domingo, julho 27, 2014

Académicos consideram próximas eleições o maior desafio que se coloca ao país

"Pela actualidade, uma boa parte da secção de política do livro trata do actual conflito político-militar entre Frelimo e Renamo, certamente o ponto central, o desafio maior e que condiciona tudo o resto no país", disse à Lusa Luís de Brito, director do IESE e um dos coordenadores da obra lançada na passada semana em Maputo.


O investigador lembra que, desde 1994, os actos eleitorais têm sido caracterizados pela recusa da Renamo em reconhecer as vitórias do partido no poder desde a independência, mas sempre em ambiente de paz, ao contrário do contexto de conflito que se agudizou nos últimos meses no centro do país

"O que poderá acontecer em Outubro se houver eleições e se os resultados forem desfavoráveis para a Renamo, que está ainda armada?", questiona Luís de Brito, salientando que "há um grande risco de violência no país".

Este é o quinto volume da série "Desafios para Moçambique", publicada desde 2010, com contributos dos académicos do IESE e outros investigadores convidados, e que visa, segundo os autores, "contribuir para o debate sobre aspectos relevantes do processo de desenvolvimento de Moçambique", um país "marcado por uma crise profunda, acompanhada por desigualdades económicas e sociais crescentes".

O primeiro artigo do livro, assinado por Luís de Brito, também coordenador do Grupo de Investigação sobre Cidadania e Governação no IESE, mergulha no Acordo Geral de Paz, celebrado entre Frelimo e Renamo em Roma em 1992, questionando a reconciliação obtida desde então.

"Infelizmente a via seguida tem sido mais uma re-edição empobrecida do processo de Roma, com os mesmos defeitos e fraquezas, nomeadamente as desconfianças, as intenções escondidas e o formalismo, em detrimento de uma abordagem mais aberta, participativa e criativa, que hoje seria necessária", conclui o autor.

Procurando entender os fundamentos da actual instabilidade no país, os restantes artigos da secção de política debruçam-se sobre a necessidade da reforma do conceito de cidadania, bem como na transição política inacabada desde o acordo de Roma, com a Frelimo a consolidar uma actuação de "partido-estado", a Renamo a manter uma via militarizada, o que, associado à pobreza e expectativas de rendimentos dos recursos naturais, reforça a ameaça de violência política no país.

A obra lembra que no passado recente houve três manifestações violentas e uma pacífica, que exprimem a "frustração em relação às políticas do Governo", enquanto contribuem para a emergência de "um novo espaço de diálogo".

As eleições gerais previstas para 15 de Outubro são o maior problema que o país enfrenta, segundo os académicos do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), que acabam de lançar a obra "Desafios para Moçambique 2014".

O bloco do livro dedicado à economia aborda o crescimento da cultura do tabaco, os grupos de poupança e créditos rurais como opção para a inclusão financeira, oportunidades e condicionalismos na agricultura, a partir do caso do regadio do Chókwè, o sector dos transportes rodoviários de mercadorias e a responsabilidade social na indústria extractiva.

A parte social da obra faz uma leitura psicanalítica da construção da democracia, a protecção social na transição demográfica no país, a poupança doméstica e o ensino superior, com a necessidade de produção de conhecimento científico.

Segundo Luís de Brito, as edições anteriores de "Desafios para Moçambique" tiveram "bastante impacto, particularmente no domínio das questões económicas", contribuindo para um maior conhecimento dos mega-projectos, sua fiscalidade e oportunidades que se podiam gerar através da renegociação dos contratos.

"Hoje é um bem comum que não existia antes de o IESE começar a divulgar os resultados da investigação desses problemas", disse à Lusa "Na área politica, é mais difícil avançar."


Fonte: SAPO com Lusa – 27.07.2014

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