quarta-feira, julho 30, 2008

Raimundo Samuge - caso para minha reflexão (1)

Acabo de ler aquilo que o Jornal Notícias gosta de escrever como forma de satisfazer à Frelimo. Não é que o Jornal Notícias não devia escrever casos deste tipo que no geral contribuem para a nossa reflexão sobre a nossa democracia, o funcionamento dos partidos políticos e se calhar também para a reflexão dos próprios políticos. O que cria crítica em mim ao Jornal Notícias, aquele que é do Estado Moçambicano e que devia trabalhar em prol de informação aos contribuintes, note-se, todos os contribuintes independemente da sua filiação partidária, é que o jornal só serve para bajular à Frelimo e com certeza com intenções de destruir quadros de outros partidos, sobretudo, dos mais directos adversários do partidão.

Nota-se que o Notícias pode escrever todo o mal que se passa na Renamo, mas nunca o que se passa na Frelimo. Se há algo para os dois principais partidos, o Notícias conta a metade da história sem sentir alguma culpa. Assim advertira o saudoso Carlos Cardoso aos órgãos de imprensa pública aquando das manifestações de Montepuez, em Novembro de 2000. Com certeza, se eles pudessem contar as duas metades de cada história, servir-nos-iam de educador e informador, ao invés de estarmos a duvidar da veracidade mesmo dessa metade de história já contada.

O título de uma peça de notícia devia dizer-nos o conteúdo da mesma, mas parece-me que o Notícias quando quer se servir do artigo para propagandas ao serviço do partidão, prefere deixar o leitor atento um pouco confuso. Eis este títuto que julgo não ajustar-se ao conteúdo: Baixa de vulto: Raimundo Samuge abandona Renamo. É bem possível que Samuge tenha dito a intenção de abandonar a Renamo, mas o jornalista escreveu bem sublinhado que Raimundo Samuge escreveu carta ao partido e está a tratar o assunto pelos canais apropriados. Eu não diria aqui que Samuge revelou o conteúdo da sua carta.

Pelo que Raimundo Samuge fala, isto é, sua suspensão que já vai há mais de um ano, a recusa tanto do Secretário-geral como do Presidente do partido Renamo de o receber para definir a sua situação, é legítimo que ele fale à imprensa para dela receber um apoio de pressão aos órgãos do seu partido para resolver a sua questão. A imprensa numa sociedade democrática serve para isso. Mas é má fé quando um jornal se quer servir dele para propagandas políticas. Desta forma, a pessoa é duplamente vítima.

Por um lado, se o Notícias quisesse fazer jornalismo puro duma sociedade democrática, tenho em mim, que pegaria nos estatutos do Partido Renamo, para averiguar o cabimento do caso Raimundo Samuge. Se necessário, usaria um jurista para interpretá-lo. Por outro lado, o jornal(ista) procuraria falar com as duas figuras referidas por Raimundo Samuge, nomeadamente, o secretário-geral, quem é dito em ter exarado o documento de suspensão e ou o Presidente do Partido a quem ele dirigiu a sua carta. O Notícias ao escrever que contacta o porta-voz do partido, parece estar a fugir da sua responsabilidade.

domingo, julho 27, 2008

O Presidente Guebuza e a tradicão democrática

Quando atribui a este blog o nome de Reflectindo sobre Mocambique, não foi por acaso, mas porque tudo o que é da minha pátria amada e sobre ela, dá a mim um exercício de reflexão. Isso implica para mim questionar, questionar e questionar. Não tenho respostas exactas das minhas perguntas, mas apenas o meu ponto de vista sobre elas. Muitas vezes as respostas vêm dos comentadores e aí agradeço a eles.

Escutei em directo o discurso do meu presidente, o Presidente da República de Moçambique, Armando Emílio Guebuza, em Matchedje, no local da realização do segundo Congresso da Frelimo, dizendo que democracia e eleições secretas era uma tradição da FRELIMO, pois em Matchedje, em 1968, fez-se o mesmo. O meu Presidente até repetiu e avisou que repetiria esse facto consciente que pelo discurso, o meu presidente havia convencido a muitos mocambicanos sobre a tradicão democrática da Frelimo. Houve aplausos e rigozijei-me, pois acima de tudo senti que muitos moçambicanos, incluindo membros da Frelimo gostam de democracia e voto secreto. Isso nos une.

Porém, sem querer julgá-lo, mas chamá-lo à consciência, o discurso do meu Presidente fez-me não parar na reflexão sobre o meu Moçambique e sobre a prática da democracia.

Ora, no II Congresso, foram democraticamente eleitos Eduardo Chivambo Modlane a presidente e Urias Simango a vice-presidente. O presidente, Eduardo Mondlane, foi morto e o vice-presidente, Urias Simango expulso do partido. Pode o meu presidente explicar bem os factos? Não será que na celebração dos quarenta anos do congresso da vitória fosse altura também da verdade? Fez-se alguma facilidade para um estudo político muito profundo a partir do que se gastou do erário público para a realização deste evento? Houve algumas vozes que embora em discreto falaram de Lázaro Nkavandame e Mateus Guenjere, mas eu gostaria é saber das acusações que pesaram nestes.

O que não me faz gostar do jornalismo moçambicano é o facto de ele não ser investigado e menos ousado. O jornalista moçambicano não procura falar com o PR em questões onde só ele é quem decide. O jornalista mocambicano não procura o presidente do partido para explicar o que lhe cabe. E, assim ninguém perguntou ao presidente sobre a interrupcão da prática de eleicões secretas.

Também sabemos que o Primeiro Congresso da Frelimo, realizado em 1962, foi democrático. Então, pode o meu presidente explicar como foram os congressos seguidos (terceiro, quarto, quinto, sexto...). Uma das perguntas importantes é: onde pararam os democraticamente eleitos no segundo congresso? 0s órgãos eleitos funcionaram ou não? Matchedge será histórico se houver honestidade por parte dos historiadores.

quinta-feira, julho 24, 2008

Gentil convite à demissão em bloco

Por David Aloni

Sobre o Zimbabwe e sobre o déspota e sanguinário Robert Gabriel Mugabe, já não há mais nada a dizer, mas ainda há muita tinta para correr, da mesma maneira que, sobre a confrangedora vergonha, cobardia e cumplicidade criminosa, dos líderes e dirigentes da SADC, também tudo já foi dito e escrito a ponto de, nos bastidores e abertamente, não se falar doutra coisa que não seja o descrédito total e absoluto da liderança actual da SADC.
Impávido e sereno(?), Robert Mugabe tomou posse pela, 6º vez como Presidente(?) dos Zimbabweanos(?) por mais um mandato 5 anos, e já soma 84 anos de idade. Portanto, está senil e decrépito, mental e psicologicamente incapaz de atinar e discernir seja o que for para o bem-estar do povo do Zimbabwe.
Por azar e desgraça dos Zimbabweanos, Robert Mugabe tem, como sua cara metade, uma mulher louca, esquizofrénica e extremamente ambiciosa e sedenta de sangue e poder para continuar a cavalgar os Zimbabweanos, sob capa de Primeira Dama da República.
A Grace Mugabe já se intitula de dona e proprietária do palácio presidencial, onde, segundo ela, Morgan Tsivangirai nunca porá os pés, porque não tem nível nem categoria para tal. Veja-se só até onde pode chegar a loucura de uma mulher que, ao que tudo poderá indicar, se terá casado com velho por mero interesse e ambição material, pois, custa acreditar que o tenha feito por puro amor a um velho já tão decrépito, incapaz e senil.
Desde que Robert Mugabe enveredou pelo caminho da reforma agrária esquizofrénica, com uma boa dose de paranóia política na sua máxima virulência, fez e desfez tudo a seu bel-prazer, e os lideres da África Austral, congregados na SADC, não tugiram nem mugiram. Pura e simplesmente “deixaram andar” e continuam a “deixar andar” até que se atingiu o ponto máximo (“acmé”) da loucura do camarada do clube a que todos pertencem. E, entanto que camaradas, a solidariedade ideológica é uma palavra de honra e de ordem de cumprimento obrigatório, porque os acordos escritos e as alianças ideológicas são invioláveis, porque indeléveis.
Por isso, toda a liderança da SADC, à excepção da nova geração, representada por Levy Mwanawassa, Ivan Seretse Khama, Jakaia Kikwete e Raila Oginga Odinga, respectivamente, Presidente da Zâmbia, do Botswana, da Tanzânia e Primeiro Ministro do Kenya, ficou queda e muda. Toda estupefacta(?) e feliz, porque o camarada Mugabe, depois de promover a mais violenta opressão e repressão da Oposição, através de uma violência maquiavélica, sem precedentes na história daquele país vizinho de Moçambique. E é curioso notar-se que nem o colono britânico e muito menos o líder da UDI, Ian Smith cometeram tais excessos e atrocidades contra o povo, que, com o advento da democracia, esfregou as mãos de contente e feliz e optou pelo MDC e seu Líder Morgan Tsivangirai, tendo derrotado, democráticamente, a 29 de Maio de 2008, o monstro que aterrorizava o Zimbabwe, apoiando-se nos seus capangas, os ditos veteranos da Luta de Libertação, os quais se transformaram em vampiros como o próprio Líder se transformou.
A “diplomacia silenciosa” do Presidente Sul-africano, Thabo Mbeki, é a expressão máxima e clarividente de cumplicidade criminosa e solidariedade ideológica, entre camaradas da e na mesma trincheira, facto que pode confirmar que países como Angola, África do Sul, Moçambique, Namíbia, Zimbabwe, não estão muito interessados na democracia genuinamente pluripartidária como, e efectivamente, acontece, nos países “ civilizados” do ocidente.
Depois de tudo quanto aconteceu, no Zimbabwe, culminando na vergonhosa e precipitada tomada de posse do ditador Robert Mugabe, na noite se 29/06/08, devidamente apadrinhado por Thabo Mbeki, na sua qualidade de mediador, designado pela SADC, composta por comparsas seus, África Austral ficou manchada e perdeu o brilho respeito e dignidade perante o Mundo “Civilizado”.
É imperativo, por conseguinte, resgatar a nossa honra e dignidade. Essa nobre missão é aos jovens que caberá levar a bom termo, porque à velha geração só lhe espera a tumba e nada mais. Daí que, a nova geração deveria, desde já, tomar as rédeas dos destinos de cada um dos Países de África Austral, onde os seus actuais líderes se revelaram, vergonhosamente, incapazes e incompetentes sob todos os títulos. Por isso, são todos convidados a demitirem-se em bloco.
E não venham cá com evasivas e desculpadas esfarrapadas de que “os jovens podem vender o País”, porque este (Moçambique, por exemplo) já está mais que vendido ao capital imperialismo pela via do FMI e Banco Mundial.
Portanto, não resta mais nada que os jovens possam vender. Os velhos e veteranos já venderam tudo. Até a nossa honra, soberania e dignidade nacionais. Tudo vendido por uma tuta-e- meia, sob pretexto de créditos e financiamentos.
SAVANA - 18.07.2008

quarta-feira, julho 23, 2008

24 de Julho é dia das nacionalizações (1)

A 24 de Julho de 1976 foram nacionalizados os prédios e casas de rendimento, escolas, as terras, as agências funerárias, os serviços de saúde, advocacia entre outros. Para além disto, as igrejas foram fechadas, embora nos meiados da década oitenta tenham sido abertas aos crentes.

Passados 32 anos que reflexão fazemos sobre o processo de nacionalizações e o seu impacto nos nossos dias? Os prédios e casas de rendimento pertencem ainda ao estado moçambicano? Foram devolvidos aos donos? Se não, quem são os novos proprietários? Foi justo o processo? Qual é o impacto?

Qual é o impacto actual das nacionalizações no sector da educação, saúde e agricultura?

sábado, julho 19, 2008

Novo elo - Sobre o GDI "Cidadania e Governação"

Caro leitor, conheca um dos meus elos, o portal do grupo de investigação sobre política e sociedade em África e Moçambique em particular. Clique aqui.

sexta-feira, julho 18, 2008

Auscultar ou informar?

Eis uma notícias publicada pela TVM:

AUSCULTAÇÃO SOBRE AJUSTAMENTO TERRITORIAL DA PROVÍNCIA DE MAPUTO2008/07/17 - 15:48O

O governo da província de Maputo está a auscultar as estruturs de base e a sociedade civil sobre a proposta de ajustamento territorial dos distritos, postos administrativos, localidades e povoações.~

O processo poderá culminar com a elevação de 15 povoações já identificadas à categoria de localidades, bem como com a criação do distrito da Matola.


É uma escultação ou apenas uma informação da decisão do governo em esquartejar o país para fins puramente politicos?

Primeiro, se auscultar é ouvir a opinião de alguém sobre alguma coisa, pode-se entender que o auscultador terá em conta a opinião ao tomar uma decisão. Neste caso está dito que a elevação de 15 povoações à categoria de localidades está decidida, então, porquê uma auscultação?

Segundo, o plano de esquartejamento do país, que tem a sua primeira causa o município da Cidade da Beira, já vem anunciado desde os finais de 2006, leia aqui. O plano nunca foi um projecto submetido ao povo para uma se ouvir a opinião e mesmo assim houve vozes que se pronunciariam sobre, mas que nunca foram consideradas. Em Novembro de 2007, o Conselho de Ministros apreciou positivamente a proposta submetida pelo Ministério da Administração Estatal, leia aqui, sem dare em conta a importância a uma ascultação sequer à sociedade civil. Não será uma farsa ao dizer-se agora que está-se a promover uma auscultação?

quinta-feira, julho 17, 2008

Os problemas da oposição

Segundo o Notícias online, o Partido para a Paz, Democracia e Desenvolvimento (PDD) renunciou há dias ao estatuto de membro do Centro de Promoção da Democracia Multipartidária (CPDM).

Os problemas organizacionais, funcionais e de gestão do CPDM são preocupante e sobretudo revelam a insustentabilidade deste Centro, atendendo que se pretende por este meio, desenvolver o processo democrático em Moçambique.

Mas a minha inquietação é mais sobre o porquê haver estes problemas que julgo não haver razão de existir? Porquê é possível por exemplo que desde Abril, o fim do mandato da presidência do André Balate, nunca se tenha realizado a Assembleia geral que elegeria o novo presidente ou passaria a presidência a um novo partido se isso fosse de consenso dos partidos membros?

Quo vadis, nossa oposição? Desta maneira, não está se asfixiando a democracia multipartidária?

domingo, julho 13, 2008

Liberdade não é libertinagem

Por Hilário Mutimucuio

EIS-me, uma vez mais, tentando contribuir para o enriquecimento do debate político em torno de um tema que julgo pertinente no momento político que vivemos. Desde que há já uns meses o deputado Manuel Pereira anunciou a sua intenção de se candidatar à presidência do município da cidade da Beira, as notícias que circulam no país político sobre aquela urbe têm sido inquietantes para todos os que têm visto naquele município o exemplo de boa gestão da coisa pública.

Maputo, Segunda-Feira, 14 de Julho de 2008:: Notícias
São notícias que deixam desconfortáveis todos os que sabem valorizar o trabalho abnegado que alguns compatriotas – como é o caso do engenheiro Daviz Simango e seu elenco- têm estado a realizar em prol do desenvolvimento daquela cidade e do consequente melhoramento do nível de vida dos seus citadinos.

É que efectivamente esse anúncio de intenção de candidatura veio despertar uma amálgama de “dossiers” mal parados que têm ensombrado aquele partido, com destaque para a sempre- infelizmente- presente questão tribal, um verdade em “handicap” que parecia adormecido ou mesmo ultrapassado naquela formação política. E, pior ainda, é que pelos vistos os detractores da Renamo estão mesmo decididos à explorar até a exaustão esse “tribalismo”, facto esse facilitado por indivíduos que aparentemente se fazem passar por porta-vozes de supostas bases, fictícias ou reais, que continuam a fincar o pé na candidatura deste, alegadamente porque o engenheiro Daviz Simango, uma vez chegado ao poder, esqueceu-se deles.

Aparentemente desinteressante, a situação política da cidade da Beira tem suscitado muitas especulações e mexido com muitos interesses- por razões óbvias- como se pode testemunhar em diversos artigos de opinião cujos autores não se cansam de dar lições de democracia a Renamo, fazendo apelos que não são mais que uma clara pressão para que aquela formação política permita a proliferação de candidatos sem nenhuma perspectiva de elegibilidade.

As verdadeiras intenções dessas lições estão claramente patentes na insinuação de que num partido democrático as pessoas têm direitos e liberdades. Pretendem com isso fazer confundir a liberdade com libertinagem. Pretendem fazer confundir o direito de eleger e ser eleito com o desejo de – por vontade própria- querer concorrer e ser eleito para um cargo ao qual o partido- a Renamo neste caso- já tem o seu candidato preferido. Querem fazer crer que a multiplicidade de candidaturas num mesmo partido, mesmo sem o aval deste, é sinónimo de democracia interna. Defendem a emergência de candidatos de recurso num partido político que tem um candidato consensual. Propositadamente, fazem de conta que a democracia pactua com a anarquia ou desregramento. É um gritante absurdo que aqui se defende.

Não distorçamos as coisas. Não existem no mundo inteiro partidos políticos democráticos em que os líderes não tenham de dar um parecer, tomar decisões e até influenciar decisões sobre questões essenciais da vida dos seus partidos. Talvez Dhlakama seja excepção, como temos visto em alguns artigos em que este é crucificado por ter dado o seu voto de confiança a Daviz Simango em nome da coesão, da estabilidade e da disciplina dentro do seu partido, acto esse tido como de contornos tribais, por os dois pertencerem à mesma tribo ou ainda classificado como uma forma de Dhlakama manter Simango na Beira, porque de contrário este podia um dia arrancar o lugar do seu líder.

Ora, senhor Manuel Pereira é indubitavelmente uma figura incontornável da vida política do maior partido político da oposição. Mas um político tido como controverso e declaradamente radical, que cometeu um deslize politicamente fatal com a sua famosa teoria de cancelas para dividir o país, não deve ter nenhuma condição política nem moral para concorrer para um cargo como o que está em causa. Político experiente, ciente do que acabo de referir, o deputado Manuel Pereira não devia sequer ter aventado a hipótese de se candidatar, tendo em conta a polémica que daí resultaria como consequência do exposto. Sabia não ter condições de disputar o mesmo lugar com um homem com um capital político sólido, pragmático, coerente, prudente e bom gestor que apesar de ter pela frente uma oposição com o nome que tem, tem sabido gerir exemplarmente a cidade da Beira tendo até recebido um grande troféu de melhor edil de toda a África Austral em reconhecimento da sua obra. Obra essa que a Beira nunca teve ao longo de toda a história de Moçambique independente.

Voltando ao assunto em apreço, é interessante reparar que apesar de todo o interesse político que representa o cobiçado município da Beira, os principais críticos do engenheiro Simango estão dentro do próprio partido que o suporta politicamente. E, é curioso que não o crucificam por gestão danosa, negligência, corrupção, compadrio ou por incumprimento das suas promessas eleitorais. Crucificam-no, alegadamente, porque uma vez chegado ao poder, pura e simplesmente decidiu dar as costas aos que tudo fizeram para que ele conseguisse aquele lugar, esqueceu-se dos verdadeiros donos da Renamo na Beira.

Ora, face ao exposto, julgo ser legítimo questionar se há algum mérito nessas críticas ou se se pretende apenas criar uma tempestade num copo de água, com intenções claramente definidas. É que pessoalmente julgo que está se a confundir uma virtude com um defeito ou uma fraqueza. Porque entendem as tais bases que, o engenheiro Daviz Simango que jurou fidelidade à nação, que jurou servir condignamente os interesses da população da Beira, devia primeiro servir a eles- os donos do partido- e que só depois devia olhar para Beira. Porém, entendimento igual não tem o edil que, justamente, ciente das suas responsabilidades decorrentes do seu programa eleitoral, coloca acima de tudo os interesses de todos os beirenses, independentemente da sua cor política. É sem dúvidas uma grande virtude, não muito vulgar entre os nossos políticos.

Politicamente falando, a Renamo tem uma grande responsabilidade de dar o suporte necessário ao senhor Simango na Beira, independentemente de tudo o que se possa dizer sobre a sua gestão. Politicamente não pode e nem deve ser a própria Renamo o principal obstáculo de Simango.

Considero que apesar do direito que assiste aos críticos do engenheiro Simango, como membros do partido que lhe suporta politicamente, a atitude destes neste momento que se tem falado de muitas melhorias naquela cidade, graças ao seu mérito como grande gestor, só pode cheirar a ingratidão.
Fonte: Notícias

sábado, julho 12, 2008

Campanha pré-eleitoral

A pré-campanha para as eleições autárquicas, neste ano, as eleições provinciais, legislativas e presidenciais, em 2009, já arrancou. Ela arrancou de diversas formas, umas contestáveis e outras incontestáveis. E quem sabe, ela já tem cunhos genuinamente moçambicanos. Ouso dizer isto que pode se considerar de falta de auto-estima, só que este tipo de chavões não pega.

Em outros países, onde a democracia funciona, onde a vitória eleitoral não se apoia por enchimento de votos nas urnas, inutilização de boletins por agentes da comissão eleitoral com tinta indelível ou manipulação dos dados e intimidação de eleitores entre outros actos anti-democráticos, o povo se beneficia com eleições e sendo consecutivas como estas, significaria duplicar o benefício. O partido no poder que tem o poder constitucional para gerir os fundos públicos, estaria agora a encetar programas de desenvovimento em todo o país, como a construção ou reparação das estradas, de poços de água, de escolas, de saúde, a resolução de problemas de transporte público nas cidades e outros bem básicos num país pobre como o nosso. E porque não se encetaria um projecto para o melhoramento das condições do professor e enfermeiro

Quando o partido no poder faz isto, demonstra ao eleitorado, a sua capacidade de gerir os bens públicos e, não é demonstrar que tem capital para gerir, se é que o partido não se transforme em melhor doador do país. Infelizmente, no nosso país há cidadãos, e no pior, legisladores que não compreendem isto. Daí ouvir discursos como: as aparências de uma boa gestão dos municípios governados pela Renamo é graças a fundos alocados pelo governo central. Leia aqui. Será que este é um privilégio exclusivo dos municípios governados pela Renamo-UE, isto é que os municípios geridos pela Frelimo não recebem fundos do Estado? E se isso for, é com base de que lei?

Ainda em outros países com interesse pela democracia, os partidos da oposição teriam agora a oportunidade de demonstrar ao eleitorado de como uma vez no poder, gerirá melhor os fundos públicos que o partido no poder. Esta seria altura de a oposição começar a apresentar partes do manifesto eleitoral. Apresentar um manifesto genuíno, isto é, não cópia de um outro partido, é prioridade nos países interessados por uma democracia verdadeira. Um manifesto que vai ao encontro da maioria dos simpatizantes e membros dum partido, requer conhecimento e aprovação destes. O conhecimento e aprovação dum manifesto passa por publicação, debate e aprovação do seu anti-projecto nos diferentes níveis, dependendo da estruturação do partido.

Essa é a razão pela qual um partido político tem por obrigação, realizar, pelo menos um congresso em cada intervalo eleitoral. Do congresso se sabe a linha geral dum partido. E graças ao congresso, eliminam-se nos estatutos e programa do partido, os termos e projectos que se possam considerar ultrapassados.

sexta-feira, julho 11, 2008

Na Ilha de Moçambique: Crise na "Juventude" da Renamo (2)

O Representante do Konrad Adenauer esclarece.


Aos estimados leitores do macuablog como rectificação:

1. A Fundacao Konrad Adenauer apoia no desenvolvimento do associativismo em Mocambique através das associações comunitarias.
O trabalho com as associações na Ilha de Mocambique faz parte do nosso programa.

2. As associações devem estar abertos para todos os moradores. Na associação não se faz politica partidaria. Em nenhum dos caso constatamos que os recursos alocados para as associações estiveram a ser usados para grupos de um partido,visto que temos elementos de monitoria e avaliação. Recusamos estrictamente a “compra de uma específica militancia política com recursos para o desenvolvimento”.

3. O pessoal da Fundação nunca se mete na direcção ou coordenação de uma organização parceira. Ao contrario: a autogovernação é um dos objectivos principal dos nossos programas.

4. Os fundos para as associações na Ilha são usados para a combate da pobreza absoluta (redes pesqueiros para as associações, pequenos projectos para criação de ingresos, materiais para grupos culturais), e para dois centros dos grupos associados, para alem de rehabilitação de uma casa antiga – muito necesario em toda a Ilha.

5. os resultados das actividades em curso nas respectivas associações, segundo os planos e as metas previstas anualmente, ja estão a vista, bem vindos.

Dr. Ingo Scholz, Representante Residente

terça-feira, julho 08, 2008

Na Ilha de Moçambique: Crise na "Juventude" da Renamo

Meu caro, leia peça de notícias abaixo que retirei do Jornal Notícias online e tire as suas inferências discutindo com os demais leitores:

Na Ilha de Moçambique: Crise na "Juventude" da Renamo
A LIGA da Juventude da Renamo na Ilha de Moçambique, em Nampula, está a enfrentar uma crise com uma ala da organização a acusar a liderança de alegadamente estar a beneficiar-se de forma não clara de fundos que estariam a ser canalizados por uma organização não-governamental alemã denominada Konrad Adenauer.

Uma fonte da agremiação que falou na condição de não ser identificada, explicou ao nosso Jornal que, para lograr os seus intentos, os líderes da liga e aquela ONG criaram uma organização denominada Associação dos Moradores do Bairro de Amacaripi (AMOBEMA) com o objectivo “de fazer cobertura aos apoios que a Konrad Adenauer iria alocar à Liga da Juventude da Renamo”.

“Inclusive ficamos surpreendidos num dos encontros da AMOBEMA ao tomarmos conhecimento de que um dos objectivos desta organização era de mobilizar jovens da Frelimo e os membros do Movimento União para a Ilha (UPI) para aderirem à Renamo ou votarem no nosso partido e no seu candidato em troca de financiamentos para projectos. O que mais nos intrigou é o facto de nós moçambicanos e simpatizantes da Renamo termos sido preteridos de ocupar cargos de direcção a favor do representante da Konrad que ocupa o lugar de coordenador da AMOBEMA”.

No referido encontro e segundo a nossa fonte, o coordenador da AMOBEMA teria também prometido injectar um fundo de 280 mil meticais para o funcionamento da agremiação, bem assim uma viatura para apoiar a campanha eleitoral do concorrente da Renamo no município da Ilha de Moçambique.

“Nós membros da Liga Juvenil da Renamo estamos contra estas atitudes e estamos dispostos a abandonar a organização caso cidadãos estrangeiros continuem a liderar a nossa organização”, garantiu.

Neste momento a Direcção da AMOBEMA é liderada por Amade Ernesto, tendo como coordenador o cidadão alemão Igor Shols e secretária Malelia Momade.

Tentativas de ouvir a direcção daquela agremiação foram infrutíferas, mas uma fonte da Renamo na capital do país disse que tais informações não correspondiam à verdade.
As minhas inquietações

Da peça do Notícias sobre a crise da Juventude da Renamo na Ilha de Moçambique, ler aqui, coloco algumas questões sem pôr em causa as fontes. Acredito que o jornalista obteve o que escreveu de membros da Liga da Juventude da Renamo na Ilha de Moçambique. O que para mim está em questão, são os objectivos deste artigo e a lógica dos argumentos sobre a crise.

Ora vejamos, Konrad Adenauer é uma ONG alemã que está a trabalhar em Moçambique para apoiar o nosso processo democrático e não sendo assim o “bolso” da Renamo. Konrad Adenauer financia estudos, seminários e debates relativos à democracia, algo que tem sido mais útil e para tal, ela tem o Centro de Pesquisa Konrad Adenauer CEPKA em Nampula. O CEPKA já publicou algumas séries de debates como: O Controle Social do Poder Político em Moçambique e A Promoção da Cidadania e Participação em Moçambique.

Se Konrad Adenuaer e os seus parceiros financiam o processo democrático em Moçambique, então, isso pode ser a actividades sérias de todos os partidos políticos e não ao luxo de uns como é financiar à compra de uma viatura para liga da juventude da Renamo.

Ao jornalista a lógica não lhe interessou? E se lhe interessou pode ele nos dizer quais são as outras agremiações juvenis que já usaram o fundo da Konrad Adenauer para comprar viaturas para campanha eleitoral? Quantas viaturas tem a delegação distrital ou da Cidade? Quantas viaturas tem a Liga Juvenil ao nível da província de Nampula ou ao nível nacional?

Aqui está um dilema dos doadores internacionais e mesmo para cada um de nós, querendo contribuir para o progresso em Moçambique, senão em toda África. Quantas vezes nos deparamos com pedidos do tipo precisamos de carros 4 x 4, computadores, dólares, quando mostramos a nossa disposição de ajudar a uma organização, associação, uma zona, a uma escola, etc?

O que o Notícias devia ter feito era dizer aos membros daquela organização que eles deviam trabalhar arduamente no sentido de angariar seus fundos e não chantagem à uma organização nao governamental. A liga pode exigir algum fundo do partido Renamo, mas não à uma ONG ou Estado enquanto isso não for para todas as associações. Mas isso seria possível se o Notícias não se encarrega-se a destruir a democracia em Moçambique, se se servisse da informação para formar o homem novo como antes se dizia.

A propósito, o Notícias não devia ter feito um bom serviço à nacão, se escrevesse sobre o secretário-geral da liga juvenil do partidão que foi em estado ébrio a um debete importante na Rádio Moçambique? Como uma lição para todos o jovem devia se evitar que venha a ser deputado da Assembleia da República?

segunda-feira, julho 07, 2008

Quem é quem na África Austral?

Por Manuel de Araújo

Pelos sinais que temos vindo a receber, não estaríamos muito errados se desde já começássemos a prever que Oldemiro Baloi e Armando Emílio Guebuza iriam reconhecer Mugabe. Estaria positivamente feliz se este meu vaticínio fosse contrariado!
E razões não faltam.

O primeiro ensaio sobre a possível posição de Guebuza veio de Lusaka onde fontes diplomáticas na região, asseguraram-nos, para surpresa nossa, que Guebuza foi o maior defensor de Mugabe!

Depois foi a proibição da manifestação da sociedade civil, conjuntamente organizada pela Liga dos Direitos Humanos e pelo Centro de Estudos Moçambicanos e Internacionais (CEMO); A entrevista de Jorge Rebelo ao semanário Savana, só veio a dissipar algumas zonas de penumbra sobre aquilo que poderia vir a ser o posicionamento da Frelimo, e quiçá do Governo de Guebuza. Será que as vozes sensatas como a da mama Graça (Machel) já não são ouvidas no partido Frelimo?

E por último, veio a terreiro, segundo órgãos de informação pública, o porta-voz do partido a que ambos pertencem (Oldemiro e Armando) ao anunciar sem vergonha na cara que o partido Frelimo havia congratulado a ZANU-PF e Robert Mugabe pela sua vitória!

Que a Frelimo congratule a quem quer que seja, não me aquece nem arrefece, tanto mais que essa tem sido a linha com que se cosem suas acções na Província de Tete, Sofala e Manica, num autêntico ensaio ao que assistiremos nas eleições de 2009, quando o povo decidir dar o cartão vermelho a AEG! (Armando Emílio Guebuza)

O que espero ansiosamente é a posição do meu ESTADO, do meu GOVERNO e do meu PAÍS! O meu Estado não pode continuar mudo perante a morte lenta de um povo irmão! O compromisso de Moçambique, não foi, não é, e não deve ser com os facínoras, os déspotas sejam quem forem! O compromisso do Estado Moçambicano deve ser a defesa dos interesses nacionais de Moçambique conforme determinados pela Constituição de Republica. O compromisso de Moçambique, tanto ontem, hoje e amanhã deve ser para com o Povo Irmão do Zimbabwe, que hoje como ontem enfrenta a opressão, a violação sistemática dos seus direitos mais elementares – o direito à vida, à livre circulação, à opinião; o direito à expressão e o direito a uma vida normal e ao bem estar social.

Onde anda a sociedade civil moçambicana? Terá feito tudo ao seu alcance para apoiar o povo irmão do Zimbabwe? Onde anda a solidariedade moçambicana forjada durante a luta de libertação nacional, consolidada durante a luta pela democracia? Onde anda a juventude do meu país? Onde anda o Conselho Nacional da Juventude do meu país?

Não me calarei enquanto o povo irmão do Zimbabwe sofre! Nem que fique só e/ou rouco, pois quando uma causa e justa não importa o número, o que importa é a justeza da causa!

E tenho dito.

sábado, julho 05, 2008

Contrato com o governo para fazer filhos

Escutei da RM (Rádio Moçambique), na sua missão da tarde da sexta-feira, o governador de Inhambane a falar com um tom de zanga num comício popular. Também se pode ler aqui. Do discurso ouvi algo assim: vocês fazem muitos filhos, depois vem reclamar ao governo que não têm condições para sustentá-los. Vocês fizeram contrato com o governo para fazerem muitos filhos? Isto deixou-me com muitas interrogações como:

Há algum contrato em Moçambique para fazer filhos mesmo para um ou dois?

Quem tem o direito de fazer filhos em Moçambique? Por outras palavras, o pobre está condenado a não fazer filhos?

Será o discurso do governador articulado à política do governo moçambicano ou é a opinião pessoal do governador? Por outras palavras, há uma política de família do tipo da China, onde cada família tem o direito de um determinado número de filhos? Se existe essa política é do conhecimento público? Existindo, como se garante para se efectivá-la: bastará com o tom de zanga aos produtores de filhos. Concretamente, há distribuição de anti-conceptivo ou que os pobres evitem fazer filhos, não fazendo o sexo?

Supondo que esta política não do governo moçambicano, tem um governante o direito de transmitir e tornar ordem a sua opinião individual num comício?

quinta-feira, julho 03, 2008

As duas posições de Sharm el-Sheikh

Em Sharm el-Sheikh, no Egipto, sairam duas posições em relação o regime do déspota Mugabe (leia aqui). Uma posição projectando regimes e presidentes africanos para toda a vida, optaram por não criticar a Robert Mugabe. Um dos membros deste grupo, Omar Bongo, Presidente do Gabão e o governante mais antigo de África e o sétimo do mundo chegou de afirmar que Robert Mugabe fora eleito. Thabo Mbeki, o suposto mediador da crise do Zimbabwe insiste que o seu projecto de manter Mugabe no poder se ponha em prática. Outros ficaram silenciosos. Talvez a posição destes líderes africanos seja a prova de mãos sujas de que Robert Mugabe alertou aquando a sua partida ao Egipto.

A outra posição é constituida por aqueles que criticaram duramente a Robert Mugabe, chegando a propôr a sua exclusão da SADC. Esta foi a proposta do Vice-Presidente do Botswana, Mompati Merafhe. O Presidente senegalês, Abdoulaye Wade, classificou de "nula" a segunda volta das presidenciais zimbabweanas. Outros chefes de Estado que criticaram severamente a Robert Mugabe foram os de Nigéria, Libéria, Quénia e Serra Leoa.

Atendendo que Robert Mugabe disse que estava preparado para desafiar aqueles líderes africanos que pensam que têm mãos mais limpas do que as dele (veja aqui), só posso concluir que os líderes que o criticaram severamente têm sim, mãos limpas que ele, ou então Mugabe não sabe nada deles. Na verdade, Robert Mugabe não os desafiou.

Chega!

ONDAS DO CHIVEVE

Por Eliseu Bento

O Zimbabwe continua a ser motivo de todas as conversas em todo o mundo. Agora, com a já terminada cimeira da União Africana, o nosso vizinho subiu ainda mais na agenda mundial dividindo as opiniões mais abalizadas, se quisermos, dos líderes sobretudo do nosso Continente.

Vale a pena aludir aqui ao pronunciamento do Presidente do Gabão que foi capaz de dizer que Robert Mugabe tinha sido eleito pelo que devia ser simplesmente aceite como tal.

Para nós aqui neste modesto espaço este posicionamento foi simplesmente vergonhoso, mas também pode ser motivo de elogios. Pelo menos o estadista gabones, o mais antigo no poder, pode ter sido coerente consigo mesmo e pode ter tido a coragem que os outros não têm de dizer o que lhes vai na alma, embora naturalmente pensem da mesma maneira.

Merece elogios o gabones porque disse o que realmente pensa e tem estado a fazer ao longo de todos os anos em que se mantém no poder. Portanto, só nos resta agradecer-lhe a coerência e a diplomacia ruidosa em contraste com as diplomacias silenciosas que aos olhos de muitos nunca tomam uma posição, pelo menos prática.

Ou seja, estamos mais ou menos claros que muitos estadistas africanos mantêm-se no poder porque só eles e as suas elites estão interessados nisso. Não é preciso dizer que vale tudo nesses casos, como valeu agora no Zimbabwe e valeu num passado pouco recente no Quénia.

E os exemplos são vários e ainda vamos ter outros neste continente potencialmente pobre não apenas na matéria mas também, e sobretudo, no espírito.

Para nós, Morgan Tsvangirai até devia ir para casa. Devia ir para a reforma, porque em nosso modesto entender ele já conseguiu ser a expressão máxima do sentimento e da vontade do povo zimbabweano ao vencer os escrutínios do passado dia 29 de Março.

Tsivangirai ganhou as eleições aos olhos de todo o mundo. Portanto, já destronou Mugabe, o resto são histórias. Tsivangirai já está na história por isso para nós devia ir para casa descansar porque, efectivamente, já cumpriu a sua missão.

Está mais do que claro que os zimbabweanos já disseram o que querem e tudo quanto seja diferente disso estará a ser-lhes imposto pela vontade de alguém que tem a felicidade de receber apoios e aplausos de alguns talvez insensíveis ao sofrimento do povo zimbabweano.

Continua no entanto a fazer mossa a forma como os outros estadistas até aceitam que Mugabe lhes falte respeito ao não acatar as suas recomendações. Foi assim que declinou a sua participação numa cimeira na Zâmbia enviando pessoal menor. E isso terá mesmo provocado desavenças entre ele e Levy Mwanawasa, o que tudo indica que ainda não foi ultrapassado. Foi o que aconteceu muito recentemente quando do encontro da “troika” que se reuniu na Suazilândia na qual sugeriam o adiamento da segunda volta das eleições. E mesmo depois disso!

Os observadores da SADC já disseram que os resultados destas eleições não reflectem a vontade do povo zimbabweano mas nem isso cabe nos ouvidos das elites zimbabweanas.
Estranho é que, de facto, os outros líderes aceitem isso, alguns, infelizmente a maioria que acaba sendo suficiente para se calhar legitimar o perdedor Mugabe.

Uma palavra de apreço para a diplomacia do Botswana que tomou uma posição rígida negando-se a reconhecer os resultados da segunda volta das eleições do dia 27 de Junho.

O presidente de Moçambique, Armando Guebuza, disse esta terça-feira no Egipto que as partes beligerantes no Zimbabwe se deviam sentar à mesma mesa para encontrarem uma saída. Disse ainda que a SADC estava bastante preocupada com o que está a acontecer.

Teremos que esperar para vermos se Mugabe vai desta vez acatar com estes pronunciamentos e preocupações porque, de facto, já chega!

Vem nos à memória a cimeira Europa-África em Lisboa na qual praticamente Robert Mugabe foi levado ao colo pelos seus amigos estadistas africanos contra a vontade de muitos outros africanos principalmente os martirizados zimbabweanos.

Aliás, nessa altura se disse que a sua presença na cimeira só serviria para reforçar a sua posição, o que equivalia a dizer que continuaria a fazer das suas no país condenando ainda mais o seu povo ao sofrimento, o que podia não suceder se os outros chefes tomassem outra posição.

quarta-feira, julho 02, 2008

TRÊS DÉCADAS DE DEBATES CONDICIONADOS

Ou quando os Comícios servem de «Cover-ups»...

Canal de Opinião: por Noé Nhantumbo

Beira (Canal de Moçambique) - A tentativa de fazer da figura de comício um meio privilegiado de comunicação com os cidadãos, uma vez chamados de povo, outras vezes de massas populares, desvirtua a democracia e torna-a um espectáculo medíocre. No lugar de manifestação e auscultação genuína dos anseios dos cidadãos ficamos com um exercício de falsa auscultação, onde se apresentam queixas razoáveis no entender dos que dirigem os comícios e se recebem as respostas consideradas convenientes.

Nada é mais claro do o título numa situação de governo democrático.
As malhas tecidas pelo governo, a sua acção concreta, as suas opções, nada deve colocá-lo numa situação de entidade inquestionável e logo longe da responsabilização.

O comício popular tão querido dos socialistas é a maneira mais refinada de ultrajar a democracia e tirar sentido ao direito do cidadão de saber o que faz quem o governa, como são utilizados os fundos públicos, como é que o governo do país procede em seu nome nos fóruns internacionais. Quando o método é o comício fica sempre um vazio no capítulo das respostas. Por um lado ninguém se atreve a fazer pronunciamentos significativos que questionem a ordem do dia numa reunião desse tipo. Por outro lado, os cidadãos organizados pelas estruturas omnipresentes dos partidos não tem a coragem suficiente para se colocarem no pódio e lá desferirem ataques demolidores contra aqueles que estão dirigindo tais encontros.

O direito de conhecer que os cidadãos em princípio possuem e que é um dos fundamentos da democracia, não se realiza pela via do comício e é por saberem disso que os governantes oligárquicos optam sempre por esta forma de comunicação de massas.

Ninguém nega a necessidade e existência de arranjos que pela sua natureza e sensibilidade devem ser ou permanecer secretos. Mas isso não significa que comissões parlamentares especificas não tenham o direito e obrigação de receber informação atempada sobre tais operações ou assuntos. Um governo democrático não pode em nenhuma circunstância colocar-se numa situação de independência absoluta para com os outros órgãos do poder.

O fundamento da democracia repousa na responsabilização e na obrigação que os titulares dos diferentes órgãos públicos tem de responder aos cidadãos pelas vias estabelecidas.

As acções dos governantes não podem nem devem aparecer encobertas num manto de secretismo de justificações que nunca colam. É mentira e inaceitável quando nos dizem que não devemos saber quanto é que pagaram a firma de advogados que aconselhou o governo no negócio da Hidroeléctrica de Cabora Bassa. Assim como é inaceitável que o Parlamento não saiba como são negociados os recursos minerais deste país.

Não é por acaso que em São Tome se criou uma entidade responsável por negociar e comunicar os resultados a volta do dossier petróleo.

A democracia é algo concreto que obedece a regras e a procedimentos controláveis.
Anunciar num comício que Cabora Bassa é nossa é uma coisa relativamente simples. Mas os moçambicanos não são tão ingénuos que não queiram saber como foi feito tal transferência, quais são as contrapartidas, modalidades de pagamento, a estrutura de accionistas, o modelo de gestão concebido, tudo isso e mais.

Não basta dizer que assinamos um contrato de exploração do carvão de Moatize com a Vale do Rio Doce e depois se fecharem em copas. Como governo tem a obrigação de informar ao Parlamento quais foram os contornos do negócio e o que o país vai efectivamente receber em termos de contrapartidas financeiras. Há que saber como anda o assunto das areias pesadas de Moma e de Chibuto. O tempo em que selavam contratos com a União Soviética de pesca ou de exploração pedras preciosas e ninguém chegava a saber o que tinha sido feito e como, não é propriamente este.

Passam trinta e três anos de independência. Demasiado tempo para que se continue com a prática socialista do comício como instrumento privilegiado de debate que como sabemos não é. Não se pode negar que o meio é adequado para comunicar com populações pouco letradas. Mas não se deve esgotar o tema por aí e ficar a coberto disso para realizar actos fora do escrutínio democrático estabelecido.

Está sendo negada aos moçambicanos a oportunidade de debater os seus problemas e de sugerirem soluções. As chamadas organizações da sociedade civil seguem uma linha de orientação e de acção que as afasta dos cidadãos. Tornam-se ninhos úteis para a comunicação dos anseios dos governantes e nunca se as encontra debatendo em profundidade os desvios que vemos anualmente anunciados pelo Tribunal Administrativo. A qualidade de serviços de policiamento que possuímos é tratada de maneira leve. As discrepâncias entre o que a lei diz e a prática no que se refere a compra e venda de talhões urbanos para a construção são ignorados. Milhões de hectares de terra repousam nas mãos de uns poucos cidadãos e quando surge a oportunidade, vemos os mesmos estabelecendo parcerias para a construção de refinarias de petróleo.

Essa maneira de gerir os assuntos nacionais, essa maneira de governar o bem comum, a nação, está longe dos critérios democráticos que nos dizem de boca cheia que abraçam.

As decisões marcadamente top-down, a ausência efectiva de debates visando construir consensos e sentido de pertença, estão se tornando em verdadeiros constrangimentos neste país.

Os cover-ups valem por si mas nunca substituem a verdade.
Embora nem sempre digerível e de aceitação fácil, a verdade deve ser um objectivo e critério de avaliação do que os governantes fazem. O que lhes parece serem saídas porque proporcionam lucros e mais poderes podem estar a ser os becos sem saída de amanhã.

Ninguém é perfeito e os nossos governantes também não são super-homens. Reconhecê-lo não faz mal a ninguém.

Simplicidade, humildade, austeridade, capacidade de mostrar coerência e uso criterioso dos bens públicos que lhes estão confiados, moralidade pública e privada de alto nível são o que os cidadãos pretendem ver dos seus governantes.
A chefia da nação deve ser capaz de mostrar o exemplo e exigir dos seus colaboradores o mais alto nível de desempenho e de condições morais para o exercício de suas funções.

O que os outros fazem no capítulo do rastreio aos seus governantes deve se tornar prática entre nós. Sem uma equipa governamental livre de suspeitas de corrupção e nepotismo, sem governantes limpos não se pode construir uma democracia credível.
Mesmo que tenham o suporte e cobertura do chefe, os governantes devem deixar a arrogância de lado e mostrar que são, afinal, servidores bem pagos de um povo que espera deles desempenho de qualidade e não manobras ou cover-ups. Os moçambicanos não querem continuar a pagar altos salários para ministros-empresários.

As mentiras que enchem páginas dos jornais, as aparições programadas na televisão, vendem uma imagem que não se possui. Esta exploração oficial da mentira atrasa o desenvolvimento do país e lesa os moçambicanos.

Existe uma grosseira interferência na comunicação social pública que é obrigada a difundir posições muitas vezes fora de contexto e mesmo mentiras.

Existe uma comercialização crescente da vida pública, os esquemas persistem em comandar aquilo que se faz na esfera público-governativa. Isso corrói o tecido social, mina o desenvolvimento nacional e impede que os moçambicanos usufruam com dignidade o que fazem por seu país e o que seu país pode fazer eles.

Fonte: Canal de Moçambique (2008-07-01 07:01:00)

terça-feira, julho 01, 2008

HERANÇAS CONDICIONANDO O PRESENTE

O alinhamento de Mbeki ou dos Santos, Mugabe ou outros lideres não é fortuito...

Canal de Opinião: por Noé Nhantumbo

Beira (Canal de Moçambique) - A natureza e tipo de comportamento que vemos sendo exibido por lideranças em África é alguma coisa de suma importância para compreender determinados factos do presente. As ditaduras sanguinárias que apoquentam povos tem as suas origens na chamada ditadura do proletariado que durante alguns anos floresceu e passeou a sua classe em nossos países. Os movimentos de libertação foram apanhados no centro da confrontação este-oeste. Isso não determinou só práticas subsequentes mas também culturas.

Se antes não era perceptível o que escondia o populismo, isso não é sinónimo de que já não havia elementos de intolerância e totalitarismo em acção.

O recurso à prisão, deportação, controle policial dos cidadãos, eliminação física, eram já marcas registadas da actuação de alguns governos.

Angola, Zimbabwe, Etiópia, Tanzânia, Moçambique, são alguns dos países em se viran sistemas políticos centralizadores sendo implementados. Rapidamente os povos se viram confrontados com uma autoridade governamental pouco tolerante para aqueles que tinham opinião diferente.

O que vemos hoje em termos de posicionamento de alguns líderes, se é que esse nome merecem, não é mais do que todo o comportamento, que já tinham, a vir à superfície. O acolhimento do ditador de Adis Abeba em Harare tem de ser visto como a protecção de um companheiro de armas. O silêncio quando se verificam atropelos aos preceitos democráticos em qualquer dos países da antiga irmandade socialista em África faz parte de antigas estratégias que eram determinadas e comandadas a partir de Moscovo. Só que estes governos ditatoriais foram deixados órfãos por um regime que ao desmoronar, não deixou qualquer herança registada em termos de protecção aos seus satélites africanos. Aqui na região, os governos, uma vez desaparecida a União Soviética, optaram por se fecharem entre eles, assinando verdadeiros protocolos de auto-protecção.

Um velho combatente pela independência de Moçambique, Mariano Matsinhe, veio a público recentemente, afirmar que se convidado iria a Harare assistir à tomada de posse de Mugabe, que a ZANU era amiga da Frelimo e outras coisas do mesmo tipo.

Não se questiona amizades por serem históricas. Questionam-se comportamentos presentes que acabam sendo lesivos aos cidadãos de determinado país. O que aquele veterano (Mastinhe) disse não é por acaso. Há laços demasiado fortes entre as lideranças de nossos países. Há sobretudo uma recusa frontal em admitir uma alternância no poder por meios democráticos. Afinal no socialismo dito científico que praticavam, a figura de eleições com mais que um concorrente, multipartidarismo, alternância democrática eram palavras ignoradas.

Os nossos governantes de hoje transportam consigo comportamentos daqueles dias em que era proibido ter opinião diferente, que era considerado reaccionário qualquer cidadão que se atrevesse a manifestar um ponto de vista diferente da linha ou das orientações emanadas dos respectivos regimes.

Se alguma aparência de aceitação dos preceitos democráticos pode sobressair nos discursos, isso em geral é porque ainda não foram confrontados com uma séria possibilidade de perderem o poder.

É só recordar o caso das eleições autárquicas na Beira. Mesmo vencido o partido no poder, atrasou o reconhecimento dos factos e foi necessário um autêntico exercício de vigilância e protecção das urnas para se tornar impossível a manipulação. Os órfãos socialistas rapidamente se tornaram capitalistas e é só ver como eles próprios e sua prole actua e procede no quotidiano.

Aqueles princípios que alegadamente guiavam a luta pela independência foram esquecidos e enterrados logo que se conquistou o poder.

Nos dias de hoje, a dificuldade de compreender as linhas com que o nossos governantes se cozem, as alianças que mantém com os seus pares da região e do mundo, a arrogância e desprezo a que lançam hoje seus povos; todo um comportamento completamente distante daquilo que propalavam que queriam implantar em nossos países, era uma mentira. Ou tudo foi esquecido. Tudo o que é feito hoje por eles tem em vista um afastamento cada vez maior relativamente aos cidadãos. O capital deles reina e quem não consegue comer na mesa principal do banquete através de serviços prestados come as migalhas que caem para o chão. A dignidade dos povos passou a ser verbo morto. Para estes governantes, os mesmos que trouxeram a independência para nossos países, o objectivo principal da governação, a agenda que lhes preocupa é o enriquecimento rápido e com recurso a qualquer meio. Se não fosse esse o caso, já teríamos muitos ministros exonerados pois suas práticas estão longe da agenda que diziam ter aquando das eleições. Muitos dos elementos que fazem parte do governo parece que estão lá para assegurar que as coisas e interesses do chefe sejam protegidas e promovidas. Alguns dos negócios feitos ultimamente confirmam que não há interesse em separar os poderes democráticos e que não há interesse em separar interesses privados dos públicos. Que assim, nas aguas turvas, se colhe melhor.

As diversas tentativas em estabelecer uma agenda económica para o país aparecem quase sempre conotadas com interesses bem identificados das famílias sempre presentes nos grandes negócios. Nada disto é novo. Em Moscovo quando o mercado se tornou aberto, quando o capitalismo chegou ao Kremlin, procedeu-se do mesmo modo. Os bolos mais apetitosos foram abocanhados por pessoas ligadas à nomenclatura e as migalhas para os outros.

Compreendem-se as mudanças históricas, a globalização e a necessidade de se alinhar em novas dinâmicas. Mas não se compreende como é que pessoas que ontem empunhavam a foice e o martelo, através do uso de orientações e outros sistemas característicos do populismo se tornaram praticantes de um autêntico fascismo de esquerda.

É possível abraçar o sistema de mercado e ao mesmo tempo nivelar o campo de modo a os outros cidadãos tenham emprego, habitação, educação e saúde.

Sujeitar toda uma maioria a salários que na prática só compram dois sacos de arroz não pode ser chamado governar com consciência nacional.

Promover uma multiplicação inaceitável de práticas lesivas só porque isso permite que se continue a enriquecer é uma maneira medíocre de ver e fazer as coisas.

As heranças aceitam-se ou recusam-se. Porque o fardo despótico e de intolerância herdado do passado recente não serve os cidadãos e o desenvolvimento de nossos países, aqueles que de facto são lideranças continuarão a luta pela sua eliminação.

Fonte: Canal de Moçambique (2008-06-30 06:25:00)

Nota:

Amizade faz muitos de cegos e mudos. Mariano Matsinhe não é o único. Isso se pode provar pelo silêncio de muitos perante a situacão do Zimbabwe.