MARCO DO CORREIO, por Machado da Graça
António
Como vai essa saúde? E os negócios? Tudo a andar bem?
Do meu lado está tudo normal, felizmente.
O que não me parece nada normal é esta coisa que está a acontecer ultimamente de os moçambicanos irem sabendo de coisas importantes para o país através de órgãos de informação estrangeiros.
Se bem recordas aqui há uns meses ficámos a saber que a nossa Presidência da República vai comprar à Rússia uma flotilha de seis ou sete helicópteros. Informação dada por um ministro russo que, por cá, nada foi anunciado (até agora...).
Mais recentemente foi a compra de trinta barcos à França. Se não fossem os jornais franceses ainda hoje não saberíamos desse enorme desbaratar do nosso dinheiro. E a isto voltarei mais abaixo.
Depois foi a compra de aviões caça bombardeiros Mig 21 à Roménia. Soubemos disso pela notícia de que um deles se espatifou numa aterragem naquele país.
Por fim tivemos a compra de um avião executivo para a nossa Força Aérea, que tanta falta dele sentia. A título de exemplo, como é que a nossa Princesa Valentina, conhecida antiga combatente, poderia ir a Joanesburgo assistir a uma passagem de modelos? Num avião normal, de carreira? Nem pensar! Executivo com ela. Quanto nos terá custado o passeio?
Mas o mais interessante é que nada disto aparece reflectido no Orçamento do Estado. Nada disto foi feito mediante concursos públicos. Nada disto obedeceu a qualquer critério mínimo de transparência. Foi tudo às escondidas, com ministros a contradizerem-se uns aos outros e o nosso dinheiro a rolar sem nenhum controlo.
E não julgues que vamos ficar por aqui. Já houve quem fez contas e achou os barcos franceses caríssimos. Mas, apesar disso, o empréstimo que está a ser feito, em teoria para os pagar, é de uma quantia muitíssimo superior ao preço anunciado. E a pergunta não pode deixar de ser: em que é que vai ser gasto o resto do dinheiro? Que novas surpresas nos reservam mais?
Os nossos parceiros internacionais alarmam-se com este despesismo e endividamento que faz o país aproximar-se, perigosamente, de uma situação em que deixe de poder pagar as suas dívidas.
E tudo isto para quê? Para aumentar o ego, já muito inchado, de quem nos governa; para aumentar contas, já muito gordas, de quem recebe luvas por essas compras e para alimentar uma guerra que ninguém deseja e era perfeitamente evitável.
Quando terminará tudo isto?
Um abraço para ti do
Machado da Graça
Fonte: CORREIO DA MANHÃ in Mocambique para todos – 19.11.2013
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