Por Fernando Gonçalves(*)
Tive muita pena do presidente do Conselho Municipal da Cidade da Beira (CMCB), Deviz Simango, pela carga emocional e de vilipêndio a que esteve sujeito, simplesmente porque estava a tentar fazer o seu trabalho de acordo com as regras estabelecidas, e que ele, no seu estatuto, tem a obrigação de respeitar e fazer cumprir.
A postura de Simango em resposta à proposta de construção de monumentos em memória ao falecido Presidente Samora Machel foi, no meu entender, mal interpretada em certos círculos, e até algum ponto deliberadamente manipulada para se atingir fins políticos cujos benefícios só os seus protagonistas devem saber o que valem.
Samora Machel é uma figura incontornável da história política de Moçambique, e tenho imensas dificuldades em acreditar que Simango não tivesse sido suficientemente inteligente para aperceber-se disso, ao ponto de se colocar numa posição tão indesejável.
Mas o problema não é o jovem Simango; o problema são aqueles que receberam uma ordem do governo central e trataram simplesmente de implementá-la de forma tão acrítica, sem a necessidade de observância das mais elementares normas estabelecidas nas suas próprias posturas camarárias. É importante notar que Simango não disse que, na cidade da Beira, o seu executivo não aceitava a construção de um tal monumento. Se é a mesma coisa que dele ouvimos, o que ele disse é que, tendo-lhe sido submetido pelo governo provincial um pedido para esse fim, ele tinha a obrigação de encaminhá-lo para a Direcção da Construção e Urbanização, que deveria avaliar os aspectos técnicos (incluindo a localização) antes de submeter o projecto à aprovação da Assembleia Municipal. Alguma coisa de cínico nisso?
Evidentemente que não! Mas Simango é da oposição, e os seus argumentos para que os procedimentos sejam respeitados não podem ser válidos na face do expediente político. Havia dividendos a tirar, e alguém, obviamente ocupado com coisas tão menos importantes, lá encontrou espaço para anunciar a sua existência. Este imbróglio revela ainda uma outra faceta até aqui não explorada pelos analistas. A discussão não deve ser sobre se se deve ou não honrar Samora Machel, com a construção de monumentos ou com outro tipo de homenagem. O que deve ser questionado é se a fórmula encontrada, de quase por decreto instruírem-se todos os governos provinciais a erguerem simultaneamente aqueles monumentos, é a mais correcta. Não haveria outra forma mais criativa de homenagear Samora Machel sem ser por este Kim Il Sunguismo?
O perigo deste tipo de decisões, bem intencionadas mas denotando uma forte carga emocional, é que podem acabar por esvaziar o sentido do que se pretende alcançar, tornando-se num acto burocrático em que os governadores estão apenas a cumprir uma ordem. E no inevitável instinto de concorrência entre governadores para ver quem é o primeiro a cumprir a ordem, erros de localização ou mesmo de concepção não podem totalmente ser postos de lado. E como os monumentos devem servir de memória de um povo, nenhum povo se pode dar ao luxo de ter uma memória deturpada.
Por agora, é melhor deixar Deviz Simango fazer o seu trabalho sem interferências políticas de qualquer ordem. Vinte anos após a morte de Samora Machel, a construção de monumentos em sua memória já não pode ser uma simples questão de metas. A perfeição e a harmonia urbanística são muito mais importantes do que apenas cumprir uma meta já de si tardia.
(*)Editor do Savana
Tive muita pena do presidente do Conselho Municipal da Cidade da Beira (CMCB), Deviz Simango, pela carga emocional e de vilipêndio a que esteve sujeito, simplesmente porque estava a tentar fazer o seu trabalho de acordo com as regras estabelecidas, e que ele, no seu estatuto, tem a obrigação de respeitar e fazer cumprir.
A postura de Simango em resposta à proposta de construção de monumentos em memória ao falecido Presidente Samora Machel foi, no meu entender, mal interpretada em certos círculos, e até algum ponto deliberadamente manipulada para se atingir fins políticos cujos benefícios só os seus protagonistas devem saber o que valem.
Samora Machel é uma figura incontornável da história política de Moçambique, e tenho imensas dificuldades em acreditar que Simango não tivesse sido suficientemente inteligente para aperceber-se disso, ao ponto de se colocar numa posição tão indesejável.
Mas o problema não é o jovem Simango; o problema são aqueles que receberam uma ordem do governo central e trataram simplesmente de implementá-la de forma tão acrítica, sem a necessidade de observância das mais elementares normas estabelecidas nas suas próprias posturas camarárias. É importante notar que Simango não disse que, na cidade da Beira, o seu executivo não aceitava a construção de um tal monumento. Se é a mesma coisa que dele ouvimos, o que ele disse é que, tendo-lhe sido submetido pelo governo provincial um pedido para esse fim, ele tinha a obrigação de encaminhá-lo para a Direcção da Construção e Urbanização, que deveria avaliar os aspectos técnicos (incluindo a localização) antes de submeter o projecto à aprovação da Assembleia Municipal. Alguma coisa de cínico nisso?
Evidentemente que não! Mas Simango é da oposição, e os seus argumentos para que os procedimentos sejam respeitados não podem ser válidos na face do expediente político. Havia dividendos a tirar, e alguém, obviamente ocupado com coisas tão menos importantes, lá encontrou espaço para anunciar a sua existência. Este imbróglio revela ainda uma outra faceta até aqui não explorada pelos analistas. A discussão não deve ser sobre se se deve ou não honrar Samora Machel, com a construção de monumentos ou com outro tipo de homenagem. O que deve ser questionado é se a fórmula encontrada, de quase por decreto instruírem-se todos os governos provinciais a erguerem simultaneamente aqueles monumentos, é a mais correcta. Não haveria outra forma mais criativa de homenagear Samora Machel sem ser por este Kim Il Sunguismo?
O perigo deste tipo de decisões, bem intencionadas mas denotando uma forte carga emocional, é que podem acabar por esvaziar o sentido do que se pretende alcançar, tornando-se num acto burocrático em que os governadores estão apenas a cumprir uma ordem. E no inevitável instinto de concorrência entre governadores para ver quem é o primeiro a cumprir a ordem, erros de localização ou mesmo de concepção não podem totalmente ser postos de lado. E como os monumentos devem servir de memória de um povo, nenhum povo se pode dar ao luxo de ter uma memória deturpada.
Por agora, é melhor deixar Deviz Simango fazer o seu trabalho sem interferências políticas de qualquer ordem. Vinte anos após a morte de Samora Machel, a construção de monumentos em sua memória já não pode ser uma simples questão de metas. A perfeição e a harmonia urbanística são muito mais importantes do que apenas cumprir uma meta já de si tardia.
(*)Editor do Savana
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