Beira (Canalmoz) - Caro amigo da Rua 19/19,
Tenho em mãos o “Pravda”, desculpa, o “Mentícias”, desculpa, o “Notícias” do dia 29/06/13, com uma tua laboriosa dissertação, sobre o nosso antigo Ministro Residente (1982-1983), o antigo Ministro sem Pasta, o também chamado o Glorioso Maravilhoso Luz de Murrupula, ainda, o Clarividente, mais ainda, o Rei Sol.
Não estranhei, pois para quem te viu no congresso de Pemba de Setembro passado, só poderia estar atento aos sinais. Não me estranha nada este choradinho delicodoce ao Clarividente.
Assombrou-me, porém, (1) o teres feito tábua rasa às estatísticas internacionais sobre a situação da democracia moçambicana, o que, pelo nexo de casualidade, fazes lembrar-me o propagandista Paul Goebbels, em seus tempos felizes.
Alguns dos colegas do “Pravda” que privam comigo têm se queixado da formatação a que estão sujeitos à mão dos fiéis do Glorioso Maravilhoso Luz de Murrupula, dentro da publicação, daí que no ponto em que te referes (2) a liberdade de expressão vi-me de boca aberta e a perder saliva, de tanta indignação. Não me parece que andas neste mundo. Outro dia ouvi o Clarividente a dizer que “o Facebook é uma fábrica de sonhos inalcançáveis”. Tu que andas por Maputo pergunta ao Hermínio dos Santos, ao Jorge Arroz o que se lhes passou quando quiseram usar do direito de expressão. Não é por acaso que Jorge Rebelo, decano do partidão, afirmou que “as pessoas não falam à vontade dentro da Frelimo e na sociedade”. Com a chegada do Clarividente o espectro de medo regressou à nossa sociedade.
Caro amigo da Rua 19/19, para quem te viu e quem te vê neste artigo, não te pode reconhecer, sinceramente. É uma omissão pura e grave. Não pareceste em nada aquele rapaz lúcido, que creio, aos seus catorze ou quinze anos, em 1982, despertaste-nos da utopia socialista que nos impuseram. Lembro-me que em 1982 estudava-se no Centro Social do Bairro do Macurungo, as Teses do 4º Congresso da Frelimo, ao que o subverteste, nos termos seguintes: “Estão a estudar as fezes do 4º Congresso”. Posso já entender porquê te faltou a coragem, pois, senão vejamos a sincronicidade: Era então o Clarividente o Ministro Residente em Sofala.
Caro amigo da Rua 19/19, não é só tu que mudaste muito. Muita gente na nossa sociedade mudou-se de certo conforto e à vontade, por um silêncio sem precedente. O Clarividente impôs obrigação do registo dos cartões dos telemóveis. Há mais telemóveis e há mais gente a falar neles, não sem sentirem o receio de que estejam a ser escutados pelos agentes do Todo-poderoso. O Clarividente herdou um Estado livrem em liberdade de expressão e introduziu um regime policial. Convido-o a ver relatórios sobre quanto o Estado gasta com os fofoqueiros do SISE.
Ao te referires que o Clarividente alargou o estágio da (3) democracia não me segurei (algo incrédulo, algum instinto tomou a minha hipófise e a minha boca abriu-se mais e o cuspo caiu na folha em que te publicaram o artigo). Desculpa. Não foi por desprezo que o fiz.
Caro amigo da Rua 19/19, devias é teres estado atento à saga do 10º Congresso, onde o Clarividente promoveu a sua predilecta cria, deixando ao seus correligionários mais boquiabertos que eu.
Estranho é que não vês que o Generoso Maravilho Luz de Murrupa cada vez mais promove caixas de ressonâncias, que pela forma como repetem as suas palavras da base até à nação não escamoteia que clonou os seus colaboradores. Só quem não esteve no País é que não terá se assombrado a ver os nossos famigerados dirigentes repetirem “no âmbito da estratégia do combate à pobreza absoluta e das orientações definidas pelo nosso Clarividente...” Voltou-se aos tempos das orientações. Os tecnocratas sujeitaram-se às acrobacias e não pensam de acordo com as suas potencialidades e capacidades inatas.
Estranho que o meu amigo se refere que o Clarividente inaugurou o (4) modernismo no País. Só concordaria contigo se as nuances do modernismo significassem a personificação do Governo, do Estado, da Economia e do Partidão.
Devias é teres estado presente no dia 27/07/ 2009, na Munhava, quando lhe catapultaram a Rei Sol. Primeiro os livros de Ponto da Função Pública foram levados ao aeroporto Internacional da Beira, para os funcionários lá os assinarem. De boca aberta (parece que tenho que arranjar um palito para mantê-la assim) assisti, durante mais de meia hora, o agora Primeiro-Ministro a arrolar o arroz, milho, cabritos, vacas, gergelim, madumbe, etc, recolhidas por todos os distritos e postos administrativos de Sofala, para o ofertarem, como que em gesto de tributo, ao Clarividente. Talvez só para espelhar a insaciez e o falso modernismo. Com o Clarividente ressento vivermos no feudalismo. Por isso, há que desguebuzar as mentalidades que acreditam que é normal a corrente do modernismo que ele está a introduzir.
Oferta do pobre povo ao Clarividente Presidente Rico. Uma heresia. Um absurdo, para um cidadão sensato. E é isso que se passa nas Presidências abertas: O pobre oferecendo ao Rico, para o pobre Rico ficar mais Rico e o pobre ficar mais pobre.
Meu caro amigo da Rua 19/19, gastaste muita tinta a falar da (5) inclusão pugnada pelo Glorioso Maravilhoso Luz de Murrupula. Foi como tapares o sol com a peneira.
O factor Glorioso Maravilhoso Luz de Murrupula, por razão de causa/efeito é, indubitavelmente, hoje, o principal problema nacional, por promover corrupção, nepotismo, intolerância, exclusão e prepotência.
O factor Glorioso Maravilhoso Luz de Murrupula, se é que não tens comido muito queijo, é um detractor da liberdade de expressão, a ponto de com a sua imaginação fértil de poeta apodar os críticos da sua gestão corrupta e nepotista, de “tagarelas”, “intriguistas” e “apóstolos da desgraça”.
Caro amigo da Rua 19/19, resulta que entre os moçambicanos, o diapasão da voz do Glorioso Maravilhoso Luz de Murrupula é a que mais se ouve na “TVM” e “RM” (os ÊME’s destas duas instituições são do Maravilhoso ou de Murrupula), porque só ele consegue o mistério e a magia de se incorporar nos administradores distritais, chefes dos postos, directores distritais, directores provinciais, secretários permanentes, ministros, vice-ministros, directores nacionais, chefes da mobilização e porta-vozes do partido e Governo, que o repetem no discurso. Aquele que não afina pelo diapasão da voz do omnipotente e omnipoderoso Clarividente tem o desmentido garantido na imprensa. Veja os casos Madebe e do secretário de Mobilização e propaganda da Frelimo em Quelimane.
Caro amigo da Rua 19/19, não escamoteio aqui o que é comum ouvir-se nas conversas, no seio do povo, nos bairros populares, nos subúrbios e cidades de cimentos moçambicanos. Por suas pessoais fraquezas (a alma é fraca, reconheço-o) e pecados capitais (a gula não faz bem – a bíblia e o alcorão disso falam) claramente o povo busca a esperança refugiando-se nos discursos do malogrado Samora Machel que dizia “há gente que está connosco e que quer ficar com tudo isso”. O Clarividente representa o tal rosto oculto que Samora Machel denunciava e que hoje aparece num simulacro de nacionalismo, para disfarçar a sua ambição pessoal no concurso ao enriquecimento ilícito, atendendo que joga o papel de agente comercial usando os seus testas-de-ferros, com que defrauda o Estado.
Samora Machel sabia muito bem para quem direccionava os seus discursos, quando dizia que “Um ambicioso nunca muda, mas sim muda de táctica”. O ambicioso está claramente identificado.
É iniludível! Quando pela tristeza as pessoas buscam consolação à almofada do passado é porque o presente tornou-se um desastre de que não querem mais recordar. Temos que capinar a esperança no chão da pátria obstruída por abutres com fatos de cordeiros e patriotas, para permitir o êxodo na estrada do desenvolvimento e do bem-estar igual para todos.
Há um afunilamento da base económica neste País, que é preciso resolver. O circuito comercial não pode estar apenas nas mãos do Glorioso, da sua santa filha do Dia dos Namorados e do seu núcleo restrito. É o clã do Clarividente que mais se expressa e prospera nas minas, nas águas, nos transportes, nas pescas, nos portos. O Clarividente multiplicou as operações e cirurgias plásticas para aumentar o volume dos seus negócios, do seu estômago.
No que tange aos (6) homens armados da Renamo, que disseste terem tentado golpear o Estado em 1994, abstenho de pronunciar-me porque na tua acusação não há corpo de delito, não há o elemento flagrante delito, bem como circunstâncias de modo e lugar.
A bem da verdade! (Adelino Timóteo)
Retirado do mural do Matias Guente
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