Os analistas permanentes do programa televisivo Pontos de Vista, difundido pela Stv, reafirmaram, domingo último, que se o primeiro presidente do partido Frelimo, Eduardo Chivambo Mondlane, estivesse vivo o país teria conhecido contornos diferentes dos que se assistiram após a sua morte. António Frangoulis, Rahil Khan e Carlos Jeque embora implicitamente não desmentiram a ideia lançada em livro pelo antigo dirigente da Frelimo, Jacinto Veloso. Eles referiram que a abertura de Eduardo Mondlane e sobretudo a sua influência no meio capitalista ocidental poderia dar perspectivas mais satisfatórias que as que Samora Machel adoptou. “Mondlane não achava estranho a sua filiação as instituições de Bretton Woods”, reconheceu o deputado da bancada parlamentar da Frelimo, António Frangoulis.
Há dias Jacinto Veloso, que ocupou altos cargos no governo de Samora Machel e Joaquim Chissano, apresentou em público a sua obra “Memórias em voo rasante”, na qual descreve os contornos pelos quais a Frelimo se fundou até a actual situação em que se encontra. Veloso releva dados da luta de libertação nacional, as ideologias abraçadas pela Frelimo pós-indepêndencia e os falhanços decorridos na construção do país.
De acordo com o político independente, Carlos Jeque, o trabalho de Veloso é uma revelação das contradições ideológicas que marcaram o partido Frelimo. Ele apontou que seria importante que o autor de “Memórias em voo rasante” apresenta-se dados mais claros para ilustrar a tese subjacente no livro, segundo a qual o país poderia experimentar um outro rumo com a direcção de Eduardo Mondlane. “É muito importante a informação do livro, pois nos transporta a morte de Eduardo Mondlane. Se nos caracteriza-se um pouco como se faz com a morte de Samora Machel ficaríamos claros de que a morte de Eduardo Mondlane não só foi o complô com a PIDE. Dá-me a entender que dentro da Frelimo existiam os que não concordavam com a orientação de Mondlane e sabiam que ele adoptaria um sistema híbrido”, considerou Carlos Jeque, para quem a obra, por outro lado, o livro desvenda que Samora Machel era um homem a abater.
Não menos importantes foram os pronunciamentos do parlamentar da Renamo, Rahil Khan, que sustentou que Eduardo Mondlane era pró-ocidental e detentor de uma visão democrática fora da média entre os líderes da Frelimo, facto que até certo ponto contribuiu para a sua morte.
Mondlane estudou nos Estados Unidos da América e passou parte da sua vida a leccionar numa das mais célebres universidades daquele país, daí poder ter influencias pro-capitalistas ou ser adepto dum regime socialista democrático.
Mondlane estava “sob fogo cruzado”
Comummente pode ser consensual que dentro de uma organização humana existam ideais diferentes, ou melhor concepções políticas diametralmente opostas. A Frelimo não foi um caso em excepção. Os seus membros tinham as suas aspirações, os seus modelos de governação preferenciais. No entanto, Mondlane nunca escondeu ser pluralista e pacífico na busca de soluções para fazer frente aos problemas que assolavam Moçambique.
Rahil Khan, comentando sobre o assunto não teve reservas quando, referiu que a morte de Mondlane era a consequência do descontentamento de altas figuras pró-socialistas na Frelimo que aliaram-se à União das Repúblicas Socialistas Sovieticas para liquidar Mondlane. “Quando a união soviética descobriu que Mondlane não ia seguir as suas ideologias, juntou-se a dissidentes da Frelimo e liquidaram-no”, referiu o deputado.
A obra de Jacinto Veloso levanta pontos que há muito não são discutidos no país, não obstante a sua pertinência e imperiosidade com vista a busca de respostas cuja viciação nos pode obrigar a construir uma história distorcida de Moçambique.
António Frangoulis não acredita que no seio da Frelimo existiram ideias contrárias. Para si tratou-se de uma questão de estratégias, naquilo que ele definiu como socialismo científico e socialismo democrático. “Eu não encontro diferenças abismais nas ideologias. O que me parece é uma mudança de estratégias. A visão estratégica de Eduardo Mondlane visava criar um tipo de socialismo como do Botswana. Aproximar dentro daquilo que era o contexto o Leste e o Ocidente. O contrário do socialismo científico marxista-leninista”, rematou o interlocutor.
Boaventura Santos
O País (2006-12-12)
Há dias Jacinto Veloso, que ocupou altos cargos no governo de Samora Machel e Joaquim Chissano, apresentou em público a sua obra “Memórias em voo rasante”, na qual descreve os contornos pelos quais a Frelimo se fundou até a actual situação em que se encontra. Veloso releva dados da luta de libertação nacional, as ideologias abraçadas pela Frelimo pós-indepêndencia e os falhanços decorridos na construção do país.
De acordo com o político independente, Carlos Jeque, o trabalho de Veloso é uma revelação das contradições ideológicas que marcaram o partido Frelimo. Ele apontou que seria importante que o autor de “Memórias em voo rasante” apresenta-se dados mais claros para ilustrar a tese subjacente no livro, segundo a qual o país poderia experimentar um outro rumo com a direcção de Eduardo Mondlane. “É muito importante a informação do livro, pois nos transporta a morte de Eduardo Mondlane. Se nos caracteriza-se um pouco como se faz com a morte de Samora Machel ficaríamos claros de que a morte de Eduardo Mondlane não só foi o complô com a PIDE. Dá-me a entender que dentro da Frelimo existiam os que não concordavam com a orientação de Mondlane e sabiam que ele adoptaria um sistema híbrido”, considerou Carlos Jeque, para quem a obra, por outro lado, o livro desvenda que Samora Machel era um homem a abater.
Não menos importantes foram os pronunciamentos do parlamentar da Renamo, Rahil Khan, que sustentou que Eduardo Mondlane era pró-ocidental e detentor de uma visão democrática fora da média entre os líderes da Frelimo, facto que até certo ponto contribuiu para a sua morte.
Mondlane estudou nos Estados Unidos da América e passou parte da sua vida a leccionar numa das mais célebres universidades daquele país, daí poder ter influencias pro-capitalistas ou ser adepto dum regime socialista democrático.
Mondlane estava “sob fogo cruzado”
Comummente pode ser consensual que dentro de uma organização humana existam ideais diferentes, ou melhor concepções políticas diametralmente opostas. A Frelimo não foi um caso em excepção. Os seus membros tinham as suas aspirações, os seus modelos de governação preferenciais. No entanto, Mondlane nunca escondeu ser pluralista e pacífico na busca de soluções para fazer frente aos problemas que assolavam Moçambique.
Rahil Khan, comentando sobre o assunto não teve reservas quando, referiu que a morte de Mondlane era a consequência do descontentamento de altas figuras pró-socialistas na Frelimo que aliaram-se à União das Repúblicas Socialistas Sovieticas para liquidar Mondlane. “Quando a união soviética descobriu que Mondlane não ia seguir as suas ideologias, juntou-se a dissidentes da Frelimo e liquidaram-no”, referiu o deputado.
A obra de Jacinto Veloso levanta pontos que há muito não são discutidos no país, não obstante a sua pertinência e imperiosidade com vista a busca de respostas cuja viciação nos pode obrigar a construir uma história distorcida de Moçambique.
António Frangoulis não acredita que no seio da Frelimo existiram ideias contrárias. Para si tratou-se de uma questão de estratégias, naquilo que ele definiu como socialismo científico e socialismo democrático. “Eu não encontro diferenças abismais nas ideologias. O que me parece é uma mudança de estratégias. A visão estratégica de Eduardo Mondlane visava criar um tipo de socialismo como do Botswana. Aproximar dentro daquilo que era o contexto o Leste e o Ocidente. O contrário do socialismo científico marxista-leninista”, rematou o interlocutor.
Boaventura Santos
O País (2006-12-12)
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