segunda-feira, dezembro 11, 2006

FRELIMO: Recordações da Coreia do Norte em Quelimane

Por Luís Andrade de Sá

Quelimane, Moçambique - Um presidente promovido pelos camaradas a comandante em chefe, o seu retrato nas lapelas dos militantes, crianças que "lhe" imploram, mulheres sem palavras - há muita Coreia do Norte na imprensa que a FRELIMO distribui no congresso de Quelimane.
O presidente é Armando Emílio Guebuza, líder do país e duplamente da FRELIMO, de que é presidente e secretário-geral, e a sua imagem, "exemplo e acção" abundam por estes dias em Quelimane, a capital da Zambézia, no centro de Moçambique, onde decorre o IX Congresso do partido.
Os "emblemas com o retrato do camarada presidente Armando Guebuza" custam 25 meticais (cerca de 80 cêntimos de euro) e vendem-se às dezenas na banca que o partido montou no recinto do antigo armazém da COGROPA (Comércio Grossista de Produtos Alimentares), onde decorre a reunião.
As camisas com o seu rosto, ora num pequeno rectângulo junto do bolso ou a encher toda a parte da frente, são mais caras, vendendo-se a partir de oito euros, e já não sobram muitas. Com a reunião - e o partido, e o país - na mão, Guebuza é um dirigente claramente em alta, ou na estratosfera, como ele parece estar para quem lê o Diário do Partido FRELIMO, que todos os dias chega pela manhã aos delegados. Na sua principal intervenção até ao momento, Armando Guebuza abordou com frontalidade o drama do HIV/SIDA, que, disse, está a matar os moçambicanos, apelando para o seu combate a todos os níveis e reconhecendo, mesmo alguns erros cometidos no passado.
O Diário da FRELIMO não perdeu muito tempo a citar as palavras de Guebuza, mas logo encontrou "camaradas que se prontificaram por livre e espontânea vontade para serem submetidos a testes médicos para saberem o seu estado serológico e voltarem a anunciar publicamente sobre os resultados do teste, sejam eles negativos ou positivos".
Não se sabe se a iniciativa foi avante mas o jornal garante, em maiúsculas, que tudo isto levou os congressistas a qualificarem "o Camarada Presidente Guebuza de Comandante em Chefe na Luta Contra a Pobreza Incluindo o HIV/SIDA".
Antes, "a criançada pediu ao Camarada Presidente para lhes pôr nas suas mãos", como descreve enigmaticamente o jornal, que também não perdeu o encontro de Guebuza com mulheres. "Saudaram o Camarada Presidente em particular, onde enfatizaram a sua forma sábia como tem conduzido os destinos da FRELIMO e de todo o povo moçambicano", escreve o órgão do departamento de mobilização e propaganda do comité central da FRELIMO. O registo laudatório não atingiu apenas os órgãos oficiais do partido, afectando convidados insuspeitos como o deputado Yoshinori Ohno, do conservador Partido Democrático Liberal que governa o Japão. Ohno disse ter demorado 62 horas a viajar de Tóquio para Quelimane, e isto para ficar apenas 48 horas em Moçambique. "E sabem porquê? Porque eu adoro Moçambique", disse, num português arrevesado, seguido de três vivas ao presidente Guebuza.

LUSA - 13.11.2006

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