O filósofo Severino Ngoenha alertou hoje para o surgimento de reivindicações "pseudo-identitárias" ligadas à disponibilidade de recursos, considerando os incidentes de Mocímboa da Praia como um aviso.
"Hoje, começam a nascer revindicações pseudo-identitárias ligadas à disponibilidade dos recursos minerais no nosso território", declarou o reitor da Universidade Técnica de Moçambique.
Severino Ngoenha falava durante o último dia do Fórum MOZEFO, ciclo de conferências promovido pelo grupo de comunicação social Soico.
Para Ngoenha, os incidentes de Mocímboa da Praia, Norte de Moçambique, em Outubro, em que um grupo armado atacou postos policiais, resultando em mortes dos dois lados, revelam a ameaça da intolerância religiosa e expõem a debilidade de uma sociedade que deve repensar o seu conceito de identidade.
"A intolerância religiosa mostrou-nos o que ela pode fazer, com o caso de Mocímboa da Praia. Imagina o que pode fazer a intolerância regional", questionou o académico.
O autor da obra "Das Independências às Liberdades" entende ainda que a ameaça de um neocolonialismo político e económica é eminente no mundo moderno e o facto de Moçambique não estar a "fortalecer os seus tecidos internos", em alusão à ausência de coesão social, revela falta de consciência do problema.
"Nós continuamos a fingir que somos um país plural. Na verdade, nós precisamos de criar um tecido social realmente forte", frisou o académico.
Ngoenha considerou que a intolerância em Moçambique se estende à política e a exclusão de partidos e outros actores sociais nas negociações de paz entre o Governo e o principal partido da oposição, Resistência Nacional de Moçambique (Renamo), é o mais claro indicador disso, referiu.
"Neste momento estamos num país em tréguas e não em paz. As negociações são feitas por apenas duas partes, mas o problema em causa é de todos nós", afirmou académico, que sugere que se convoquem estados gerais para encontrar uma solução definitiva para a crise política no país.
"Façamos um debate mais amplo. É preciso dar espaço a todos, porque as opiniões de todos" podem levar a "um equilíbrio", concluiu.
Fontes: Lusa – 23.11.2017
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