As eleições presidenciais de Outubro em Moçambique vão ser "cruciais para o futuro" porque marcarão o regresso à normalidade ou à instabilidade política, e terão um impacto decisivo no desenvolvimento económico do país.
Em entrevista à Lusa, o analista responsável pelo acompanhamento de Moçambique na Economist Intelligence Unit (EIU), a unidade de estudos e análise económica da revista britânica The Economist, Sebastien Marlier, explica que "as próximas eleições serão cruciais no contexto político. Tivemos um período de instabilidade de 18 meses, e agora vai-se determinar se voltamos à política normal ou se, dependendo dos resultados, voltamos a ter outro período de instabilidade".
No dia 15, realizam-se eleições gerais em Moçambique, depois de vários meses de tensão militar em várias zonas do país. Concorrem à Presidência da República a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM).
Para Sebastien Marlier, "os últimos 18 meses de confrontos e ataques por parte da Renamo tiveram um impacto na economia, na agricultura, no comércio, na confiança dos investidores e nas relações com os doadores" internacionais.
Por isso, o ato eleitoral assume redobrada importância, até tendo em conta que "a paz é frágil e a implementação do acordo [de paz entre a Renamo e a Frelimo] será difícil", diz, salientando que "o resultado da eleição será determinante para o futuro".
Questionado sobre qual dos partidos será mais favorável, do ponto de vista dos investidores, Marlier responde que não é uma questão de partidos, mas sim de desafios.
"Não há um partido preferido para os investidores, o problema é que nenhum deles tem um programa económico claro, apesar de todos quererem promover o desenvolvimento e assegurar que os moçambicanos beneficiam dos recursos naturais, na prática são muito semelhantes neste ponto", diz.
A grande questão, sublinha, é que "qualquer que seja o partido vencedor vai deparar-se com os desafios, que são inéditos no país, por isso a questão não é qual o partido preferido, mas sim como é que o próximo Governo vai conseguir gerir a passagem de um país dependente da ajuda internacional para um país dependente dos recursos naturais".
Para este analista na EIU, em Londres, o maior desafio que Moçambique vai enfrentar nos próximos anos passa pelas infra-estruturas: "O que os políticos descuraram ou não perceberam nos últimos anos é que ter recursos naturais não significa nada se eles não chegarem aos mercados, o que requer um investimento significativo, maior do que o próprio PIB do país".
Isto, argumenta em entrevista à Lusa, já seria um desafio enorme para qualquer país, mas no caso de Moçambique é "extremamente significativo". Os investimentos, diz, vão ser feitos porque há confiança na capacidade do país em lidar com os recursos naturais, mas como os preços do carvão nos mercados internacionais estão mais baixos, "os investimentos [das multinacionais] são menos proveitosos do que se pensava há cinco ou dez anos, por isso todas as companhias internacionais enfrentam, nesta perspectiva, problemas em Moçambique".
No gás, o panorama também não é simples: "O LNG [gás natural liquefeito] é mais caro que o petróleo, são precisos cerca de 20 mil milhões de dólares de investimento no princípio, e Moçambique enfrenta uma mudança no panorama global nesta área por causa do gás de xisto, por isso o grande risco é o Governo andar demasiado devagar e não tranquilizar os investidores".
Nas contas deste economista, a previsão governamental de início de exportação em 2018 é demasiado ambiciosa: "Só em 2020 ou 2022 é que Moçambique deve começar a exportar gás, mas se o Governo adia mais, o crescimento pode abrandar e todos os investimento e empréstimos contraídos à espera de receitas podem não se materializar, e começam a surgir problemas financeiros e orçamentais".
A isto junta-se outro factor: "Se quando houver novas eleições não houver gás para exportar nessa altura, então a frustração das pessoas pode ser ainda maior, por isso o desafio das infra-estruturas não é uma questão de curto prazo, é de médio prazo".
Fonte: LUSA – 05.10.2014
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