segunda-feira, dezembro 18, 2006

Molequismo político

Canal de Opinião - por Noé Nhantumbo

Os intelectuais de hoje e os revolucionários de ontem

Beira (Canal de Moçambique) - Ontem o intelectual era o revolucionário mesmo que de revolução não entendesse nada. A aparência, a capacidade de repetir com fervor as palavras de ordem e outra ladainha revolucionária era tida como importantíssima. A primeira República no país foi um período muito conturbado do ponto de vista ideológico. Assistiu-se ao estabelecimento de uma nova «nomenklatura» e com isso a toda uma fabricação à pressão de “revolucionários”.

Na verdade eram seguidores cegos de líderes a quem se devia prestar o culto de personalidade. Quem não copiasse, não seguisse, não imitasse, não cumprisse, não idolatrasse o líder corria o risco de ser considerado reaccionário. As consequências disso eram a reeducação, o trabalho forçado, a lavagem cerebral. Era o reino do embrutecimento da mente individual e da consciência colectiva. Era o reino dos bajuladores e dois informadores, vulgo «bufos». Muitos dos democratas de hoje eram informadores da “secreta” e com isso ganham o título de revolucionários. Outros especializavam-se a escrever discursos de elogios aos líderes.

Da primeira à terceira República «muita água passou por baixo da ponte». Mas para infelicidade do país e do seu povo há uma coisa que não se alterou que é o “seguidismo”.

Não cabe nestas linhas discutir o mérito da revolução ou da actual situação política. O que queremos questionar é o molequismo político que se tem estado a desenvolver no país: esse seguir cego; a imitação pobre dos pronunciamentos do líder; a cópia, a incapacidade de pensar e agir com independência e criatividade produz uma massa amorfa de colaboradores que não trazem mais-valia para o processo.

Pode parecer cómodo para o chefe ter subordinados que não questionam, mas a verdade é que acaba sendo mais trabalho para o tal chefe.

O combate contra a “pobreza absoluta” tão propalado corre um sério risco de ficar nas palavras porque os intelectuais, funcionários seniores e subalternos, em geral, não passam de “caixas de ressonância”. Qual papagaios!?...

Agradar ao chefe para sobreviver é um conceito que está tendo resultados nefastos aos esforços que se fazem para desenvolver Moçambique. A doença da imitação e do molequismo alastrou-se e já afecta todos os sectores da vida nacional.

Até companhias culturais tem de render-se a isso. A troco de uns parcos fundos públicos bajulam e adoram o regime do dia sem que alguém se manifeste e se indigne.

Não estou contra o posicionamento político de ninguém mas não podemos aceitar o suicídio político e intelectual de toda uma nação em nome do “estômago”. Moçambique por este caminho acaba tornando-se um feudo de uma elite depredadora da «Pátria Amada», sustentada por um bando de «papagaios» esfomeados, ou homens sem carácter e sem personalidade. Que orgulho poderão ter os herdeiros de uma cidadania construída a ração e desprovida de conteúdo no conjunto das nações?...

(Noé Nhantumbo)


Canal de Mocambique 2006-12-18 08:28:00

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