Paulo
Zucula, antigo Ministro de Transportes e Comunicação é o terceiro arguido do
caso. Os outros são: Mateus Zimba, antigo director da Sasol e da General
Electric Oil & Gás em Moçambique e José Viegas, antigo PCA da LAM.
Os três
arguidos têm as contas congeladas a mando da PGR
A Procuradoria
Geral da República (PGR) em conexão com o caso de alegada corrupção na
aquisição pelas Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) de duas aeronaves à
fabricante brasileira Embraer anunciou, quarta-feira, que três arguidos estão a
ser investigados.
Esta
informação foi avançada pela Procuradora-Geral da República, Beatriz Buchili,
na sua Informação Anual à Assembleia da República. Buchili não avan- çou os
nomes mas o SAVANA sabe que se trata de Paulo Zucula, antigo ministro dos
Transportes e Comunicações (MTC) do consulado Guebuza, José Viegas, antigo PCA
das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) e Mateus Zimba, veterinário de formação e
ex-director da Sasol Moçambique e, posteriormente, da General Electric Oil
& Gás, cargo de que foi afastado após ter sido tornado público o seu
envolvimento no “caso Embraer”. Zimba é o Agente “C”, que criou a Xihivelo,
empresa usada para a drenagem das “luvas” envolvidas na aquisi- ção das
aeronaves.
No relatório
sobre as actividades da PGR de 2016, que apresentou à Assembleia da República,
Beatriz Buchili declarou que a instituição instaurou um processo a 05 de Julho
do ano passado, que se encontra em instrução preparatória, com os três arguidos
em liberdade.
Ao que o
SAVANA apurou, a Caso LAM-Embraer instrução preparatória está praticamente
concluída e, nas próximas semanas, o processo será remetido ao Tribunal. O
jornal sabe também que as contas dos três arguidos foram congeladas. Tal como
aconteceu no processo das dívidas escondidas, a PGR ordenou a quebra do sigilo
bancário para as contas dos três elementos arrolados no caso dos aviões.
Segundo o
informe da PGR, uma vez que o caso tem ramificações internacionais, a PGR
activou mecanismos de cooperação jurí- dica e judiciária com quatro paí- ses. O
SAVANA sabe que os pa- íses são Estados Unidos (país que despoletou o caso),
Brasil (onde foram negociados os aviões), Portugal (por onde passaram os USD800
mil) e São Tomé e Príncipe (onde foi criada a Xihivelo). Os procuradores
moçambicanos que estão a investigar este processo viajaram para estes países
para recolherem mais elementos. O SAVANA apurou também que há um funcionário
superior de um dos grandes bancos locais que facilitou a operação de
transferência dos montantes e criação de contas, dadas as ramificações dos
bancos usados em São Tomé e Príncipe e Portugal com o banco local.
No informe,
lê-se que o esquema de corrupção terá envolvido o pagamento de USD800 mil aos
três arguidos como condição para a Embraer vender as duas aeronaves à LAM.
Para lograr
os seus intentos e perante a impossibilidade de a empresa estrangeira retirar
tal valor dos seus cofres, concertou com esta, com vista à sobrefacturação do
custo das aeronaves, para que se beneficiasse da diferença resultante do preço
real e do constante da factura”, diz a Informação Anual da PGR.
A negociação
envolveu a cria- ção no estrangeiro (São Tomé) de uma empresa (Xihivelo) que
abriu uma conta bancária por onde se fez a transferência do valor do esquema de
corrupção.
“A aquisição
das aeronaves foi efectuada com recurso a um empréstimo bancário, concedido por
um banco moçambicano (BCI), mediante garantias emitidas pelo Estado”, afirma a
informação da PGR.
Documentos
da justiça brasileira divulgados no final do ano passado revelam que a Embraer
terá pago USD800 mil a gestores da LAM e a um intermediário, também
moçambicano, pela venda de duas aeronaves em 2009.
O valor foi
depositado numa conta, em São Tomé e Príncipe, de uma sociedade fictícia
propositadamente criada para actuar no esquema de corrupção.
O alegado
esquema de suborno faz parte de pagamentos ilícitos que a fabricante brasileira
terá efectuado em vários países e que obrigaram a Embraer a pagar USD225
milhões à justiça norte- -americana como parte de um acordo judicial para o
encerramento do processo.
A justiça
norte-americana envolveu-se no caso pelo facto de algumas das contas usadas nos
alegados esquemas de corrupção da Embraer estarem domiciliadas em solo
americano.
O jornal
tentou ouvir a versão de Zucula, mas não foi possível. Fontes próximas
explicaram que seria difícil um pronunciamento do ex-ministro ou dos outros
dois envolvidos, na actual fase de investigação da PGR.
Fontes
ouvidas pelo jornal não excluem a possibilidade da constituição de um quarto
arguido no processo.
O nome do
ministro poderá vir a ser de novo mencionado no caso das “luvas” pagas na
construção do aeroporto de Nacala, a cargo da construtora brasileira Odebrecht.
O
montante arrolado são USD 900 mil.
No âmbito da
operação “lava jato” desencadeada pela justiça brasileira, está também em
investigação o favorecimento de uma empresa moçambicana ligada à “nomenklatura”
do Partido Frelimo, envolvida no projecto de construção da barragem de Moamba
Major a cargo da construtora brasileira Andrade Gutierrez. A empresa em questão
envolve Raimundo Pachinuapa e Tobias Dai e participou na construção da última
ponte rodoviária sobre o rio Zambeze, junto à cidade de Tete.
O Papel de Zucula, Xihivelo e do
Partido Frelimo
Paulo Zucula
foi ministro dos Transportes e Comunicações entre Março de 2008 a Setembro de
2013 e foi substituído por Gabriel Muthisse. Zucula foi chamado para o Governo
por Armando Guebuza para substituir António Munguambe, que caiu em desgraça no
mediático “Caso Aeroportos”, onde foi condenado, em primeira instância, a 20
anos de cadeia por desvio de fundos e mais tarde viu a pena reduzida para
quatro anos e cinco meses pelo Tribunal Supremo.
O processo
de aquisição dos Embraer 190 foi feito durante a administração de
Guebuza/Zucula. Ao que o SAVANA apurou de uma fonte próxima das investigações, Zucula
não teve apenas um envolvimento político na qualidade de titular da pasta dos
Transportes e Comunicações, mas também material.
O jornal
apurou que, durante as audições, Zucula alegou que não agiu por conta e risco
próprio no negócio, mas a mando do partido (Frelimo). Porém, não conseguiu
apresentar evidências, segundo a mesma fonte. É preciso lembrar que no
julgamento do caso Aeroportos, Diodino Cambaza, então PCA da empresa, afirmou
na sede do tribunal que autorizou a entrega de 400 mil meticais à Escola do
Partido Frelimo na Matola, na pessoa do respectivo director, Arlindo Chilundo.
A versão de
que o Partido Frelimo mo foi o beneficiário das “luvas” corrobora informações
divulgadas anteriormente por este jornal por fontes familiares com o processo.
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Mateus Lisboa Gentil Zimba, outro arguido no processo, foi director da Sasol
(2000-2016) e mais tarde ocupou o mesmo cargo na General Electric Oil & Gás
em Moçambi que de Agosto do ano passado até ser afastado em Janeiro de 2017,
indiciado de estar envolvido no escândalo da LAM na aquisição dos aviões
Embraer.
Zimba,
ligado à “Geração 8 de Março” e, posteriormente, diplomado em Medicina
Veteriná- ria pela Universidade Eduardo Mondlane (UEM), com uma passagem de
cerca de 10 anos pela logística das Forças Armadas moçambicanas, é o “Agente
C”, que serviu de “pivot” para a receptação de USD800 mil em comissões.
Para a
concretização da manobra, Zimba criou uma empresa fantasma com sede em São Tomé
e Príncipe, aí domiciliando a conta usada para a drenagem dos subornos.
Dados
contidos na correspondência trocada entre executivos da Embraer e depositados
na Comissão de Mercados, Valores e Mobiliários do Brasil indicam que, no dia 22
de Maio de 2008, documentos anexados no processo da PGR, após três anos de
negociações, a companhia aeronáutica brasileira conseguiu formalizar a proposta
de venda de duas aeronaves de marca Embraer E190 à LAM, a um pre ço unitário de
USD 32 milhões. No dia 11 de Agosto de 2008, o director de vendas da Embraer,
Patrice Candaten enviou um correio electrónico para Luiz Fuchs, vice-presidente
da companhia brasileira para Europa e Albert Philip Close, ex-gerente para área
de defesa da empresa.
No correio
em causa, Candaten informa que após a conclusão do negócio com a LAM, apareceu
o moçambicano Mateus Zimba, “que não trabalhou nos esforços da venda”, a
informar que actuaria como consultor na transacção. “Na mesma oportunidade,
Patrice Candaten propôs que eles `criassem alguma margem para comissões` para
Mateus Zimba na formação do preço das duas opções subsequentes à venda”, relata
o documento.
Após alguns
contactos, Fuchs, no dia 13 de Agosto de 2013, enviou um email para Candaten,
com cópia a outros funcionários da Embraer, relatando a conversa que teve com
Zimba. Na referida conversa, Zimba precisou que embora a companhia brasileira
não tivesse previsto contar com um consultor “nós gostaríamos de ter um gesto
na entrega do primeiro avião”.
Na mensagem
enviada a Candaten, Fuchs informou: “temos (a Embraer) de mostrar algum gesto e
talvez o valor mencionado por Albert Close (50 a 80 mil dólares) acomodasse a
necessidade”. Fuchs explicou ainda a Zimba como criar uma empresa na qual a
companhia aeronáutica brasileira pudesse efectuar “supostos pagamentos de
consultoria”. Explicou a Zimba sobre os procedimentos que devia seguir para ter
o valor. Zimba foi aconselhado a registar uma empresa com nome, endereço e não
ter a sua sede num paraíso fiscal. Fontes familiares ao processo consideram que,
dadas as funções formais exercidas por Zimba, só a sua ligação aos serviços de
segurança pode justificar um envolvimento tão melindroso, nomeadamente para
beneficiar o Partido Frelimo.
De acordo
com os documentos, em resposta ao email de Fuchs, José Molina, vice-presidente
da cadeia de suprimentos, aprovou a oferta de USD50 mil a Zimba por cada um dos
aviões vendidos, com margem para negociar até USD80 mil. Aprovou igualmente que
se pagasse entre 2 a 2.5% do preço de venda das duas opções se a LAM exercesse
a previsão opcional de comprar outros aviões. Segundo a documentação na posse
do SAVANA a partir da investigação oficial efectuada no Brasil e nos Estados
Unidos, a 18 de Agosto de 2008, Fuchs escreveu que ofereceu os USD50 mil a
Zimba, mas relatou, em seguida, para Patrice Candaten, que percebeu que o
antigo director da Sasol não achou nada simpático o valor e estava “esperando
uma comissão muito maior”. “...ao ouvir o valor, insinuou que o cliente (LAM)
poderia adjudicar o contrato para outra empresa”, sublinhou Fuchs
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No dia 25 de Agosto 2008, José Viegas, então PCA da LAM (cessou em Abril de
2011 e foi substituído por Teodoro Waty), telefonou para Fuchs. Em mensagem
electrónica, enviada a 25 de Agosto de 2008, Fuchs narrou para Candaten a
conversa que manteve com Viegas. Disse que Viegas “frisou que tinha recebido
comentários muito desagradáveis de algumas pessoas sobre a proposta da comissão
da Embraer” “José Viegas indicou que algumas pessoas receberam a proposta da
Embraer como um insulto e, de certo modo, teria sido menos ofensivo não propor
nada, mesmo que isso não fosse aceitável”, narrou Fuchs.
Perante a
reacção de Viegas, o director adjunto da Embraer para Europa perguntou ao então
PCA da LAM o que ele esperava da Embraer, ao que José Viegas respondeu que
naquelas circunstâncias, um milhão de dólares seria razoável.
Luiz Fuchs
achou o valor alto, mas depois de negociar, José Viegas “finalmente sugeriu que
poderíamos nos safar com USD800 mil” em duas tranches de USD 400 mil.
Na versão
brasileira dos factos, Fuchs alertou a Viegas que a Embraer não tinha orçamento
para “esse valor de consultoria”. Viegas não se terá sentido incomodado com a
posição de Fuchs e sugeriu que o valor podia ser tirado da margem de lucro
sobre as duas opções de compra das aeronaves. “Perguntou (Viegas) se o preço da
aeronave poderia ser elevado”, sublinhou Fuchs, acrescentando igualmente que
Viegas disse que não se sentia à vontade para discutir aquele assunto por
telefone.
O contrato
de compra das duas aeronaves E190 foi rubricado a 15 de Setembro de 2008 pelo
preço unitário de USD32.690, mais um sinal de USD312 mil por um terceiro avião.
José Viegas foi um dos três executivos da LAM que assinou o contrato pela
companhia de bandeira mo- çambicana. Fontes familiares ao processo disseram ao
jornal que, quando Viegas foi contactado sobre as comissões, este informou o
responsável pelo MTC que, por sua vez, recebeu instruções da hierarquia do
partido Frelimo de como proceder, entrando então em cena o “agente C”.
(Redacção)
Fonte:
SAVANA – 21.04.2017
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