– revela livro do autor zimbabweano, Geoffrey Nyarota, fundador do «Daily News»
Cape Town (Canal de Moçambique) - O presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe, sentiu satisfação ao tomar conhecimento da morte do seu homólogo moçambicano, Samora Machel, no acidente de aviação ocorrido em Mbuzini a 19 de Outubro de 1986, há 20 anos. A revelação é de Geoffrey Nyarota, fundador do jornal «Daily News», num livro recentemente publicado com o título, “Against the Grain – Memoirs of a Zimbabwean Newsman” (Zebra Press, Cape Town, 2006).
Nyarota cita como fonte da opinião expressa por Mugabe, um amigo de infância do actual presidente zimbabweano. Trata-se de Per Wastberg, um jornalista sueco que privou com Mugabe e a sua esposa, Sally, em 1959, durante uma visita ao Zimbabwe quando ainda era estudante. Wastberg apoiou a campanha política de Mugabe tendo servido de elo de ligação entre este e a Amnistia Internacional.
Citando Wastberg, o autor zimbabweano, presentemente a viver como exilado nos Estados Unidos, refere que “Mugabe detestava Machel”.
A Sally disse-me que aquando da morte de Machel em Outubro de 1986, Mugabe havia comentado: «Foi bom para ele, e é bom para nós».”, escreve Nyarota no seu livro.
A animosidade entre Robert Mugabe e o antigo chefe de Estado moçambicano, lê-se ainda no livro de Geoffrey Nyarota, data do tempo em que o presidente zimbabweano havia procurado asilo político em Moçambique, em 1975, tendo Samora Machel ordenado a sua deportação para Quelimane onde chegou a viver sob residência fixa juntamente com Edgar Tekere.
De acordo com a fonte de Nyarota, “Samora Machel considerava Mugabe como sendo bastante imaturo para poder liderar uma acção de guerrilha.”
Devido a pressões exercidas pelas autoridades britânicas, o governo moçambicano viu-se forçado a autorizar que Mugabe regressasse a Maputo para assim poder participar nas conversações de Genebra realizadas em 1976 e destinadas a resolver o conflito que opunha o regime rodesiano proclamado pela minoria branca e chefiado por Ian Smith aos que exigiam a independência do Zimbabwe em nome do povo.
Depois da proclamação da independência do Zimbabwe, Samora Machel tentou dar a aparência de que as suas relações pessoais com Robert Mugabe eram calorosas e de grande intimidade, o que não correspondia à realidade. Machel apostou sempre na ala militar dos nacionalistas zimbabueanos, mormente Josiah Tongogara, mas este acabaria por morrer num acidente de viação nas vésperas da independência do Zimbabwe, em território moçambicano, na estrada nacional número um (EN1) nas proximidades de Massinga, na província de Inhambane, logo a seguir aos Acordos de Lancaster House.
O livro de Nyarota deixa transparecer a política de interferência seguida pelo regime de Machel em relação aos nacionalistas zimbabueanos. A 19 de Janeiro de 1977, lê-se na referida obra do fundador do jornal «Daily News», “o exército moçambicano prendeu 50 comandantes do ZIPRA (Exército Popular Revolucionário do Zimbabwe) que chegou a integrar forças leais à ZAPU (de Joshua Nkomo) e à ZANU (de Roberto Mugabe) que participavam numa conferência na Beira. O ponto principal da agenda do encontro realizado naquela cidade era a reintegração de dirigentes políticos e militares detidos na Zâmbia na sequência do assassinato de Herbert Chitepo.”
No ano seguinte, mais precisamente em Janeiro de 1978, refere Nyarota, as autoridades moçambicanos detiveram 600 guerrilheiros dissidentes, metendo-os depois nas caves do Grande Hotel, na cidade da Beira. Os detidos foram posteriormente levados em camiões militares para Nampula e daqui transportados por via aérea para Pemba (Cabo Delgado).
Para além de dissidentes zimbabweanos, as caves do Grande Hotel chegaram a albergar centenas de cidadãos moçambicanos arbitrariamente detidos pelo aparelho repressivo ao serviço do regime totalitário então vigente em Moçambique que dali eram posteriormente conduzidos a «Campos de Reeducação», como por exemplo o de Sacuzi, em Gorongosa, onde muitos milhares acabaram por falecer.
Uma vez mais sob pressão das autoridades britânicas, o governo moçambicano teve de restituir os dissidentes zimbabweanos à liberdade. As pressões britânicas foram exercidas por intermédio de Lord Soames, governador inglês designado para dirigir os destinos da colónia rebelde da Rodésia do Sul após a assinatura do Acordo de Lancaster House em 1979.
Debruçando-se sobre o acidente de aviação que vitimou em Mbuzini o primeiro presidente da República de Moçambique, causado por erro de pilotagem e que resultou na sua morte, o autor de “Against the Grain” refere que “a manutenção das aeronaves não estava no topo da lista das prioridades do governo de Machel.”
Em certa passagem do seu livro o zimbabweano Nyarota exilado nos Estados Unidos, acrescenta: “Antes da colisão fatal, Mugabe e responsáveis zimbabweanos observaram em silêncio, mas com consternação, o Tupolev 134 de fabrico soviético a deixar um abominável rasto de fumo negro à medida que vagarosamente ia ganhando altitude após ter descolado do aeroporto de Victoria Falls.”
Canal de Mocambique(Redacção) 2006-12-11 08:14:00
Cape Town (Canal de Moçambique) - O presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe, sentiu satisfação ao tomar conhecimento da morte do seu homólogo moçambicano, Samora Machel, no acidente de aviação ocorrido em Mbuzini a 19 de Outubro de 1986, há 20 anos. A revelação é de Geoffrey Nyarota, fundador do jornal «Daily News», num livro recentemente publicado com o título, “Against the Grain – Memoirs of a Zimbabwean Newsman” (Zebra Press, Cape Town, 2006).
Nyarota cita como fonte da opinião expressa por Mugabe, um amigo de infância do actual presidente zimbabweano. Trata-se de Per Wastberg, um jornalista sueco que privou com Mugabe e a sua esposa, Sally, em 1959, durante uma visita ao Zimbabwe quando ainda era estudante. Wastberg apoiou a campanha política de Mugabe tendo servido de elo de ligação entre este e a Amnistia Internacional.
Citando Wastberg, o autor zimbabweano, presentemente a viver como exilado nos Estados Unidos, refere que “Mugabe detestava Machel”.
A Sally disse-me que aquando da morte de Machel em Outubro de 1986, Mugabe havia comentado: «Foi bom para ele, e é bom para nós».”, escreve Nyarota no seu livro.
A animosidade entre Robert Mugabe e o antigo chefe de Estado moçambicano, lê-se ainda no livro de Geoffrey Nyarota, data do tempo em que o presidente zimbabweano havia procurado asilo político em Moçambique, em 1975, tendo Samora Machel ordenado a sua deportação para Quelimane onde chegou a viver sob residência fixa juntamente com Edgar Tekere.
De acordo com a fonte de Nyarota, “Samora Machel considerava Mugabe como sendo bastante imaturo para poder liderar uma acção de guerrilha.”
Devido a pressões exercidas pelas autoridades britânicas, o governo moçambicano viu-se forçado a autorizar que Mugabe regressasse a Maputo para assim poder participar nas conversações de Genebra realizadas em 1976 e destinadas a resolver o conflito que opunha o regime rodesiano proclamado pela minoria branca e chefiado por Ian Smith aos que exigiam a independência do Zimbabwe em nome do povo.
Depois da proclamação da independência do Zimbabwe, Samora Machel tentou dar a aparência de que as suas relações pessoais com Robert Mugabe eram calorosas e de grande intimidade, o que não correspondia à realidade. Machel apostou sempre na ala militar dos nacionalistas zimbabueanos, mormente Josiah Tongogara, mas este acabaria por morrer num acidente de viação nas vésperas da independência do Zimbabwe, em território moçambicano, na estrada nacional número um (EN1) nas proximidades de Massinga, na província de Inhambane, logo a seguir aos Acordos de Lancaster House.
O livro de Nyarota deixa transparecer a política de interferência seguida pelo regime de Machel em relação aos nacionalistas zimbabueanos. A 19 de Janeiro de 1977, lê-se na referida obra do fundador do jornal «Daily News», “o exército moçambicano prendeu 50 comandantes do ZIPRA (Exército Popular Revolucionário do Zimbabwe) que chegou a integrar forças leais à ZAPU (de Joshua Nkomo) e à ZANU (de Roberto Mugabe) que participavam numa conferência na Beira. O ponto principal da agenda do encontro realizado naquela cidade era a reintegração de dirigentes políticos e militares detidos na Zâmbia na sequência do assassinato de Herbert Chitepo.”
No ano seguinte, mais precisamente em Janeiro de 1978, refere Nyarota, as autoridades moçambicanos detiveram 600 guerrilheiros dissidentes, metendo-os depois nas caves do Grande Hotel, na cidade da Beira. Os detidos foram posteriormente levados em camiões militares para Nampula e daqui transportados por via aérea para Pemba (Cabo Delgado).
Para além de dissidentes zimbabweanos, as caves do Grande Hotel chegaram a albergar centenas de cidadãos moçambicanos arbitrariamente detidos pelo aparelho repressivo ao serviço do regime totalitário então vigente em Moçambique que dali eram posteriormente conduzidos a «Campos de Reeducação», como por exemplo o de Sacuzi, em Gorongosa, onde muitos milhares acabaram por falecer.
Uma vez mais sob pressão das autoridades britânicas, o governo moçambicano teve de restituir os dissidentes zimbabweanos à liberdade. As pressões britânicas foram exercidas por intermédio de Lord Soames, governador inglês designado para dirigir os destinos da colónia rebelde da Rodésia do Sul após a assinatura do Acordo de Lancaster House em 1979.
Debruçando-se sobre o acidente de aviação que vitimou em Mbuzini o primeiro presidente da República de Moçambique, causado por erro de pilotagem e que resultou na sua morte, o autor de “Against the Grain” refere que “a manutenção das aeronaves não estava no topo da lista das prioridades do governo de Machel.”
Em certa passagem do seu livro o zimbabweano Nyarota exilado nos Estados Unidos, acrescenta: “Antes da colisão fatal, Mugabe e responsáveis zimbabweanos observaram em silêncio, mas com consternação, o Tupolev 134 de fabrico soviético a deixar um abominável rasto de fumo negro à medida que vagarosamente ia ganhando altitude após ter descolado do aeroporto de Victoria Falls.”
Canal de Mocambique(Redacção) 2006-12-11 08:14:00
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