Chefe de Estado diz não fazer sentido continuar a falar de uma companhia de bandeira com aviões no chão
Depois de um intervalo de mais de um mês, Filipe Nyusi retomou, ontem, as ofensivas ministeriais. O alvo foi o Ministério dos Transportes e Comunicações (MTC), provavelmente aquele que tem sob sua tutela o maior número de empresas e institutos públicos (mais de 15). E a porta de entrada foi a Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), uma das empresas públicas que atravessam uma profunda crise financeira e de gestão. Por essa e outras razões, era expectável, no seio da imprensa, que o Presidente da República fosse contundente durante a visita. Entretanto, Nyusi foi brando na interacção com os trabalhadores e no hangar de manutenção de aviões recordou alguns conceitos de engenharia com dois técnicos que remexiam nos motores do Bombardier Q400. Desengane-se quem pensa que o PR gostou do viu na LAM. Aliás, foi preciso esperar pelo conselho consultivo para perceber que Filipe Nyusi só esteve “tranquilo” porque não queria enervar-se. “Hoje senti que a frota diversificada não ajudou em nada. Só contribuiu para dar cabo à LAM. Se tivéssemos uma frota com uma única marca, não teríamos problemas de compra de peças de diferentes tipos de aviões. Isso não é tecnologia, é uma questão comercial”, defendeu. Nyusi disse, ainda, que a falta de pilotos que afecta a transportadora aérea nacional se deve à diversificação de aviões. “Os pilotos devem ser certificados para diferentes tipos de aviões. Se tivéssemos uma ou duas marcas, não teríamos tanta falta de pilotos”. Como solução, o Chefe de Estado anunciou uma restruturação profunda da LAM, que poderá implicar entrada de capitais privados ou uma gestão estrangeira. Nyusi diz que não faz sentido falar em companhia de bandeira com aviões no chão. “Vamos quebrar o mito de que somos a companhia de bandeira. Bandeira de quê? Nós podemos negociar e continuar a sermos uma companhia com qualidade, sem necessariamente sermos nós a fazer uma coisa que não dominamos”.
A companhia de bandeira tem cerca de 700 trabalhadores para uma reduzida frota de menos de 10 aviões. O Chefe de Estado defende a racionalização da mão-de-obra e diz que é preciso ter coragem para tomar esse tipo de medidas.
O Presidente da República denunciou a existência de dirigentes no MTC que têm dificuldade em “deixar a concorrência fluir”. “Nós não temos aviões para voar, mas não deixamos voar. Dizemos que o espaço aéreo está aberto, mas não dizemos o que é que isso significa”, criticou, apelando às autoridades de regulação a flexibilizar a entrada de novas companhias no mercado doméstico. “Estão a fechar o circuito para que as coisas funcionem como antigamente. Os problemas de transportes resultam desse fechamento”, disse.
Além da LAM, Nyusi prometeu intervenções profundas na Mcel e Telecomunicações de Moçambique (TDM), duas empresas públicas que também enfrentam uma crise financeira.
Frota reduzida e poucos voos
No amplo hangar de manutenção, apenas um avião estava a ser observado. A imagem pode transmitir a falsa ideia de que “está tudo bem” com a companhia de bandeira. Mas é preciso lembrar que, há quatro dias, a LAM emitiu um comunicado no qual anunciava que, devido a problemas técnicos, três aeronaves não estavam a voar. A companhia teve que reprogramar e cancelar voos, uma decisão que desesperou dezenas de passageiros que viram as suas agendas comprometidas. Das aeronaves avariadas, duas estavam em manutenção fora do país.
Fonte: O País – 14.04.2017
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