Envolvimento da Igreja no processo de paz de Moçambique contribuiu para criar um bom ambiente de evangelização. Número de vocações é prova disso, diz D. Jaime Gonçalves.
O bispo emérito da Beira, em Moçambique, considera que após vinte anos depois do fim da guerra civil, a paz está assegurada no país.
D. Jaime Gonçalves, que se encontra em Portugal para receber o prémio Fé e Liberdade, atribuído pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, falou com a Renascença e recordou o papel da Igreja no processo de paz de Moçambique.
Vinte anos depois de ter ajudado a levar esse processo a bom porto, D. Jaime Gonçalves fala de um Moçambique a caminho do pleno desenvolvimento: “A Paz social em Moçambique está segura. São já 20 anos de paz, e criaram-se condições para planear o desenvolvimento do país. Os Governos que sucederam ao acordo de paz estão preocupados com o desenvolvimento do país, com a educação, multiplicou-se o ensino superior.”
Actualmente a preocupação dos moçambicanos está no facto de grande parte da riqueza do país estar a ser gerada por estrangeiros, explica o bispo: “O regime toma o risco de explorar a riqueza do país, não com as próprias mãos, mas com as mãos dos investidores, o que faz com que a riqueza do país passe para as mãos dos estrangeiros. O que por um lado pode ser bom, na medida em que a riqueza não fica improdutiva, mas começa a melhorar a vida da população, mas por outro lado, o país fica demasiado dependente dos donos dos mega-projectos.”
A única ameaça à paz, explica D. Jaime, é a existência ainda de cerca de um milhar de homens armados da Renamo que nunca foram integrados nas forças armadas e de segurança de Moçambique, e que estão ainda nos seus quartéis à espera de solução: “Ao longo destes 20 anos temos tentado resolver o problema, porque eles estão armados. É nesse sentido que temos uma ferida no processo de paz. Eles estão parados, não são aceites pelo Governo, também a Renamo não os pode manter, porque é muito custoso. Por isso há tentativas de pensar voltar à violência, o que não é aconselhável, porque a violência não é aconselhável”.
Alcançada a paz, a Igreja não descansou e tem trabalhado para ajudar a consolidar o bem-estar social: “Criou-se a Universidade Católica de Moçambique, criando faculdades que possam responder às necessidades do povo. Era preciso criar no país um Estado de direito, e daí a Faculdade de Direito. A Guerra empobreceu o país, então criámos a Faculdade de Economia. Criámos a Faculdade de Agricultura para a alimentação. Havia muita doença e por isso criámos a Faculdade de Ciências de Saúde.”
Todo este trabalho tem ressoado bem entre a população, explica o bispo, criando um bom ambiente para a evangelização. Os frutos vêem-se também no aumento do número de vocações: “Há muitas vocações, sobretudo para o clero. Já como resultado de um trabalho que a conferência assumiu, de fazer a pastoral vocacional. Criou-se em todas as dioceses uma simpatia pela vida sacerdotal. Os jovens não estranham ouvir falar da vida religiosa, o que é muito positivo para as vocações”, explica.
D. Jaime Gonçalves recebe o prémio Fé e Liberdade em conjunto com duas outras figuras. Monsenhor João Evangelista, padre de Coimbra que ajudou a fundar a ACEGE, e Maria Barroso, que chefiou durante vários anos a Cruz Vermelha Portuguesa.
Fonte: Rádio Renascença - 27.06.2012
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