A idade da Frelimo é, no nosso entender, uma questão aritmética e do
contexto em que ela é evocada. Podem existir duas, mas também pode imperar uma.
Pode existir o partido, mas também pode prevalecer o movimento.
Isso, na verdade, pouco importa. Até porque tal debate não traz transporte
e muito menos comida em abundância. O que indigna qualquer cidadão com dois
dedos de testa não é a idade e nem a exuberância do festejo dos “camaradas”.
O que indigna é o aproveitamento político
da data no aniversário de Moçambique enquanto país. Não podemos conceber que o
aniversário da Frelimo ofusque deliberadamente um dia genuinamente apartidário.
Não podemos permitir que a Frelimo seja
maior do que o país. Não podemos permitir que o chefe de Estado passe mais
tempo no aniversário do seu partido a enaltecer os feitos deste do que a
glorificar a independência. Não podemos permitir que ele reivindique
desenvolvimento do país num contexto partidário, sobretudo quando as suas
palavras são amplificadas pelos media alinhados.
Que a Frelimo faça isso e até compreensível. Trata-se, na verdade, de uma
manifestação de poder. Trata-se de veiculação de uma mensagem que se pretende,
apesar de pomposa, subliminar.
A Frelimo, no nosso entender, está pouco se marimbando para os seus verdadeiros
anos. O objectivo claro, cristalino e evidente, da Frelimo, neste caso, é o de
associar o seu nome ao do país. É associar o conceito Frelimo ao conceito
liberdade. É de os repetir até à exaustão. Até que um seja sinónimo de outro.
A idade da Frelimo é, por isso, um debate estéril e que produz poucos
efeitos. Por exemplo, no coração de Ancuambe, Matchedje e Ribáuè a população
nem quer saber do debate dos anos da Frelimo. Está preocupada com postos de
saúde e a chuva que insiste em engravidar nuvens sem beijar a terra. Está
preocupada com o crescimento imponente da fome. Está preocupada com os celeiros
sem serventia. Está preocupada com a escola que não há.
Enquanto isso, as festas pomposas lembram-nos de que há quem prefira
satisfazer o ego com alianças espúrias, numa miscelânea de composições
inimagináveis para angariar espaço de antena e iludir os incautos. Foram às
favas com a identidade ideológica, com a sinergia programática. Mataram a
coerência em nome do poder.
Querem ficar no poleiro para sempre e decidiram transformar uma data de
todos numa instituição partidária. Prevalece, neste aniversário, o despudor da
barganha rasteira, vil, levando à combinação de episódios tão contraditórios
(criação da Frelimo e dia da independência) apenas para vender a ideia de que o
moçambicano deve vassalagem ao partido no poder.
Isso devia preocupar-nos mais do que a sua pretensa idade. Até porque
enquanto discutimos os seus anos ela (a Frelimo) prossegue inexoravelmente com
o seu plano para adormecer as massas. Nós, os outros, também dormimos embalados
ao som do batuque e da maçaroca. Que não tarde, para o nosso bem, o despertar
colectivo de todos nós...
Fonte: Verdade@ – 28.06.2012
3 comentários:
Nguiliche
Em democracia, o governo é à medida dos olhos do POVO.
A Frelimo nao está preocupada com os intelectuais, com aqueles que sabem juntar um e cinco, que nem é décima parte do POVO, aliás metada desses intelectuais sao "assimilados=membros do partido" por fome e egocentrismo; está preocupada com os analfabetos e ignorantes, pois estes pensam que Deus é que é culpado quando nao têm agua, comida, escola, hospital, estrada e transporte,que é a maioria dos votantes. Esses nao vêem nenhum conflito entre a data da Frelimo e da independencia; esses nao sabem o que aconteceu em Ghana no dia 2 de Fevereiro de 1962; esses nao sabem que 90% dos "reaccionarios" sao do norte e centro do país; esses nao sabem que nao é normal um vice-presidente orquestrar a morte do presidente ou fazer golpe de Estado. Esses quando chega o dia de voto, se nao vao votar em troca de 5kg arroz e acúcar, ficam em casa alegando que é mesma coisa, e acabam beneficiando quem está no poder. Nunca pensa que mesmo nao indo votar ninguém, quem está no poder nao vai sair por se considerando ilegítimo.E agora!
Nguiliche
A verdade nao é estrada para a riqueza:Rousseau.
Muita verdade Nguiliche. Cabe aos atentos a consciencializar os analfabetos que estão sendo enganados.
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