Pesem as inúmeras iniciativas
para que o Exército se distanciasse do perímetro onde se julga estar acampado
Afonso Dhlakama, a tropa tende, pelo contrário, a apertar o cerco. Armando
Guebuza inicia hoje visita a Sofala, envolto em especulações sobre a reedição da
mega-operação.
Na memória da visita, o ano
passado, do Presidente da República a Manica e Sofala, o facto de ter
coincidido com o ataque de grandes proporções ao acampamento de Afonso
Dhlakama, em Santhunjira, na serra da Gorongosa, forçando a sua saída
precipitada para parte incerta.
Pouco menos de um ano depois,
Armando Guebuza volta a Sofala, sob pretexto da Presidência Aberta e Inclusiva,
despertando especulações em torno desta nova escalada à região, numa altura em
que a tensão militar e política está ao rubro.
O Exército está convencido de que
Dhlakama está encurralado, sem “porta” de saída sem que seja cravado de balas,
em caso de não rendição.
Os homens armados de que dispõe
são em número reduzido em relação aos que compõem a tropa governamental.
A diferença entre as duas forças
reside na experiência e na estratégia a adoptar. Cinco guerrilheiros da RENAMO
podem estar para 50 militares, aliado ao pleno conhecimento do terreno que
estes pisam, não sendo por acaso que Dhlakama elegeu aquela área para se
instalar em Outubro do ano antepassado.
O Exército tem em seu desfavor, a
fraca experiência combativa na maioria dos seus integrantes e o efeito
psicológico em queda, motivada pelas sucessivas baixas.
Há relatos que apontam para a
presença, entre a tropa moçambicana, de militares de elite do Zimbabwe, que
teriam ajudado o Exército na tomada do acampamento de Dhlakama e que agora
estariam a ensaiar uma nova incursão. E Guebuza, em Sofala, estaria para seguir
a operação final contra Dhlakama.
Trunfos de Afonso Dhlakama
Perante este quadro é suposto
concluir chegado ao fim o reinado de Afonso Dhlakama.
Cercado de todos os lados, com o
Exército de armas apontadas na sua direcção, pouco ou quase nada restaria para
o líder da RENAMO que não seja a rendição.
Mas diversas fontes por nós
contactadas garantem que Dhlakama tem trunfos valiosos na manga para voltar a
se safar de um eventual ataque de grandes proporções, mercê do conhecimento
pleno que tem da área em que se encontra acampado e de homens dispostos a
morrer na frente de combate.
A estratégia de Dhlakama inclue a
dispersão dos seus homens armados pelas várias bases que funcionaram durante a
guerra civil, reactivadas na sequência da actual crise político-militar.
Estes homens, nas diversas
frentes, teriam a missão de entrar em acção ao primeiro sinal dado por
Dhlakama, fazendo rebentar a guerra em muitos pontos do país onde eventualmente
pouco se esperaria.
As fontes chamam a atenção para o
facto de a RENAMO ter se preparado com muito tempo de antecedência, antes de
Dhlakama se mudar para a serra de Gorongosa.
Logo, tanto em meios humanos,
como materiais, o braço armado do partido estaria preparado para qualquer
eventualidade.
Ripostando aos jornalistas, em
Santhunjira, Afonso Dhlakama garantiu que o seu problema não é dinheiro. E
acrescentou que se tal fosse, haveria de negociar com os patrões das multinacionais
que se encontram em Moçambique, em jeito de chantagem, dinheiro a troco de não
atacar os seus negócios.
Para alguns interlocutores, essa
estratégia pode constituir um trunfo de último recurso, caso o antigo movimento
“se sinta apertado” na frente de combate, tal como aconteceu durante duas
décadas e meia que durou a guerra civil em Moçambique.
Adivinha-se o avolumar da tensão
na região centro nos próximos dias, período durante o qual a RENAMO deve
indicar um novo porta-voz - pelo vazio deixado por Muchanga - para reportar os
acontecimentos no terreno, sob o ponto de vista do partido.
Fonte: EXPRESSO – 09.07.2014
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