Em resposta a um tema que lancei no imensis colocou-se este artigo muito importante no combate à SIDA/HIV:
A Pandemia da SIDA continua a progredir em todo o Planeta, atingindo cada vez com maior evidência os países e populações pobres onde o baixo nível cultural e educacional se associam ao baixo nível sócio-económico. É assim que se explica a explosão epidémica em África a Sul do Sarah, no Sudeste Asiático, no Leste Europeu, na América Latina e ainda no Sul da Europa. Desde a descrição dos primeiros casos de SIDA em 1981, muito se aprendeu sobre os VIH, sobre os mecanismos da infecção e de defesa imunológica, vias de transmissão, expressão clínica, terapêutica, etc.
Sem dúvida que houve enormes progressos no conhecimento básico da infecção pelo VIH e também na investigação clínica e farmacológica. Surgiram múltiplos anti-retrovirais e a infecção pelo VIH tornou-se, na maioria dos casos numa infecção crónica, com menor morbilidade e mortalidade.
Os resultados terapêuticos são valiosos não podendo porém ocultar-se o aparecimento de graves patologias iatrogénicas e um índice custo/benefício por vezes difícil de avaliar. A escassa aderência à terapêutica e às despesas globais em tratamentos injustificados ou errados, pesam profundamente na análise económica da terapêutica da SIDA.
Quanto às vacinas, o que há são muitos projectos e poucos resultados práticos, continuando a Vacina Preventiva a ser uma miragem distante.
Em face do crescimento assustador da SIDA e da ausência de terapêutica eficaz ou vacina preventiva, resta a Prevenção como a melhor arma de luta.
A Prevenção tem que assentar no enriquecimento individual, na motivação, na integração social, confiança e solidariedade. Ela deve ser dirigida aos indivíduos, aos grupos alvo e à população em geral, visando três objectivos fundamentais - Prevenir novas infecções, reduzir os efeitos negativos da Epidemia e promover a Solidariedade. O nosso principal esforço deve incidir nos jovens, adaptando-se as intervenções à idade e ao seu grau de desenvolvimento. Paralelamente e com igual importância, estão os esforços de Prevenção dirigidos aos toxicodependentes, homossexuais e prostitutas - grupos com agravados factores e situações de risco - e ainda às mulheres, cada vez mais estão expostas ao risco da infecção pelo VIH.
No que diz respeito aos Princípios de Prevenção, sublinhamos a importância do enriquecimento individual pelo treino e educação contínuas, da motivação versus compulsão (monogamia, preservativo, rejeição de drogas I. V., uso de material esteril) e da integração versus segregação (integração social, confiança, solidariedade).
Na Prevenção há, como já dissemos que Prevenir Novas Infecções, Reduzir os Efeitos da Epidemia, e Promover a Solidariedade.
No que diz respeito à Prevenção das Novas Infecções, é preciso sempre salientar a inexistência de uma vacina preventiva eficaz e de terapêutica curativa. Nestas circunstâncias a única saída é a modificação comportamental dos indivíduos. É preciso explicar repetidamente as vias de transmissão e as medidas protectoras, dando conhecimento dos comportamentos de risco e fazendo motivação pessoal no sentido da responsabilização. Esta só será atingida se à Informação se juntar a Educação devidamente dimensionada na qualidade e no tempo.
Quanto aos Efeitos Negativos da Epidemia, há que exigir um comportamento responsável a todos os indivíduos, estimulando a pesquisa da infecção VIH para diagnósticos e terapêuticas precoces, estimulando a aderência e reduzindo a morbilidade e a mortalidade. É indispensável ainda aproveitar adequadamente, melhorar e criar unidades adequadas ao tratamento e suporte dos infectados e doentes, sublinhando-se as enormes carências para os infectados assintomáticos e defendendo-se para todos adequados cuidados médicos, de enfermagem e de apoio social.
Finalmente é indispensável Promover a Solidariedade, desenvolvendo a compreensão e o respeito por diferentes padrões e valores, promovendo a confidencialidade, a responsabilidade recíproca e a qualidade de vida da pessoa doente.
Será preciso salientar vezes sem conta que a Solidariedade implica um sentimento íntimo de responsabilidade e envolvimento, inclusivé do infectado, e não meramente assistência material e a integração dos já doentes.
Para além destes princípios gerais é necessário, a cada momento, adaptar os projectos preventivos aos diferentes grupos alvo, destacando-se a prioridade para os jovens, mulheres, toxicodependentes e grupos populacionais com piores situações de risco - pobres, reclusos, emigrantes, etc.
Finalmente, é preciso ter muita modéstia e entender que a Prevenção da SIDA é uma tarefa global e complicada, de enormes dimensões, em que o Planeamento cuidadoso é fundamental. E depois será preciso realizar, avaliar, modificar e realizar de novo, até realizar bem e obter resultados válidos! Para Portugal acreditamos ser indispensável realizar uma reflexão profunda sobre os fracassos anteriores e suas causas, só depois investindo num Projecto Nacional com intervenção multidisciplinar dos diferentes peritos e técnicos. Estamos convencidos que a Epidemia em Portugal se não reduzirá de modo significativo, sem que se ponha em marcha uma "revolução" profunda, envolvendo em cooperação, as áreas da Educação, da Saúde e a área Social.
Em boa hora ouviu a Associação SidaNet a nossa proposta e decidiu escolher como título do próximo Congresso Virtual - A Prevenção da SIDA. Esperamos o contributo de todos os interessados no período em que irá decorrer o VI Congresso Virtual da SIDANET, para que, num palco virtual, se exprimam opiniões, experiências e projectos, se comuniquem resultados, se prestem esclarecimentos, se despertem consciências e se alertem governantes.
Duas palavras especiais - uma para os Seropositivos - a quem peço uma larga colaboração, indicando-nos as suas opiniões, sugestões e propostas baseadas nas suas próprias experiências - e outra para as ONG's que tão dedicadamente associam o trabalho voluntário a esta causa, que no fundo é de todos nós.
Sendo voluntário há 20 anos na Luta Contra a SIDA, sinto o dever de enviar uma mensagem aos detentores do Poder - seja ele qual for - para que entendam de uma vez por todas, que a Educação para a Saúde e para a Sexualidade é crucial para uma sociedade progressista e feliz, e que ela só será eficaz se for acompanhada de adequada elevação sócio-económica e cultural.
Termino com uma saudação à Direcção da Associação Sidanet, que de forma tão entusiasta continua a abrir este palco virtual a todos nós.
Bom Congresso.
Machado Caetano*
Presidente do VI Congresso
* Presidente da Assembleia Geral da Sidanet
Professor Catedrático de Imunologia da Faculdade de Ciências Médicas e Presidente da Fundação Portuguesa "A Comu
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