A última carta da “Makua” reaccionária
Foi preso político da PIDE durante 3 anos. Marido da famosa “reaccionária” por 2 meses. Um crime fez dele um “viúvo” que ainda precisa de andar pelos meandros dos tribunais para poder dar uma avó «de jure» aos netos das suas segundas núpcias, apenas porque o consideram não livre do casamento com Joana Simião. Não procura vingança. Quer oficializar o segundo casamento e fazer um funeral condigno àquela que foi sua mulher em primeiras núpcias.
Visitou ontem o «Canal de Moçambique» e ofereceu-nos a última carta da mulher que a Frelimo mandou fuzilar por ter desafiado o totalitarismo de Estado. Seu pecado: acreditava na Democracia pluralista em que hoje os que a mataram também fazem crer que acreditam e assim propiciam a reconciliação que falta à grande família moçambicana.
(Maputo) “Francisco Manuel. Moçambique nos uniu.
Parece que esse mesmo Moçambique vai-nos separar. Tenho do futuro de Moçambique a ideia de que
nele deverão coabitar todos sem excepção e que ele não deve sair dum colonialismo para cair noutro.” Foi textualmente assim que Joana Simião começou por dizer adeus ao homem com quem se matrimoniou às 10:15h do dia 30 de Março de 1974, nem mais nem menos a 26 dias do princípio do fim do regime colonial português a que soldados a soldo de Salazar/Caetano, convertidos entretanto à razão, acabariam por lhe pôr termo, abrindo a possibilidade de um sonho aos portugueses que em Moçambique uns interromperam e só depois de muito mais sangue e famílias destruídas, também se abriria aos moçambicanos. Hoje o caminho está aberto. Hoje, destas coisas, aqui também se pode falar sem medo. Pelo menos até ver...
A carta que ela escreveu a Francisco Joaquim Manuel, hoje chefe da bancada da Renamo na Assembleia Muncipal de Inhambane, é datada de 09 de Junho de 1974.
“Assumo as minhas opções com todas as consequências”
“Assumo, uma vez mais, as minhas opções com todas as suas consequências”, lê-se logo a seguir no manuscrito de despedida ao seu então marido.
“Vou para a casa de meus pais descansar e resolver o problema da campanha caluniosa contra mim.”
“Os que pensam ter abatido a alma do GUMO enganaram-se redondamente”.
“A confrontação total que se avizinha” ou a guerra civil dos 16 anos?
“Isto não é mais do que o preâmbulo da confrontação total que se avizinha”, prossegue Joana Simião.
“Tomei providências quanto à mudança da casa para o meu nome.
Assegurarei o pagamento da criada e despesa da casa toda.
Tomarás a tua decisão em função das tuas opções e sem ressentimentos ” .
“Amo Moçambique acima de tudo”.
“Joana Simião – Lourenço Marques 09/Junho/1974”.
PÚNGUÈ - 23.11.2006
Foi preso político da PIDE durante 3 anos. Marido da famosa “reaccionária” por 2 meses. Um crime fez dele um “viúvo” que ainda precisa de andar pelos meandros dos tribunais para poder dar uma avó «de jure» aos netos das suas segundas núpcias, apenas porque o consideram não livre do casamento com Joana Simião. Não procura vingança. Quer oficializar o segundo casamento e fazer um funeral condigno àquela que foi sua mulher em primeiras núpcias.
Visitou ontem o «Canal de Moçambique» e ofereceu-nos a última carta da mulher que a Frelimo mandou fuzilar por ter desafiado o totalitarismo de Estado. Seu pecado: acreditava na Democracia pluralista em que hoje os que a mataram também fazem crer que acreditam e assim propiciam a reconciliação que falta à grande família moçambicana.
(Maputo) “Francisco Manuel. Moçambique nos uniu.
Parece que esse mesmo Moçambique vai-nos separar. Tenho do futuro de Moçambique a ideia de que
nele deverão coabitar todos sem excepção e que ele não deve sair dum colonialismo para cair noutro.” Foi textualmente assim que Joana Simião começou por dizer adeus ao homem com quem se matrimoniou às 10:15h do dia 30 de Março de 1974, nem mais nem menos a 26 dias do princípio do fim do regime colonial português a que soldados a soldo de Salazar/Caetano, convertidos entretanto à razão, acabariam por lhe pôr termo, abrindo a possibilidade de um sonho aos portugueses que em Moçambique uns interromperam e só depois de muito mais sangue e famílias destruídas, também se abriria aos moçambicanos. Hoje o caminho está aberto. Hoje, destas coisas, aqui também se pode falar sem medo. Pelo menos até ver...
A carta que ela escreveu a Francisco Joaquim Manuel, hoje chefe da bancada da Renamo na Assembleia Muncipal de Inhambane, é datada de 09 de Junho de 1974.
“Assumo as minhas opções com todas as consequências”
“Assumo, uma vez mais, as minhas opções com todas as suas consequências”, lê-se logo a seguir no manuscrito de despedida ao seu então marido.
“Vou para a casa de meus pais descansar e resolver o problema da campanha caluniosa contra mim.”
“Os que pensam ter abatido a alma do GUMO enganaram-se redondamente”.
“A confrontação total que se avizinha” ou a guerra civil dos 16 anos?
“Isto não é mais do que o preâmbulo da confrontação total que se avizinha”, prossegue Joana Simião.
“Tomei providências quanto à mudança da casa para o meu nome.
Assegurarei o pagamento da criada e despesa da casa toda.
Tomarás a tua decisão em função das tuas opções e sem ressentimentos ” .
“Amo Moçambique acima de tudo”.
“Joana Simião – Lourenço Marques 09/Junho/1974”.
PÚNGUÈ - 23.11.2006
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