Respostas com base na experiência das anteriores eleições moçambicanas
Porque as
contagens são feitas em cada assembleia de voto na presença de partidos,
observadores e comunicação social, e, em seguida, uma cópia da folha de
resultados (edital) é afixada em cada assembleia de voto, é relativamente fácil
de monitorar a contagem e verificar casos de fraude. Mudanças recentes
(indicadas abaixo) vieram melhorar a capacidade para monitorar o apuramento
nacional, tendo sido atribuídas maiores competências aos partidos e
observadores.
No entanto, tem
havido fraudes e significativas alterações secretas e importantes para os
resultados. Estas nunca foram suficientes para mudar o resultado nacional, mas
mudaram o resultado em dois municípios em 2013 e ter mudado o número de
deputados parlamentares em 2009. Este número especial do Boletim Eleições
Nacionais identifica os tipos de fraude e as inexplicáveis alterações que
ocorreram no passado, e olha para os mecanismos de controlo.
Fraudes passadas
Na assembleia de
voto
Enchimento de
urnas é feito de duas maneiras:
1) A mais comum é
apresentar dados falsos sobre a afluência às urnas, relatando uma grande
afluência e elaborando uma folha de resultados (edital) falsa. Isso às vezes
também requer o registo da participação dos eleitores nos cadernos de
recenseamento, de modo a corresponder com os dados apresentados. Isso só pode
ser feito quando não existem pessoas a fiscalizar - quando os Membros das Mesas
de Voto (MMVs) dos partidos da oposição ou delegados dos partidos estiverem
ausentes. Isso acontece com mais frequência em lugares que são muito
pró-Frelimo, onde a oposição não consegue encontrar pessoas que lhes
representem nas assembleias de voto ou onde os delegados dos partidos e MMVs,
que são geralmente pessoas locais, têm medo de se opor e expor tais práticas,
mesmo que estão assistindo. Historicamente isso aconteceu em Gaza, Tete e
partes do Niassa.
2) Colocar
boletins de voto ”extra” fisicamente, particularmente através da introdução de
boletins de voto não utilizado naquela assembléia de voto, durante o dia ou
depois fecho da votação. Também houve exemplos de boletins de voto de outras
assembleias de voto que foram introduzidos em determinadas assembleias – estes
casos são facilmente identificáveis durante a contagem por causa da numeração
dos boletins, mas isso nem sempre acontece.
Anulação de
boletins de voto validos da oposição. Isto foi bastante grave em 2013 em
Marromeu e serviu para eleger o candidato da Frelimo como presidente do
município e deu uma maioria na assembleia, quando na realidade foi o MDM quem
venceu as eleições. Isto é feito de três maneiras:
1) O mais comum é
colocar uma marca de tinta nos boletins de voto preenchido à favor da oposição,
para fazer parecer que a pessoa votou em dois candidatos e, assim, o boletim de
voto torna-se inválido (nulo). Isso pode ser feito em momentos diferentes, mas
geralmente é feito pela noite adentro, quando os observadores da oposição estão
cansados, e está escuro (por exemplo, onde não há corrente eléctrica), e alguém
coloca uma marca extra em um conjunto de boletins de voto.
2) Elaborar um
edital com dados adulterados, tal como acontece com o enchimento de urnas.
Todos os votos
"nulos" são verificados novamente, a nível nacional, e é por isso que
temos visto as diferentes maneiras de invalidação dos boletins de voto. Devido
a esta reverificação, o terceiro método utilizado não tem funcionado:
3) Movimentação
de boletins da pilha dos votos válidos para à pilha de votos nulos.
(Geralmente, estes casos são identificados e validados ao nível nacional).
No distrito e na
província
A Comissão
Distrital de Eleições (CDE) simplesmente faz a soma dos totais de todos os
editais. Mas se ninguém estiver a monitorar ou se ninguém estiver a fazer o seu
próprio cálculo, fica fácil a elaboração de somas "incorretas". Isso
aconteceu no Gurué em 2013 e provavelmente, também aconteceu em Marromeu, em
2003, e na Beira e Nacala, em 2008; Nos três casos, os editais apresentados
pelas comissões eleitorais distritais eram diferentes dos respectivos contagem
paralela (parallel vote tabulations; PVT).
Por lei, a
Comissão Provincial de Eleições (CPE) deve simplesmente somar os totais
distritais, mas na verdade eles fazem uma contagem completa, com um sistema de
digitação de dados. Em eleições passadas, foram feitas alterações aos totais
distritais. Por exemplo, em 1999, em Nampula, os resultados mostraram que 10%
dos eleitores só votou para as presidenciais e não para as legislativas, mas
nunca houve relato de um eleitor que colocou um boletim de voto na urna para as
presidenciais, e não o fez para as legislativas.
Editais alterados
ou danificados
O Conselho
Constitucional constatou que, em Gurué em 2013, em relação a editais originais
aconteceram duas coisas:
1) Foram
substituídos os editais originais das assembleias de voto por outros, sem o
carimbo oficial ou a assinatura.
2) A comissão de
eleições provincial, ordenou que fossem alterados os editais das assembleias de
voto.
E há outros
exemplos de editais com tinta derramada, que desapareceram, ou foram alterados.
Isso pode acontecer na assembleia de voto, a nível distrital ou provincial, ou
em trânsito.
Na Comissão
Nacional de Eleições (CNE)
A lei eleitoral
diz que o apuramento nacional é baseado nos somatórios dos resultados dos
apuramentos distritais, das cidades e das provinciais. Mas a CNE, sempre fez
sua própria contagem com base nos editais das assembleias de voto. Nenhuma
comparação formal é feita com os 11 resultados provinciais ou com os resultados
distritais, em consequência disso, o resultado final do CNE pode ser
significativamente diferente com os outros níveis. Em 2009, a CNE relatou menos
104,000 votos para as presidenciais do que a soma dos totais das províncias, e
para as legislativas, foram transferidos um assento de Sofala e um assento de
Tete da Frelimo para a Renamo, sem nenhuma explicação.
Além disso, a CNE
verifica todos os votos inválidos (nulos). As assembleias de voto são,
normalmente, muito rígidas na aplicação das regras sobre marcas fora dos
quadrados; a lei diz que o voto é válido se a intenção do eleitor estiver
clara. Em 2009, 200 mil votos para as presidenciais (4,5% dos votos) foram
enviados para Maputo como inválidos, mas 24 mil deles foram considerados
validos e adicionados ao total das províncias. Isso pode fazer a diferença.
As mudanças na
lei
Os boletins de
voto são numerados e a lei exige que estes números sejam verificados durante a
contagem, para excluir qualquer boletim de voto que não pertença a assembleia
de voto. Isso deve impedir a introdução de boletins de voto vindos de fora da
assembleia, mas, em 2013, em muitos casos não foi feita a verificação,
alegadamente porque o processo era demorado. Embora o número de boletins de
voto por assembleia de voto seja restrito a 10% a mais do que o número de
eleitores, uma assembleia com participação média fica com muitos boletins de
voto não utilizados e, o que possibilita a introdução de boletins de voto não
utilizados na própria assembleia de voto.
A nova lei, exige
que toda a tinta e líquidos sejam removidos do local onde os boletins serão
contados. Esta é uma tentativa de parar com a invalidação dos boletins de voto
da oposição.
Afixação de
editais fora da assembleia de voto permite uma contagem paralela (PVT) e a da
Rádio Moçambique permite a leitura dos resultados das assembleias de voto nos
dias seguintes a votação.
Uma cópia do
edital e entregue aos delegados dos partidos nas assembleias de voto e, agora,
pela primeira vez, para os MMVs nomeados pelos três principais partidos. Isso
permite que os partidos façam uma contagem independente. Isto foi aspecto importante
para Gurué em 2013. Mas a diferença aqui é que os partidos de oposição, muitas
vezes, têm dificuldades em encontrar delegados ou MMVs nos lugares onde a
Frelimo é muito forte e considera ser mais fácil manipular os resultados.
A apuramento
distrital é aberto apenas para os mandatários dos partidos. Os observadores e
os jornalistas não podem estar presentes. A mudança na lei significa que o STAE
tem agora 3 representantes da Renamo e apenas 1 pessoa da MDM. Além disso, há 4
pessoas a mais nomeados pela Frelimo. Isso cria as condições para a confusão, o
que permitiria alterações nos resultados.
Onde se constatar
que os editais foram alterados, danificados ou desapareceram, as comissões
provinciais e nacional de eleições podem usar as cópias oficiais dadas aos
delegados e MMVs dos partidos. O Conselho Constitucional tem enfatizado a
importância deste aspecto, por isso, esperamos que elas sejam usadas
correctamente este ano.
Serão permitidas
recontagens. Isso tem sido usado apenas uma vez antes, para que não haja
sistemas para contar e não tem idéia do impacto. Por exemplo, nos locais onde a
participação se situar nos 102%, facilmente se poderá exigir uma recontagem.
Além disso, recontagens são necessárias para qualquer assembleia de voto com um
edital com erros matemáticos - centenas de editais foram invalidados no
passado, por esse motivo, mas agora deve ser feita a recontagem
automaticamente.
Comparações e
estatísticas
A outra grande
arma na luta contra a fraude e o erro é fazer o melhor uso dos dados que temos.
Por exemplo, o PVT pode ser útil neste aspecto.
É importante
comparar os resultados distritais com os resultados provinciais e nacionais,
para verificar se foram feitas mudanças.
O passo final é a
estatística, usando o PVT e os dados que forem chegando do nível provincial e
nacional. Há duas verificações a serem feitas:
1) Se há um
número significativo de assembleias de voto com uma participação próxima dos
100%. Em algumas é possível, mas não em muitas. Se ocorrer em muitas
assembleias, é uma indicação de enchimento de urnas.
2) Se existirem
muitas assembleias índices de votos nulos, de 10%. A média é de cerca de 4% e a
distribuição deve ser normal. Se houver assembleias de voto com índices
superiores a 15%, e outras com um número significativo superior a 8%, é uma
clara indicação de boletins de voto invalidados intencionalmente.
Finalmente, será
importante fazer uma comparação de uma amostra de editais das assembleias de
voto que sabemos serem correctos, por exemplo, verificar se resultados que
constam dos editais enviados de uma mesma assembleia de voto pelos observadores
ou divulgados pela Rádio Moçambique, são os mesmos que estão a ser utilizado a
nível provincial e nacional. As diferenças podem indicar fraude.
Nenhuma eleição
pode é perfeita, mas podemos reduzir o potencial de fraude.
Joseph Hanlon
Fonte: Boletim sobre o processo
político em Moçambique Número EN 53 - 8 de
Outubro de 2014
Sem comentários:
Enviar um comentário