domingo, junho 03, 2012

DIALOGANDO - Acontecimentos de Nahage


Por Mouzinho de Albuquerque


Nesta coluna já há tempos tive a ocasião de sugerir a conveniência de se tomarem medidas contundentes contra os padres, particularmente locais ordenados, por vilipendiarem a Igreja Católica.

Era um “grito” de revolta contra comportamentos que considerava pouco dignos, que em nada prestigiavam esta igreja, por parte de quem se diz “representante” de Deus, o que podia estar a “diluir” a unidade dos cristãos e deles (padres).

Na altura condenei e defendi a adopção de medidas severas contra esses padres, por parte da diocese de Nampula, se bem que teria conhecimento sobre isso, para que a Igreja Católica não continuasse a ser vilipendiada, injuriada e desrespeitada, por aqueles (principalmente os padres locais ordenados) que tivessem por obrigação e dever, dar exemplo de ética e comportamento irrepreensível no cumprimento da sua missão sacerdotal, porque a oração para ser eficaz deve estar em sintonia com a boa vontade e convicção religiosa deles e não ligados a outras encenações vergonhosas, que não dignificavam a igreja e aos cristãos em geral.

O que me parecia não estar nos costumes da Igreja Católica era, como por exemplo, um padre depois de orientar a missa duma paróquia, em que deixava claro que o cristão não devia nunca voltar as costas à vida ou problemas da sua igreja, pois a sua esperança está em Cristo, vá consumir, de forma abusiva, bebidas alcoólicas nas barracas ou em casa para em seguida, com atitude menos digna, proferir palavras obscenas perante familiares e outros crentes, como tenha vindo a assistir. Defendi também que a memória cristã tinha que ser bem transmitida e de forma viva, com dignidade e respeito, para ser escutada e percebida pelos crentes da Igreja Católica e não só, para que se entenda, efectivamente, quanto custou a liberdade religiosa neste país e, sobretudo, a ordenação dos padres locais. Dizia na altura, que para tal, era necessário que se tomassem, medidas correctivas contra os padres que proferiam ou orientavam missa embriagados, trocavam ou disputavam mulheres na paróquias, engravidavam alunas, envolviam-se se na violência sexual de menores e na prática de outros actos criminais.

Todavia, afirmava que podia ser verdade que cada qual tivesse a sua face de fé e de interpretação que se deveria respeitar, na prática da religião, mas salientava que era preciso que a Igreja Católica não pudesse se mover por critérios de conveniência, deveria sim orientar-se por razões de consciência, se quisesse que houvesse qualidade sacerdotal nas suas comunidades na província de Nampula. Isto vem a propósito de, há bem pouco tempo, alguns responsáveis desta igreja terem vindo a público dizer que a sociedade moçambicana tinha chegado ao cúmulo, em termos de perda de valores morais, a ponto de o crime atingir aos seus padres, dando exemplo, do assassinato do pároco de uma igreja na Matola.

Por conseguinte, dois padres afectos à paróquia de Nahage, distrito de Nacarôa, em Nampula, decidiram recentemente fazer cárceres privados, queimar casas e praticar ofensas corporais qualificados a quatros cidadãos, por alegadamente terem lhes roubado dois sacos de milho. Uma atitude que não só indignou a opinião pública nampulense, como também demonstrou que a perda de valores morais também se verifica na própria igreja. Que ela deve ter consciência disso, e trabalhe a partir do seio dela para a recuperação dos tais valores perdidos pela sociedade.

Na verdade, os padres, principalmente os ordenados localmente, precisam de saber sempre, que é o amor de Deus, o Sumo Bem, infundindo nas nossas orações que deve inspirar o nosso ser e agir, para que não percamos esses valores. A vocação à caridade constitui o âmago de toda a autêntica evangelização. A indiferença pelo sofrimento alheio, a violação das normas morais como o que acaba de ser protagonizado por esses padres, é somente alguns dos resultados da ambição e maldade de quem ainda não sabe o que é ser um padre e evangelizar na caridade numa paróquia. Espero que a diocese de Nampula tenha a capacidade de agir contra aqueles padres malignos, com vista a salvaguardar os interesses e a imagem da Igreja Católica na região, que tem vindo a “diluir” por essas incongruências no seio das comunidades de fiéis desta religião.

Fonte: Jornal Notícias – 31.05.2012

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