Mesmo estando juntos no Conselho de Estado Dos Santos nega brindar com Dhlakama.
Viveu-se momentos emocionantes caracterizados por Marcelino dos Santos, o “dono da Frelimo” ao negar redondamente brindar com o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, na última Sexta-feira, durante a tomada de posse dos 17 membros do Conselho de Estado de que os dois fazem parte, investidos pelo Presidente da República, Armando Guebuza, no Palácio da Ponta Vermelha.
Políticos, académicos e membros da sociedade civil ouvidos pelo ZAMBEZE consideram a atitude do veterano da Frelimo como antiprotocolar e outros dizem que mostra os moçambicanos que Dhlakama foi o justo vencedor da guerra e do marxismo leninismo.
Marcelino dos Santos jurara publicamente “nunca apertarei a mão de um bandido armado, Afonso Dhlakama”.
Após a investidura daquele órgão consultivo ao PR, Marcelino dos Santos recusou-se brindar com Afonso Dhlakama e a esposa do líder da perdiz brindou à força com o veterano da Luta de Libertação de Moçambique.
Questionado, Marcelino dos Santos reafirmou: “o que as pessoas dizem convictas não podem alterar, e nunca violarei o que disse há anos. Vocês não têm outras coisas para me perguntar? Então viram e gostaram? Sou firme no que digo e não quero trair a mim mesmo”, disse.
Dhlakama sempre igual a si mesmo, reagindo ao comportamento do veterano da Frelimo, disse: “não vim à Ponta Vermelha para satisfazer vontades de qualquer pessoa, muito menos de Marcelino dos Santos, mas para assuntos de Estado moçambicano que estão muito acima do veterano da Frelimo”.
Dhlakama frisou que a decisão de tomar posse no Conselho de Estado, foi por respeito à democracia, espírito de tolerância e para encorajar investimentos externos para Moçambique.
“Foi difícil tomar esta decisão mas terei de explicar ao meu eleitorado, que fi-lo contra a vontade dele, mas a importância do órgão é muito maior para o bem de todos os moçambicanos, incluindo os meus eleitores. Em política, às vezes é preferível trair para depois explicar as razões da traição”, frisou o líder da Renamo na Ponta Vermelha.
Na mesma cerimónia, o PR, Armando Guebuza, disse que a composição de um grupo heterogéneo reflectia a consolidação de paz, espírito de tolerância, reconciliação e vontade de a equipa servir a Nação e aos moçambicanos.
O Conselho de Estado é um órgão de consulta de Chefe que se deve pronunciar obrigatoriamente sobre matérias como a declaração de estado de sítio ou de emergência, estado de guerra, dissolução do Parlamento e convocação de eleições gerais.
No dia anterior (Quinta-feira), Guebuza havia recebido na Ponta Vermelha, moçambicanos residentes na diáspora, a quem instou para fazerem algo para Moçambique.
Na mesma Quinta-feira, o PR ofereceu uma recepção por ocasião do Natal e fim-do-ano, tendo participado membros do governo, corpo diplomático, jornalistas, membros da Frelimo e da oposição.
“Se houver fraude sempre reclamarei”
Dhlakama disse que apesar de ser membro do Conselho de Estado nunca deixará de reclamar se houver fraude eleitoral. “Não é por ser membro do Conselho de Estado que deixarei de criticar. Falarei sempre que houver fraude eleitoral”, disse.
Na tomada de posse houve notas soltas. Malangatana Valente Nguenha, um dos membros do Conselho de Estado não trazia o seu bilhete de identidade ou qualquer outro documento de identificação e Jeremias Pondeca não tinha esferográfica para assinar o termo de posse.
- Cidadãos condenam atitude do veterano da Frelimo
Políticos, académicos, jornalistas e figuras da sociedade civil moçambicana manifestaram a sua indignação e condenação à atitude do veterano da Frelimo, Marcelino dos Santos, que se recusou a brindar com Afonso Dhlakama, após a cerimónia da tomada de posse do Conselho de Estado.
Para José Manuel Samo Gudo, político, “Marcelino dos Santos não sabe perder. A atitude dele mostra claramente que Dhlakama foi justo vencedor da guerra dos 16 anos, daí Marcelino dos Santos estar aborrecido”.
Acrescentou que “bons políticos são como pugilistas que até os vencidos cumprimentam voluntariamente os vencedores. Os vencedores são sempre magnânimos e apertam a mão aos seus vencidos”, disse aquele político.
Afirmou que “o problema de Marcelino dos Santos é estar triste porque Dhlakama foi justo vencedor do Marxismo-Leninismo da Frelimo e das eleições gerais realizadas no País. Louvo a Dhlakama por se ter esquecido do passado e abraçar a democracia e reconciliação nacional”.
Para Lutero Simango, político e deputado do Parlamento pela Renamo União Eleitoral, “a atitude de Marcelino dos Santos foi anti-protocolar. Pior foi a justificação de Edson Macuácua, de que Dhlakama devia pedir desculpas públicas pelos massacres cometidos durante a guerra dos 16 anos.
Foi péssima sabendo-se que muitos moçambicanos foram brutalmente massacrados durante a Luta de Libertação Nacional”, disse.
“A Frelimo criou o SNASP, órgão do regime que prendeu, matou e seviciou cidadãos sem culpa formada. Se a Frelimo exige a Dhlakama desculpas públicas, que seja exemplar nos crimes que cometeu na luta armada e após a independência nacional.
Ainda nos recordamos dos campos de reeducação e nós magoados por crimes voluntários da Frelimo, queremos desculpas. Edson Macuácua foi infeliz”, frisou Simango.
Para Yaqub Sibindy, “os interesses de Estado estão acima de tudo e louvo a Dhlakama por tomar posse. Quanto a Marcelino dos Santos, penso que quando a Frelimo aceitou a reconciliação com Dhlakama consultou o seu veterano e não fez à revelia.
Marcelino devia se comportar como sal do partido e da democracia nacional, atendendo a sua experiência acumulada como político e dirigente”.
Para o vice-reitor do Instituto Superior de Relações Internacionais, Patrício José, “Marcelino dos Santos tem um carácter próprio e personalidade criados ao longo da sua história.
Acredito que continua a manter os seus ideais, embora tenha aceite a democracia em Moçambique, ao mesmo tempo que aceitou ser empossado juntamente com Afonso Dhlakama. Uma coisa é ser coerente para consigo mesmo e Marcelino dos Santos é coerente e consequente dos seus ideiais marxistas para si próprio”, vincou José.
Por seu turno, Jeremias Langa, jornalista, “o veterano da Frelimo não podia continuar a pensar ou a comportar-se daquela maneira porque estamos em democracia que ele próprio aceitou a sua implantação no País”.
“Em democracia, às vezes, temos de esquecer certas situações e até deixarmos de ser o que somos para salvaguardar certas coisas. Por mim, não devia continuar a pensar assim, porque o tempo é outro”, frisou Langa.
Carlos André
[12/30/2005]
http://www.zambeze.co.mz/zambeze/artigo.asp?cod_artigo=168657
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário