comportamento irrepreensível no
cumprimento da sua missão sacerdotal, porque a oração para ser eficaz deve
estar em sintonia com a boa vontade e convicção religiosa deles e não ligados a
outras encenações vergonhosas, que não dignificavam a igreja e aos cristãos em
geral.
O que me parecia
não estar nos costumes da Igreja Católica era, como por exemplo, um padre
depois de orientar a missa duma paróquia, em que deixava claro que o cristão
não devia nunca voltar as costas à vida ou problemas da sua igreja, pois a sua
esperança está em Cristo, vá consumir, de forma abusiva, bebidas alcoólicas nas
barracas ou em casa para em seguida, com atitude menos digna, proferir palavras
obscenas perante familiares e outros crentes, como tenha vindo a assistir. Defendi
também que a memória cristã tinha que ser bem transmitida e de forma viva, com
dignidade e respeito, para ser escutada e percebida pelos crentes da Igreja
Católica e não só, para que se entenda, efectivamente, quanto custou a
liberdade religiosa neste país e, sobretudo, a ordenação dos padres locais. Dizia
na altura, que para tal, era necessário que se tomassem, medidas correctivas
contra os padres que proferiam ou orientavam missa embriagados, trocavam ou
disputavam mulheres na paróquias, engravidavam alunas, envolviam-se se na
violência sexual de menores e na prática de outros actos criminais.
Todavia, afirmava
que podia ser verdade que cada qual tivesse a sua face de fé e de interpretação
que se deveria respeitar, na prática da religião, mas salientava que era
preciso que a Igreja Católica não pudesse se mover por critérios de
conveniência, deveria sim orientar-se por razões de consciência, se quisesse
que houvesse qualidade sacerdotal nas suas comunidades na província de Nampula.
Isto vem a propósito de, há bem pouco tempo, alguns responsáveis desta igreja
terem vindo a público dizer que a sociedade moçambicana tinha chegado ao
cúmulo, em termos de perda de valores morais, a ponto de o crime atingir aos
seus padres, dando exemplo, do assassinato do pároco de uma igreja na Matola.
Por conseguinte,
dois padres afectos à paróquia de Nahage, distrito de Nacarôa, em Nampula,
decidiram recentemente fazer cárceres privados, queimar casas e praticar
ofensas corporais qualificados a quatros cidadãos, por alegadamente terem lhes
roubado dois sacos de milho. Uma atitude que não só indignou a opinião pública
nampulense, como também demonstrou que a perda de valores morais também se
verifica na própria igreja. Que ela deve ter consciência disso, e trabalhe a
partir do seio dela para a recuperação dos tais valores perdidos pela
sociedade.
Na verdade, os
padres, principalmente os ordenados localmente, precisam de saber sempre, que é
o amor de Deus, o Sumo Bem, infundindo nas nossas orações que deve inspirar o
nosso ser e agir, para que não percamos esses valores. A vocação à caridade
constitui o âmago de toda a autêntica evangelização. A indiferença pelo sofrimento
alheio, a violação das normas morais como o que acaba de ser protagonizado por
esses padres, é somente alguns dos resultados da ambição e maldade de quem
ainda não sabe o que é ser um padre e evangelizar na caridade numa paróquia. Espero
que a diocese de Nampula tenha a capacidade de agir contra aqueles padres
malignos, com vista a salvaguardar os interesses e a imagem da Igreja Católica
na região, que tem vindo a “diluir” por essas incongruências no seio das
comunidades de fiéis desta religião.
Fonte: Jornal
Notícias – 31.05.2012
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