Das modestas arruadas à contratação de reconhecidos artistas musicais, as acções de campanha dos partidos que estão na corrida às eleições moçambicanas de 15 Outubro revelam o seu poder de mobilização e de meios financeiros.
Embora com 30 formações políticas, a "festa" da campanha eleitoral moçambicana tem-se centrado em três partidos, os únicos com representação parlamentar, e cujos candidatos encabeçam a possível sucessão do actual Presidente moçambicano, Armando Guebuza.
E, talvez por isso, Filipe Nyusi, da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), no poder, Afonso Dhlakama, da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) e Daviz Simango, do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), personificam o próximo ato eleitoral, mais que não seja pelo facto dos seus rostos terem coberto Moçambique de lés-a-lés, ainda que em diferentes formatos de impressão e em intensidade, uma evidência do poder económico dos seus partidos.
Como assinalam alguns analistas políticos, como João Pereira, em termos de meios, a campanha da Frelimo esmaga a dos outros candidatos, seja pela intensa actividade de propaganda, iniciada, de resto, meses antes do seu início oficial, com Armando Guebuza a apresentar nas suas presidências abertas o candidato do partido que lidera, seja pelo poder económico que ostenta.
"À comunicação social, a Frelimo não revela a sua estratégia de campanha", afirmou de forma lacónica à Lusa o porta-voz da Frelimo, Damião José, acrescentando que os "os jornalistas podem ver perfeitamente" o que o partido faz.
Levando ao extremo o conceito de "festa eleitoral", os comícios de Filipe Nyusi contam com um palco itinerante, sempre animado por músicos, ora anónimos, ora famosos, como Valdemiro José, o cantor que assina a música oficial de campanha "Eu Confio em Ti Nyusi", incessantemente repetida desde a sua apresentação, a 31 de Agosto, em arruadas, transportes semicolectivos, rádios e televisões.
Brindes como camisolas, bonés e capulanas, que exibem os símbolos dos três principais partidos e fotografias dos respetivos candidatos presidenciais, são também oferecidos às populações em ações partidárias, embora, como assinala o cabeça de lista da Renamo pelo círculo eleitoral de Maputo, Eduardo Namburete, um eleitor trajado com as cores de um determinado partido não representa necessariamente um militante ou simpatizante.
"Mais do que uma peça de propaganda, são peças de vestuário. É normal encontrar um cidadão com várias camisetas, porque para ele é apenas vestuário", sublinhou Namburete em declarações à Lusa, notando que a distribuição destes materiais é mais comum nas zonas rurais, do que nas urbanas.
Nas cidades, avançou o candidato a deputado, a Renamo tem procurado transmitir as suas mensagens em "mercados, residências e transportes públicos", evitando prejudicar "o ritmo de trabalho das pessoas".
"Nas zonas rurais, porque o ritmo de trabalho é mais lento e as pessoas têm rotinas fixas, é possível fazer grandes aglomerações", adiantou, referindo que os conteúdos das mensagens políticas variam de acordo com público: mais "genéricos" em grandes concentrações, mais "específicos" em reuniões com "académicos, grupos focais, organizações da sociedade civil".
Procurando impor-se geograficamente no mapa rural, o MDM apresenta, além das habituais campanhas porta-a-porta, de que dizem ser os "mentores e os especialistas", das "caravanas e dos comícios", uma nova estratégia que passa por criar um quase jogo de passa a palavra, conforme adiantou à Lusa o candidato presidencial do partido, Daviz Simango.
"Onde existe um pequeno aglomerado populacional vamos lá, falamos com as pessoas, pegamos na mensagem, passamos e elas próprias fazem a distribuição da mensagem", explicou Simango, enfatizando que é um método que permite uma alternativa à falta de meios financeiros do partido.
Fonte: LUSA – 06.10.2014
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