Salvador Forquilha alega que perseguição que investigadores do IESE são vítimas é fruto do actual contexto político vivido no país
O Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE) considera que, nos últimos 10 anos, houve deterioração do sistema político democrático e do nível de participação pública em Moçambique. Este posicionamento foi defendido pelo director do IESE, Salvador Forquilha, na abertura da V Conferência Internacional da instituição.
O director do IESE diz que a instituição que dirige tem como objectivo promover o debate sobre as políticas públicas que são implementadas no país, com a finalidade de contribuir para a construção da cidadania activa em Moçambique. Entretanto, considera que este propósito não foi compreendido pelas elites políticas. “No auge da intolerância política e aversão ao pensar diferente, que, infelizmente, têm vindo a caracterizar o nosso país nos últimos anos, muitas vezes, investigadores do IESE, por causa dos seus posicionamentos, foram acusados de ser ‘anti-patriotas’, ‘apóstolos da desgraça’, com ameaças e intimidações à mistura, visando não só desacreditar o trabalho do instituto como também silenciar as suas vozes”, referiu.
Na sua intervenção, Forquilha disse que a perseguição de que os investigadores do IESE são vítimas é fruto do actual contexto vivido no país. O investigador abordou, igualmente, a descida do país nos índices e relatórios internacionais sobre governação democrática em África, onde os indicadores referentes à participação e direitos humanos e à prestação de contas têm vindo a decrescer consideravelmente. “Essa deterioração consubstancia-se não só no atrofiamento dos espaços de participação política e violação dos princípios básicos do Estado de direito democrático, como também no reinício da confrontação armada e crise associada às dívidas ilícitas”, disse o investigador.
Por outro lado, Salvador Forquilha chamou atenção para o facto de sempre se buscar culpados externos para as crises e problemas que o país enfrenta. Para ele, estes problemas foram originados pelas más escolhas das elites políticas nacionais. “É muito fácil, e até politicamente mais cómodo, pensar que o ‘vizinho’ ou a famosa ‘mão externa’ ou, pior ainda, o destino é a causa das nossas crises sucessivas que temos vindo a viver como país (…) Mas é importante entender que a pobreza, a miséria, a precariedade, a instabilidade política, a guerra, não são nem podem ser vistas como fatalidades do destino (…) Elas são, isso sim, em grande parte, produto de opções de políticas e, diga-se de passagem, irresponsáveis das elites que governam”, explicou Salvador Forquilha.
Para o director do IESE, ao entender-se as causas das crises, o país facilmente poderá buscar soluções. E, no seu entender, a solução passa por se reinventar o nosso sistema político e construir-se uma democracia baseada não nos eleitores, mas nos cidadãos, que respeite os direitos humanos e as liberdades individuais.
Refira-se que o IESE completou, ontem, 10 anos de existência. O instituto tem como objectivo para a próxima década a consolidação e aprofundamento da investigação nas áreas de trabalho do IESE; a valorização da pesquisa, através da intervenção social e académica; assim como o desenvolvimento e sustentabilidade institucional.
A V conferência internacional do IESE tem a duração de três dias, nos quais serão apresentados 103 estudos sobre questões sociopolíticas e económicas de Moçambique e de outros países.
Fonte: O País – 20.09.2017
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