Pode ser que antes eu sabia debater com os amigos, mas já que não era de forma organizada e muito menos numa reunião com moderador, prefiro chamar de discutir. Debater na verdade aprendi no centro de formação de professores primários de Momola, em 1978 e agradeço muito por ter tido aquela oportunidade. Ali e pelo menos naqueles primeiros cursos forjava-se o homem para saber construir opinião e argumento.
Tínhamos frequentemente reunões de grupos, de turma e
gerais. Discutíamos casos de violação de regulamento tanto pelos alunos
(instuendos) como pelos formadores (instrutores) de forma aberta em reuniões
gerais, quando fosse necessário. Havia vezes que esse tipo de reunião começava
às 19:00 ou 20:00 horas, se bem que me recordo, para termirar às 7:00 do dia
seguinte, altura que Isaias Mahache, o director (responsável político) dizia
com o seu sotaque: “No meu “lerógio” são sete holas”.
O mais interessante é que as nossas particularidades, os
nossos espíritos, se notabilizavam nesse processo de formação de um professor
novo, em particular e de um cidadão, em geral. Havia alunos e muitos que
aprendiam e aperfeiçoavam o sentido crítico, havia os que pareciam indiferentes
ou com receio de manifestar as suas opiniões sobre alguns assuntos, havia os
chamados reguilas ou indisciplinados e por último, outros em número muito
pequeno, mas muito visíveis e barulhentos que tudo que diziam estava bem estudado
para agradar à direcção do centro. Estes últimos são do tipo que hoje em dia chamamos
de bajuladores, embora esta palavra não seja nova. O mais notável bajulador,
era o J.P., um que falava tipo o Mafundisse da RM e nós sabiamos o que ia dizer
sempre que levantasse, daí que se gritava “Lééénine”. Se ele pensava que era
elogio porque estava à altura do político Vladimir Lénine, para nós era o mesmo
que dizer: bajulador, lambebota. Já que nunca havia relação de proximidade
entre os instrutores e instruendos, os primeiros deviam ter pensado que viamos o
J.P., como um cidadão politicamente formado ou maduro.
Havia um outro, J.T. que quando fosse sobre alguma
violação do regulamento propunha medidas severas como a de cavar trincheira. As
violações mais notáveis eram de ir à população e comprar mandioca e ou amendoim
para comer, colher laranja ou mesmo abandonar (fugir) o curso ou namorar. Namorar
era raro porque praticamente não havia oportunidade. Quem fugisse do curso
devia evitar de ser visto na cidade de Nampula para não ser recolhido ao centro
com ajuda da polícia. Uma vez, trouxeram de volta, um colega que por sinal era
do grupo de Nacala, o meu. Na reunião de apresentação do fugista, J.T. sugeriu
as medidas muito severas como de rapar-lhe o cabelo, tendo em conta que naquela
altura era estranho ver alguém com cabeça rapada, e, cavar trincheira. Uma
semana depois, era o próprio J.T. a fugir para sempre.
Os reguilas, faziam tudo por tudo para serem expulsos do
centro de formação, mas era a coisa impossível naquele tempo. No lugar de
expulso era ser reprovado por indisciplina e obrigado a repetir o ano. Os, mais
notáveis eram o P.T. e T. o T. até negou de dar aulas na escola anexa. P.T. que
havia repetido o ano por insdiciplina era muito alegre para com os colegas, mas
sempre dava respostas secas aos instrudores.
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