quarta-feira, fevereiro 02, 2011

E se Tunísia e Egipto se situassem a Sul do Sahara?

Para debate

Uma reflexão do anónimo que assina por Fungulamasso deixada aqui dá conta das consequências se a revolução do Norte de África, a considerada África Branca se desse ou der na África a sul de Sahara ou na África Negra. Eis:

Por Fungulamassa

Meu caro Oxalá,

Acredito que o seu sentimento seja igual a muitos outros moçambicanos, diferentes na percepção, e duma visão precipitada.
Mas deixe-me dar o meu ponto de vista...
Uma revolução do género egipto-tunisino, não teria o mesmo efeito na África Negra.
Seria devastador, e demoraria 50 anos a repor a economia, seria a SOMALIZAÇÃO TOTAL DE ÁFRICA.
A pobreza é tão elevada, que o simples cidadão tornar-se-ia, agressivo e pior que tudo, os LADRÕES tomariam conta de tudo, a polícia abandonariam as suas responsabilidades, e o exército-mal formado, e a maioria dos chefes com treinamento comunista-poder-se-iam transformar em chefes para roubar.
Em vez de uma guerra civil (a tal guerra de desestabilização, que os cronistas moçambicanos gostam de alcunhar) em que existiam duas vozes conselheiras de comando-russo e sul africano-portanto exterior a África Negra-existiriam vários algozes a quererem o poder à força.
Agradeço continue a acompanhar as notícias de Cairo, friamente, e veja o sentimento do cidadão, pacífico, trabalhador, com algums bens-"qual a opinião dele".
Seria devastador para a economia africana pobre.
Os "mabataquios", mabandidos, tomariam conta das esquinas...
No caso moçambicano, seria a auto-destruição das cidades e vilas construídas pelo colono portugûes, e que passados 35 anos, em governos sucessivos da Frelimo, não fizeram sequer mais de 2%!
Só a ponte AEG e o Centro comercial MBS!

Fungulamasso

6 comentários:

Abdul Karim disse...

Pela razao do Fungulamasso que acredito que em Mocambique a via nao pode ser a mesma do norte de Africa,

Pelo nivel de educacao, desemprego e pobreza,

E considero que para Mocambique a unica via possivel 'e mesmo a Inclusao, "abertura politica", capacidade de integracao de profissionais qualificados para areas sensiveis de gestao, quer social quer economica, distribuicao de opurtunidades sem discriminacao partidaria, e forte investimento na educacao,

Ai poderiamos ter uma situacao de mudanca controlada e minimamente harmoniosa, uma vez que a Mudanca 'e Irreversivel.

Na minha opiniao, qualquer outra "saida", tem riscos elevados porque a situacao 'e insustentavel e em caso duma "convulsao social", ja ficou visto que nao existe capacidade de controle.

O nosso Governo devia humildemente perceber que quelquer outra atitude, a esta altura do campeonato nao 'e aconcelhavel.

A situacao 'e mesmo insustentavel e a Mudanca 'e mesmo Irreversivel.

Anónimo disse...

Meu caro Fungulamassa,

Para mim uma revolução significa transformação, mudança drástica, seja de forma pacífica ou violenta. A revolução é o resultado de uma revolta do povo ou das massas contra a poder, motivado por injustiças sociais, pobreza, fome, desemprego, violência e corrupção. No passado centenas de psicológicos, sociológicos e político abordam sobre as causas e os efeitos de revoluções ou revoltas, seja em Europa ou na Africa Negra. O que podemos ver nos países árabes, incluindo Tunísia e Egipto, é um protesto das massas, que pode ocorrer em outras sociedades da Africa, onde existem situações muito semelhantes, com regimes autoritários e uma elite corrupta, na realidade capitalistas que defendem seus interesses pessoais não estão interessados em uma transição pacífica para a democracia. A luta dos jovens académicos, dos desempregados e pobres pelos Direitos Humanos, a Liberdade, a Democracia e o Estado de Direito se traduz em um processo global, que não conhece gerações nem fronteiras. As sociedades estão inter-conectadas através de novas tecnologias, meios de comunicação, formas inovativas de acção política, blogs, redes sociais como twitter e facebook. O bloqueio à Internet e à telefonia celular não funciona. 97% do tráfego da Internet no Egipto foram bloquados, mas permanecem 3% das conexões internacionais e redes de telefone celular, mais do que suficiente pela organização dos legítimos protestos do povo contra Hosni Mubarak. Graças a solidariedade dos democratas, os egípcios cada vez mais perderam seu medo e ninguém lhes pára. E a sociedade africana acompanhe com grande interesse os desenvolvimentos na Praça Tahrir, como mostram as repercussões políticas no mundo árabe. Por isso me admiro um pouco sobre as quase (não)-reacções na blogosfera moçambicana, que parece congelado de medo ou fascinação. O que me não admiro são slogans como “eu ou o caos dos islamitas”, “eu ou a somalização da Africa”, "a estabilidade e o caos" Quem fala assim são os aliados do regime de Mubarak, os EUA, a União Europeia e alguns regimes ditatoriais da Africa, como aqueles de Muammar Khadafi, Laurent Gbagbo, José Eduardo dos Santos (mais um aliado dos EUA), Mugabe, Bingu Wa Mutharika e Ali Abdullah Saleh do Iémen. Como se sabe existem razões para isso. Mesmo ditadores e os chefes de Estado e de governo de regimes autoritários têm preocupações com o amanhã, com uma incontrolável revolta do povo, com a perda do poder e de privilégios, contas bancárias congeladas, prejuízos económicos, a detenção e o julgamento por crimes contra a humanidade. É exactamente por isso eles falam em quadros psicológicos como eu ou o caos, eu ou os islamistas eu ou a somalização, come se fossem equações alternativas para regimes autoritários.

o texto continua....

Anónimo disse...

.......
Para mim, os principais responsáveis pelas injustiças sociais na Africa, pela pobreza absoluta, a fome, o desemprego juvenil, a violência politica, eleições fraudulentas e a são os incapazes chefes de Estado e de governo de regimes autoritários. Alguns simplesmente substituíram o comunismo com o capitalismo selvagem das multinacionais, minimizando a criação de novos empregos e maximizando os lucros das empresas. Os incompetentes chefes e seus partidários são os principais responsáveis pela dimensão excessiva dos governos e as ineficiências do sector público, do Exercito (igual se com ou sem com treinamento comunista), do aparelho de segurança, pelas despesas públicas improdutivas, pelo fraude fiscal generalizado na economia, pelos impactos negativo no desenvolvimento económico, um crescimento desequilibrado nas áreas urbanas e rurais, bem como a ausência de qualquer política social pelos jovens académicos, trabalhadores, pobres e desempregados. A única coisa que interesse os chefes da África é a maximização da própria riqueza, que eles tentam preservar a tudo o custo, mesmo se este egoísmo custa a vida dos próprios cidadãos, como mostram os exemplos da Tunísia e do Egipto. Quem começou usar a repressão violenta, a força e gás lacrimogéneo foram os despóticos regimes. E por isso seus povos têm um problema de fundamental de identificação com os “eleitos”. Milhões de eleitores egípcios e árabes não votaram. Houve a violência, houve fraude eleitoral. Por isso eu bem-vindo nascimento de uma verdadeira democracia egípcia a coragem e o idealismo do povo. Contraio a todos os receios, os manifestantes pró democracia em Cairo são pacíficas, recolhiam o lixo, estabeleciam a ordem e partilham bebidas e comida. Com outras palavras: há uma enorme solidariedade entre os cidadãos em vez da desestabilização prognosticada pelos cronistas da praça. A verdadeira democracia e a liberdade não são ameaças, são oportunidades para os jovens adultos e idosos da África Negra, seja em Moçambique, seja no Zimbabué. Ninguém dos tiranos e pseudo democratas vive para sempre. Todos os povos desejam reformas democráticas e nunca vão esquecer o que os egípcios estão fazendo. No caso moçambicano, a única auto-destruição visível para mim é aquela da reputação do regime de Guebuza. Se eu tivesse a possibilidade de escolher entre “um aliado de Mugabe e a somalização”ou entre "a FRELIMO ou os saqueadores", com certeza votará para um partido que se foca nos Direitos Humanos, na liberdade, democracia, na vontade do povo moçambicano e na redistribuição das riquezas ilícitas da nomenclatura. Por isto estou do lado das multidões pacíficas na Praça Tahrir que pedem democracia e a demissão de Mubarak até sexta-feira. Envio meu amor e a minha solidariedade ao povo de Egipto.

Um abraço
Oxalá

Anónimo disse...

Muito obrigado Sr. Karim e Sr. Oxala.
Concordo plenamente com a vossa visão, é pena que os vencedores da eleições de 2009, não tenham ainda essa visão moçambicana-ALTRUISTA.
Mas ainda estão a tempo.
Deveriam ter "sorvido o sumo" do Jacob Zuma, ao responder ao Mundo, após estrondosa vitória, com uma inclusão de 63,5%, seja há menos ANCs no tomada da decisão administrativa do Governo.
É pena , porque o PR AEG, tem esse poder nas mãos, e não o utiliza em prol da DECAPITAÇÃO DA POBREZA NO SOLO MOÇAMBICANO!
Considero que a sociedade civil moçambicana, deveria promover colóquios, em que deveriam tecer considerações sobre a maneira de atitudes pouco moçambicanas da classe política, de modo a corrigir as grandes assimetrias regionais.FAZER UM PEDIDO PACÍFICO DE INCLUSÃO, DEFENDENDO A MOÇAMBICANIDADE.
Somos um País muito pobre, mas bem referenciado internacionalmente, devido ao subsolo moçambicano.
BEM GOVERNADO, MOÇAMBIQUE NÃO PRECISARIA 5/8 ANOS PARA DECAPITAR A POBREZA!
REPITO BEM GOVERNADO, NÃO COMO ALGUNS PAÍSES AFRICANOS (Angola ex.)!

Fungulamasso

Reflectindo disse...

Sabe-se que uma revolução do tipo Tunísia ou Egipto é mais cara e de difícil controle e reparação para a maior parte dos países a Sul de Sahara. É de difícil controle porque muitos dos nossos académicos preferem apoiá-la por remote controle que enfrentá-la directamente, isto entre alguns problemas. Também sabe-se que esse tipo de revolução pode acabar por transformar-se em guerra civil...

A maior questão é como evitar e a quem cabe o papel de evitar a explosão social ou a quem coube as explosões sociais. Vejamos, as eleicões em sufrágio universal depois de décadas de monopartidarismo em África foi para a reduzir senão erradicar golpes estado e guerras civis em África. Mas na prática, em muitos países africanos, as eleições isentas de muita trafulhice e fraude tiveram lugar nos finais da década 80 e princípios da década 90, logo após a queda do Muro de Berlim. Nessa altura, alguns países conheceram alternância política. Nessa altura não havia havia mais africanos com alto nível académico que nas últimas décadas. O que aconteceu, é que nas últimas décadas desenvolveu-se em muitos países africanos uma estratégia de se ficar permanentemente no poder, passando por falsas eleições que mesmo em situações claras que a oposição ganha, se fazem golpes pós-eleitorais com ajuda de académicos afectos nas comissões eleitorais e conselhos ou tribunais constitucionais ou tribunais superiores. O que se passou na Côte d’Ivoire é apenas Iceberg de toda trafulhice nas eleições eleições em muitos países africanos. O mesmo se pode questionar nos casos da Tunísia e Egipto onde houve eleições recentemente e os candidatos e partidos no poder foram vencedores com acima de 90 % dos votos, mas são severamente contestados pelos eleitores. Também vimos isto no nosso próprio país. A minha pergunta é quem os havia eleitos?
Um outro problema é que se abstenções ou boicote à eleição é um protesto pacífico e democrático, no nosso continente são consideradas um consentimento aos regimes ditatoriais para fazer tudo ao seu bel prazer.

Infelizmente, mesmo no nosso país se mostrou que só revoltas populares podem causar mudanças da mentalidade dos nossos dirigentes, goste isso alguém ou não. Só para ver, se desde 2007 muitos moçambicanos incluindo parlamentares criticavam o esbanjamento com o uso de seis helicópteros em chamadas presidências abertas, só com 1-3 de Setembro foi possível fazer o governo recuar. Isto não é diferente do que os tunisinos e egípcios fizeram recentemente.

Em tudo isto fico reflectindo sobre que método África deve usar para alcançar mudanças.

Não concordo com a sugestão que vi algures na blogsfera que o melhor seria que o poder se bipolarizasse e alternância podia passar entre dois partidos de 10 em 10 anos. Isto também provou-se não ser melhor porque não dá poder ao povo, mas apenas aos líderes dos (dois) maiores partidos partidos, criando assim o lambebotismo e yesmanismo no sei da classe académica.

Portanto, parece-me que ao menos que os políticos africanos entendam que o sufrágio universal (justo, imparcial e livre), a democracia, a inclusão, promovem paz, justiça e desenvolvimento, as mudanças mesmo na África Negra, passarão por revoltas populares nas ruas. É doloroso, mas isto parece ser a nossa realidade. Se os nossos políticos quiserem que aprendam do Botswana, Cabo Verde, Gana, Maurícias, entre os poucos países africanos apostados em democracia.

Meus caros, os que praticam trafulhices e fraudes eleitores e exclusão em África, são os verdadeiros traidores do continente – os promotores da instabilidade. Há que termos esta consciência para saber a quem merece a nossa condenação.

Anónimo disse...

"E considero que para Mocambique a unica via possivel 'e mesmo a Inclusao, "abertura politica", capacidade de integracao de profissionais qualificados para areas sensiveis de gestao, quer social quer economica, distribuicao de opurtunidades sem discriminacao partidaria, e forte investimento na educacao,"

"Meus caros, os que praticam trafulhices e fraudes eleitores e exclusão em África, são os verdadeiros traidores do continente – os promotores da instabilidade. Há que termos esta consciência para saber a quem merece a nossa condenação."
Assinado..."SINTETIZADO".
Obrigado Reflectindo por esta singela afirmação.
Que os DIRIGENTES POLÍTICOS moçambicanos comecem a corrigir-porque ainda estamos a tempo-e temos a justificação NOBRE-"DECAPITAR A POBREZA", VALE TUDO, até termos opositores e independentes na governação-seja toda socioedade civil moçambicana local e diasporina.
Basta haver vontade "nos mais velhos da Frelimo"
Mal que pergunte, e se esses "VELHOS DA FRELIMO", forem corridos pelos mais novos, ou estarem a caminho da SENILIDADE, COMO É?
E SE O POVO VIER A RUA PACÍFICAMENTE EXIGIR QUE ESSES "VELHOS" SE REFORMEM DEFINITIVAMENTE, COMO
É?
O exército jovem irá apoiá-los?
A polícia, essa para manter a ordem, sempre apoiará, porque a pequena corrupção está generalizada nas forças policiais, e , é muito difícil controlá-la.Está dominada por FALCÕES!

Fungulamasso