terça-feira, fevereiro 01, 2011

EUA e Europa tomam distâncias do ditador egípcio

Aos indícios dos últimos dias, de que os EUA se preparam para deixar cair Hosni Mubarak, juntam-se agora declarações de diversos diplomatas e políticos europeus marcando em relação ao ditador egípcio distâncias que durante 30 anos nunca existiram. E a todas estas junta-se a tomada de posição especialmente contundente do presidente turco, ao cancelar a viagem que tinha agendado ao Egipto.

Os Estados Unidos têm lançado sucessivos apelos ao presidente Mubarak para que resolva a crise pacificamente e para que marque eleições - sinal eloquente de que não consideram aplacadas as manifestações anti-ditatoriais com a mera remodelação ministerial anunciada no domingo.

Mais clara ainda foi a declaração do porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, a comentar as nomeações de domingo para o novo Governo: segundo Gibbs, a situação exige acção e não nomeações.

Em relação às eleições reclamadas, a Administração Obama tem-se abstido de referir se considera conveniente que o partido de Mubarak concorra a elas e se bata pelo voto do eleitorado. Para já, Obama enviou para o Cairo o antigo embaixador norte-americano no Egipto, Frank G. Wisner, que não revelou detalhes da sua missão, mas negou, por enquanto, a existência de qualquer contacto com o dirigente oposicionista Mohamed el-Baradei e com o partido de oposição conhecido como Irmandade Muçulmana.

A comissária europeia para os Negócios Estrangeiros, Catherine Ashton, não branqueou inteiramente o historial de apoio europeu à ditadura, mas também tomou distâncias em relação ao ditador agonizante. Segundo citação da Al Jazeera, Ashton afirmou que "temos trabalhado em estreita colaboração com o Egipto ao longo de muitos anos, a oferecer apoio internacional, e lá estaremos a curto, médio e longo prazo para ajudar a construir a democracia, o Estado de Direito". Finalmente, Ashton fez ainda uma referência às "queixas legítimas" dos manifestantes anti-Mubarak.

O ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, Trinidad Jiménez, por sua vez, declarou o seu apoio às "pessoas que estão na rua" e afirmou: "Apoiamos o clamor da rua por mais reformas e mais direitos".

O primeiro-ministro britânico esquivou-se a apoiar as reivinidcações da rua egípcia, mas considerou que "temos de fazer aqui uma escolha. Esta repressão, se se opta por ela, vai acabar mal para o Egipto, mal para o mundo".

A nota dissonante veio, como vai sendo hábito, da diplomacia italiana, cujo chefe, Franco Frattini, se mostrou mais preocupado com a resultante do processo de contestação do que com a eventualidade de permanência da ditadura. A sua exortação foi no sentido de que os manifestantes "escolham a democracia e os direitos civis, não o extremismo e o radicalismo".

O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, finalmente, cancelou a visita que tinha agendada ao Cairo, lançando ao presidente egípcio um apelo: “Ouça os gritos do povo e as suas reivindicações muito humanistas (…) Você tem de satisfazer sem hesitações a vontade de mudança do povo”. E reiterou em tom de advertência: “Todos nós somos mortais (…) O que importa é que se lembrem de si com respeito. Devemos ouvir a nossa consciência e a voz do nosso povo, e estar dispostos a ouvir as suas orações ou as suas maldições”.

Fonte: RTP - 01.02.2011

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