Por Machado da Graça
Olá Júlio
Como estás tu, meu
amigo? Do meu lado tudo bem, felizmente, principalmente nesta altura em que
continua a greve dos médicos e restante pessoal da Saúde.
Como notaste, houve
agora uma mudança radical na posição das autoridades. Depois de andar duas
semanas a minimizar os efeitos da greve, dizendo que tudo estava a funcionar
normalmente, o Governo decidiu, agora, dramatizar esses efeitos, reconhecendo
que ela está a provocar sofrimento e, até, mortes. E, é claro, fazendo apelos
aos profissionais da Saúde para regressarem aos seus postos de trabalho. E, com
estes apelos, a acusação, indirecta, de serem eles os causadores deste sofrimento
e dessas mortes.
Ora eu penso que
temos que regressar às duas perguntas fundamentais:
- Quem é o causador
desta greve?
- De quem depende
acabar com ela?
E as respostas às
duas perguntas parecem-me claras. O causador desta greve é o Governo que não
cumpriu nenhuma das medidas que acordou com a Associação dos Médicos, no final
da primeira greve, e que se recusou a qualquer diálogo desde essa primeira
greve atéao início da segunda.
Por outro lado,
para acabar com a actual greve a saída está nas mãos desse mesmo Governo.
E essa saída é a
negociação séria com os trabalhadores da Saúde para se concluir, com
satisfação para as
duas partes, o processo que foi desrespeitado pelo Governo depois de assinar o
memorando com os médicos para terminar a primeira greve.
Mas, neste momento,
o Governo volta a argumentar que o país é pobre e não tem dinheiro para pagar
mais aos trabalhadores da Saúde. Argumento sempre usado quando se trata de
melhorar as condições dos pobres e nunca usado para travar a ganância dos ricos.
Alguma vez tu
ouviste alguém dizer que somos um país pobre quando se tratou de oferecer
carros de luxo a todos os deputados da Assembleia da República? Ou quando se
trata de pagar as despesas enormes do saltitar, em helicópteros, do Chefe do
Estado de província em província? Ou quando se decidiu construir um estádio
nacional, que nenhuma falta fazia, dado que é raríssimo conseguirmos encher o
Estádio da Machava? Ou quando se decidiu realizar em Moçambique os Jogos
Africanos?
Será que, num país
pobre, a Presidência da República precisaria do enorme edifício agora em
construção, com
heliporto incluído? Não bastavam o Palácio da Ponta Vermelha e os edifícios que
foram sedes, antes da Independência, do Clube de Lourenço Marques e da
Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra? E precisaria dos 6 helicópteros
que, segundo um membro do Governo russo, a nossa Presidência tenciona comprar
naquele país?
Eu creio que há que
acabar com esta demagogia do “país pobre” e substituí-la por uma definição
correcta das prioridades na utilização dos recursos existentes.
E espero que todos
nos lembremos disto quando formos exercer o nosso direito de voto este ano e em
2014.
Fonte: Correio da Manhã - 07.06.2013
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