mediaFAX por dentro de um encontro que ao invés de consolidar os avanços no diálogo político lançou mais achas para a fogueira
(Maputo) A sessão do Conselho de
Estado (CE), havida ontem na Presidência da República, e que acabou sendo
irrelevante para a pacificação do País, começou com a leitura de um documento
que pretendia contextualizar a atual tensão político-militar. Foi o Primeiro
Ministro, Alberto Vaquina, quem leu o documento, colocado na véspera por cima
da mesa.
Por debaixo desse documento estava
um pedido expresso da Procuradoria Geral da República (PGR) ao CE: levantamento
imediato da imunidade do conselheiro António Muchanga, um dos representantes da
Renamo no órgão (os outros são o antigo deputado da Renamo, Manuel Lole, e
Afonso Dhlakama, que nunca chegou a tomar posse). O pedido da PGR, que acusa
Muchanga de incitamento à violência, não constava da agenda da reunião mas
acabou sendo a estrela do evento.
A sessão terminou com a brusca
detenção de António Muchanga, porta voz de Dhlakama. Por volta das 10 horas da
manha, depois do PR Armando Guebuza eos Conselheiros se sentarem nas poltronas
de cabedal à volta de uma mesa rectangular de uma das salas de audiências no
novo edifício da presidência, Vaquina iniciou a leitura de um texto onde, segundo
fontes do mediaFAX, se destacava apenas referências aos “ataques armados da
Renamo” e à perda de vidas humanas.
Quando o PM terminou, a conselheira
Deolinda Guezimane iniciou uma espécie de discussão que se centrou na mesma
tónica de referências aos “ataques da Renamo”. Depois seguiu-se Alberto Chipande,
membro da Comissão Política da Frelimo, principal tutor político do candidato
presidencial do partido no Governo, Filipe Nyusi. Um das nossas fontes
presentes no encontro disse que Chipande também foi cáustico em relação à Renamo.
À medida que as intervenções se
iam sucedendo, asseveraram-nos um tom quase consensual anti-Renamo imperou na
sala, com Guebuza pouco interventivo. A sessão durou cerca de duas horas e a
discussão sobre o pedido da PGR foi sendo feita como uma espécie de adenda à
comunicação de Vaquina, mas acabou tornando-se o tema de fundo. O único
conselheiro que se pronunciou contra o levantamento da imunidade de Muchanga
foi Manuel Lole. Segundo uma fonte presente, Lole disse que uma decisão nesse
sentido seria um retrocesso e colocaria em risco os avanços alcançados na mesa de
negociações no Centro de Conferencias Joaquim Chissano (Ontem houve mais uma
sessão, que não produziu quaisquer resultados).
O Conselho de Estado é um órgão de
consulta do PR. Entre os conselheiros estavam, para além de Chipande e
Guezimane, o antigo presidente Joaquim Chissano, o decano da Frelimo Marcelino
dos Santos, a Presidente da Assembleia da República Verónica Macamo, o presidente
do Conselho Constitucional Hermenegildo Gamito, e Eduardo Mulémbwè, José Abudo,
Bernardo Ferraz, Alberto Vaquina, Brazão Mazula,
Denis Sengulane, Manuel Lole e António Muchanga. Estiveram ausentes Graça
Machel e o antigo Arcebispo de Maputo, Cardeal Dom Alexandre dos Santos. A
maioria dos membros representa os interesses do partido no Governo. Mazula e Sengulane
representa os interesses da chamada sociedade civil.
De acordo com dois relatos colhidos
pelo mediaFAX, o tom quase consensual estendeu-se a favor do levantamento da
imunidade de Muchanga. Brazão Mazula é descrito como tendo tido uma intervenção
“isenta” mas também alegadamente dúbia. Ele terá dito, referindo-se expressamente
ao caso Muchanga, que o conselho devia pronunciar-se à favor do princípio de
separação de poderes, deixando na mesa a percepção de que o conselho devia abrir
caminho à acção do poder judicial no caso concreto. Ontem, o mediaFAX tentou
colher um depoimento seu sobre o que se terá passada mas, depois de tomar conhecimento
das nossas intenções, ele enviou-nos uma sms a dizer que não podia atender.
Denis Sengulane passou toda a sessão
em silêncio. Um analista interpretou este silêncio como estando alinhado com o
facto de Sengulane ser um dos mediadores das negociações em curso. O antigo
Bispo da Diocese Anglicana dos Libombos tem se empenhado nos esforços de paz e,
quando o exército governamental atacou a base de Satungira a 21 de Outubro no
ano passado, ele partilhou publicamente a sua reprovação quanto a uma solução armada
da crise. Satungira foi o anterior refúgio Afonso Dhlakama.
Por volta das 11 horas, a sessão do
Conselho de Estado terminava com o registo de que a maioria dos Conselheiros se
havia pronunciado à favor do levantamento da imunidade de uma das figuras mais
mediáticas da Renamo. E quando a sessão terminou, Muchanga foi dos primeiros a
deixar a sala, o seu semblante não augurava boas notícias. E antes mesmo de
deixar o recinto da presidência, ele foi detido por agentes da Polícia que lhe
levaram, no seu carro protocolar, para uma esquadra da corporação na baixa da
cidade. Por volta das 19 horas de ontem, o porta voz da Renamo foi conduzido a Cadeia
Civil de Maputo, na Kim Il Sung, onde geralmente aguardam por julgamento os
cidadãos em prisão preventiva.
A detenção de Muchanga causou uma
enorme movimentação nas hostes da Renamo em Maputo. À tarde, Manuel Lole deu
uma conferência de imprensa onde classificou a detenção de Muchanga de “rapto”,
acrescentando que era agora um “preso político”. Lole disse que, para ele, o
Conselho de Estado foi convocado apenas como pretexto para se prender Muxanga e
não para discutir a atual tensão político-militar. Uma jornalista perguntou-lhe
se a detenção tinha sido um ato de má fé. “Sim”, disse Lole. “Foi tudo orquestrado
nesse sentido”. Com a saída de cena de Fernando
Mazanga, o porta voz da Renamo que se tornou membro da Comissão Nacional
Eleições no quadro da recente alteração da Lei Eleitoral, Muchanga tornou-se o
principal elemento de ligação com a comunicação social, através da qual tem
proferido discursos veementes. Recentemente, disse que a Renamo iria dividir o
país se as incursões das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) na
região da serra de Gorongosa continuassem; e anunciou o fim do cessar fogo
unilateral e o reinício de ataques no troço Save-Muxúngue, depois do líder da
Renamo ter declarado o fim dos mesmos no passado dia 8 de Maio.
Esta é a segunda detenção de um
membro da Renamo relacionada com o mesmo tipo de acusação. Em Junho de 2013,
Jerónimo Malagueta, Director de Departamento de Informação foi detido um dia
depois de anunciar, em conferência de imprensa, que os homens armados da Renamo
iriam alargar o seu perímetro de atuação com vista a proteger o Dhlakama que
estava a ser cercado pelas FADM. Malagueta acabou preso por 8 meses, estando
agora em liberdade condicional.
As reuniões do Conselho têm sido
estatutariamente à porta fechada, ou seja sou participam dela os conselheiros,
mas ontem estava também o porta-voz do PR, Edson Macuacua, e os ministros da Defesa
e do Interior, António Mondlane e Agostinho Mondlane, respectivamente, causando
alguma estupefação entre alguns conselheiros. A sessão acabou sendo irrelevante
para o processo de pacificação em curso. Aliás, o caso Muchanga acabou
consumido mais tempo. Quanto a tensão militar em curso, alguns conselheiros que
falaram à comunicação social disseram que , na sessão, haviam transmito ao Presidente
da República o mesmo que um recente comunicado da Comissão Política da Frelimo fizera:
encorajar Armando Guebuza a seguir a via do diálogo na solução da actual crise.
Também no final do encontro, o
porta voz de Guebuza, Edson Macuacua, disse que a sessão tinha servido para
“analisar a tensão política militar bem como a situação económica e social do
país”. Disse também que os conselheiros “condenaram ao atos da Renamo de atacar
civis e encorajaram o presidente da República a prosseguir com o diálogo” e que
a sessão concluir que “estavam reunidas todas condições para a realização das
eleições a 15 de Outubro.(Marcelo Mosse, com Raul Senda)
Fonte: MediaFAX – 08.07.2014
1 comentário:
Changue e outros de grande nivel na minha terra fizeram incitacao de corrupccao casos "EMATUM" contra bando d madeiras, sao impunes. Muchanga, por tensao politica militar s
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