CRÓNICA
Por: Gento Roque Cheleca Jr., em Bruxelas
O povo quando quer é capaz de fazer com que um governo ditatorial dance.
'Makwaela' ao rítmo de 'xigumbaza'. Nem as balas cuspidas das mortíferas armas que usam para repelir o povo eufórico servem para inverter ou intimidar a marcha de uma revolução democrática em construção. Uma vez que boa parte dos ditadores estão velhos de caduco, para não acabarem nas efermarias dos hospitais em estado de coma, tal como aconteceu ao Ben Ali e ao seu ‘compadre’ Hosni Mubarak, sugeria que os restantes auto-proclamados ‘Heróis de África’ deixassem voluntariamente o poder, antes que os sismos populares os obrigassem a abandonar os reconfortantes palácios do povo. Extracto da palestra com os meus sobrinhos.
É coisa de teatro o comportamento de alguns ditadores como Muamar el Kaddafi, Laurent Gbagbo, Robert Mugabe, José Eduardo dos Santos, incluindo, neste cardápio, a Frelimo, que, quando a questão do dia é pedir socorro económico e financeiro para engordar os orçamentos dos seus respectivos governos e não só, mas também para incrementar as suas riquezas pessoais e das suas 'claques' contam, para o efeito, com a ajuda incondicional da dita 'mão externa', a mesma que, nos momentos de 'vulcão social' em que o povo diz basta aos regimes ditatoriais, até os gagos que perfilam nesses regimes conseguem soltar palavras de repúdio contra os doadores. Nada dura para sempre. Até os “enlaces de sangue” não duram para sempre, são desfeitos quando os tubérculos começam a escassear nas palhotas dos seus verdadeiros mandatários. Já dizia a nossa Rosária M'boa «tudo que voa, vem para baixo…».
Pois é, à terra desceu Ben Ali, Mubarak....Que Lúcifer lhes pague pelo trabalho prestado ao seu reino!!!
Nas manifestações de 1 e 3 de setembro (as mesmas que deixaram Maputo em estado de sítio e fez com que o governo da Frelimo se reunisse em sessão de emergência) vimos passar nas televisões figuras do partidão a declarar que àquelas manifestações eram oriundas do exterior. Entretanto, não respeitaram a vontade do povo, tão pouco quiseram ler os dísticos reivindicativos que o povo sofrido ergueu naqueles tristes dias; ao invés disso, desataram discursos enfadonhos acusando os doadores de ingerência nos assuntos nacionais. Dizem estas babuzeiras numa altura em que o governo conta, desesperadamente, com ajudas externas para fazer avançar certos projectos de desenvolvimento, sem o qual não haveria nenhuma inauguração, muito menos atribuição de nomes de camaradas às coisas públicas.
É preciso ter miopia ou sofrer de esquizofrenia para esquecer tudo isto em tão pouco espaço de tempo.
O mesmo acontece com o regime de Laurent Gbagbo, este companheiro de “escola de muitos ditadores” e fiel amigo de Dos Santos, o compadre do regime da
Frelimo, que durante muitos anos contou com a ajuda externa sobretudo da França e dos Estados Unidos para criar um Estado financeiramente estável e promissor onde a questão dos direitos humanos era pontapeada a torto e a direito, mas quando foi a vez de este reconhecer a derrota e deixar a poltrona do poder para o candidato vencedor das eleições de novembro último, Alassane Ouatarra, não tardou em encontrar bodes expiatórios acusando a França e os Estados Unidos de ingerências nos assuntos da Costa do Marfim. Qual seria o interesse da França e dos EUA em derrubar Gbagbo (este “homo sapiens sapiens” que esteve no lugar certo e na hora certa quando o comboio da sorte passou pela estação da sua vida?, pois, em contrário, não seria ninguém), num país onde o investimento francês e americano supera o PIB nacional daquele paísl!!! É preciso ter pachorra para aturar este tipo de ditadores como Gbagbo que já amealhou um novo aliado (Jacob Zuma) na África do Sul.
A Líbia em chamas, o povo reclamando por 42 intensos anos de ditadura, o coronel Muammar al-Gaddafi acusa agora o ocidente de estar por detrás das manifestações populares.
Sem apresentar provas, fez uma série de acusações na televisão dirigidas a Administração Obama como se esta fosse a promotora da “revolução árabe”.
Jesus Maria José. Só mesmo Muammar.
Uma coisa, porém, é certa: quando vemos as imagens pela televisão, nada
mostra que aqueles milhares de “excluídos da sorte” sejam lacaios do Ocidente; pelo contrário, o que vimos é um oceano de gente em estado de “raiva completa contra a ditadura” nos seus respectivos países.
Foram anos de completa submissão e isso, mesmo cá entre nós, fomos vacinados a não esquecer. É possível que eu esteja errado (nesta vida “maledita” é proibido ter certezas absolutas), mas para isso terão de me dar de comer muita 'papa maizena' para me convencer do contrário. Enfim, não vi nenhum general norte-americano acampar com os manifestantes na praça Tahir ou em qualquer outro lugar aceso (onde decorrem as manifestações)!
O nosso 'irmão Obama', pelo estilo da sua governação e pela coerência dos seus discursos, jamais quereria que a sua 'terra-mãe' (África) fosse um palco de tragédias. Seria o último desejo de Obama e até mesmo de Sarkozy em fazer arder um país africano, onde os seus respectivos países investem bilhões de divisas. Seria paradoxo e até certo ponto caricato que os estrangeiros, a tal 'mão externa' (franceses ou americanos), influenciassem os populares para depor o regime do coronel Gaddafi. Só faltava este episódio para completar a peça iniciada pela Frelimo e o seu protector, Robert Mugabe. É tarde demais para efectuarem reformas, o tempo é de mudanças. A “xigumbaza” vem aí, resta
saber quem será a próxima “vítima”.
‘Kochikuro’ (Obrigado).
Fonte: Wamphula Fax - 24.02.2011
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