terça-feira, dezembro 18, 2012

Sobre o I Congresso do MDM

Reflexões(136) de: Adelino Buque

O Partido MDM realizou, recentemente, o seu I Congresso. Por este facto, devo, antes de mais, endereçar, as minhas sinceras congratulações à direcção deste partido por mais este feito: parabéns, MDM. Trata-se de uma nova forma de a oposição estar na política. Querendo ou não, o MDM introduziu outra forma de fazer política em Moçambique. São pessoas de diferentes idades que abordam a vida socio-económica sem rancor e sem recurso à força, apesar dalguns resquícios vindos do partido RENAMO se fazerem sentir. O importante é que, felizmente, não são dominantes e ainda bem que assim é.


O I Congresso do MDM teve um pouco daquilo que caracteriza um encontro do género em diferentes latitudes do mundo, incluindo actividades culturais retratando a vida do partido. São apenas três anos, mas de muita história. É preciso recordar aos estimados leitores que o MDM é fruto de uma visão política errada da RENAMO, ao subestimar um membro seu e descartá-lo, como se de um bem fora de prazo se tratasse, no caso Daviz Simango.

Antes foi Raul Domingos, que, infelizmente, não soube capitalizar-se e, igualmente, não soube ser vítima da RENAMO e de Afonso Dhlakama. As políticas inconsequentes da RENAMO continuam.

Enquanto o MDM realizava o seu I Congresso, o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, estava aquartelado em Gorongosa. Numa altura crucial para os partidos políticos, com as eleições de 2013 e 2014 à vista, Dhlakama e RENAMO preferem acordos de partilha ao invés de serem sufragados pelo voto popular. Isto lembra o que se designa "vitórias de secretaria no desporto”!

Mas, como dizia, as políticas inconsequentes da RENAMO criaram o MDM e este, paulatinamente, vai subindo no xadrez político nacional. Enquanto a contagem da RENAMO é decrescente, a do MDM pode ser crescente pela forma como se posiciona na política. Explico-me: enquanto a RENAMO caiu de 117 deputados na Assembleia da República para os actuais 51, o MDM poderá passar dos actuais sete para mais. Enquanto a RENAMO cai nas autárquicas de cinco municípios para 0, o MDM sobe de um para dois em um mandato como produto das intercalares. Pela forma como se organiza, acredito, poderá subir de fasquia. É importante retermos isto: com o trabalho levado a cabo pelo MDM, do ponto de vista político, se tudo continuar nesta normalidade, sem dúvida que irá aumentar quer de autarquias a governar quer do número de deputados na nossa Assembleia da República, para além das provinciais e assembleias municipais.

Como dizia acima, tudo por mérito do MDM e, reconheça-se, por incapacidade de fazer leituras consentâneas com o momento por parte dos integrantes da RENAMO. Se o PDD fosse capaz de fazer alguma diferença, nos próximos pleitos certamente que o xadrez político estaria completamente alterado.
Que pena! Aqui também se pode ver o real valor dos dirigentes. Antes da expulsão de Raul Domingos da RENAMO, tudo indicava que ele era um político com muita influência. Contudo, o que parecia não é, ao contrário de Simango, que não parecia, mas é!

Voltemos ao I Congresso do MDM: notou-se que o partido possui organizações sociais do partido, desde a mulher até a juventude. Não ouvi falar de continuadores.

Estas organizações, pela sua natureza, são as que alimentam um partido através das acções de mobilização dos cidadãos. São estas organizações que actuam como elementos congregadores nas diferentes abordagens por segmento, jovem, mulher, adulto, etc. Neste aspecto particular, o MDM também soube capitalizar. Ainda bem para a nação moçambicana porque na verdade o país precisa de outras vozes, outras opiniões e outros posicionamentos políticos.

Um dado interessante é que o MDM produziu no seu I Congresso um programa de governação para um determinado horizonte ou seja, quando participar nas eleições autárquicas, o partido tem um chapéu que cobre, quando for às provinciais, nacionais e presidenciais igualmente. Pelo que, o MDM não se irá apresentar na sociedade de improviso e sem manifesto devidamente sufragado pelo partido. Isto faz muita diferença, porque o manifesto de alguns partidos da oposição parece um insulto aos dirigentes do partido no poder. Nas campanhas eleitorais, ao invés de apresentarem as linhas de força de governação, porque não têm, enveredam por insultos e impropérios nada aconselháveis em política séria. Por tudo isso, o MDM faz a diferença. Ainda bem que é assim.

Apesar de tanto se falar da partidarização das forças policiais, o MDM benefi ciou de segurança proporcionada pela PRM. Isto revela que os serviços estão lá, a questão é saber usá-los. Não quero dizer que não haja situações censuráveis, mas a questão central é a disponibilidade dos serviços da PRM para servir os interesses dos diferentes segmentos da sociedade. O I Congresso do MDM mostrou que a PRM está vocacionada a servir os moçambicanos.

Outra nota de realce tem a ver com a atitude do Parlamento, que ao adiar as sessões plenárias mostrou uma grande maturidade. São simplesmente sete deputados, mas paralisaram a Assembleia, num claro respeito pelo outro, e, aqui, o abuso da maioria parlamentar cai por terra. A Frelimo demonstrou que respeita as outras organizações, para além de ter participado como convidado neste congresso. São estas atitudes que podem mudar a nossa forma de ver a política. Precisamos de mais acções concretas, por isso, congratulo o partido MDM pela realização do seu I Congresso.

PS: Coincidência ou não eu também não tenho problemas de sono, durmo que nem uma "pedra”. Caro amigo Machado da Graça, relativamente a estar na Comissão do Governo, não preciso dizer que não faço parte do Governo, sou membro da Frelimo no escalão da célula de um distrito. Pode ser que participe a este nível caso haja necessidade de diálogo. Não sou membro sénior da Frelimo como se pretende dar a entender. De qualquer modo agradeço a sua apreciação e, desde já, desejo-lhe festas felizes e bom 2013.
Um abraço.

Fonte: CORREIO DA MANHÃ  in Mocambique para todos – 17.12.2012

4 comentários:

Joao Vembane disse...

Parabéns Adelino por esta linda homenagem ao MDM! De facto eles merecem crescer e o país precisa de uma alternativa a o(u)posição. Uma o(u)posição feita por um partido diferente – totalmente civil, longe de discursos e actos bélicos. Vou me juntar a si nas palavras de congratulação e apoio: “Parabens MDM!”

Ciente de que as coisas mudam com o tempo, principalmente quando se trata de pessoas. Por exemplo, a pouco menos de 20 anos era inadmicivel que uma mulher vestice calças e sair de casa sem a capulana, mas hoje é até decente. Com isto quero dizer que talvez não seja verdade que o MDM seja obra do Davis Simango, mas um movimento que vislumbrou e teve
oportunidade de se afirmar encostada ao carisma daquele. Algumas pessoas, que já não tinham espaço na RENAMO precisavam de mais uma oportunidade no parlamento para completar mais um mandato que lhes garantisse algumas boas reforminhas.

Sobre o aquartelamento do Afonso Dlakama “numa altura crucial para os partidos politicos, com eleições de 2013 e 2014 à vista” como bem o diz Adelino, é preciso recordar que a RENAMO vem concorrendo as eleições desde 1994 e nheto. Quase sempre as victórias suportadas por fraudes e malabarismos de ordem logísitica, da burrocracia etc. orquestrada na alta mestria da FRELIMO vão a seu favor. Quem não vê isso é porque não quer. Vai ficando cada vez mais claro que na ordem procedimental a alternância no poder é quase impossível, pior é que o pouco do pão que a RENAMO ganhava da posição que ocupa(va) vai cada vez minguando, num quadro cada vez a favor (da MDM? Não, nem pensar. Mas da) FRELIMO. A RENAMO se vê, de facto numa posição que muito bem pode precionar a FRELIMO a mudar de comportamento e voltar a abrir as válvulas (da canalização) do pão a favor das torneiras dos membros da RENAMO.

Da subida do MDM com a queda da RENAMO, penso que já pode perceber que (como acima nos referimos) não estamos na mesma banda (como dizem os angolanos). De facto quem está na lideranção de todos os município (em termos partidários) é o seu Partidão (como se fala) e, a MDM tem apenas indivíduos. Mas algo que não existiu também não sobe, aparece onde deve aparecer – onde foi destinado por DEUS a aparecer. Afinal a quem beneficia o adiamento da sessão parlamentar por respeito aos deputados do MDM? Imagem de quem ganha aso quando aceita ser cortez da festa do I Congresso do MDM? Claro que é o convidado – a FRELIMO.

Diz-se que quando uma mentira se prolonga por muito tempo ela chega a se confundir com a verdade. É tal coisa dos homens que ganham filhos que não fizeram, no início tem muita disconfiança, mas com o tempo vão encontrando características similares que lhes levam a acreditar que são realmente os pais. É assim, até pessoas do seu nível intelectual estão a cair na onda da não existência do estado partidarizado. A caso não se recorda de como a pouco tempo estas forças se comportaram nas últimas intercalares em Inhambane e Quelimane? Não assistiu a entrevista da STV com Devis Simango a poucos dias? Ele mesmo disse “até hoje [neste momento] temos membros do MDM presos [na sede do partido ou na PRM?] em Inhambane…” como resultado das mestrias eleitorais do Partidão.

Bem, estou ciente de que escrevi muito e disse pouco, então vou tentar recapitular o pouco aqui:
1. Parabens MDM e bem vindo ao arena da política moçambicana!
2. Mas cuidado que nem tudo que você vê é real – um bastão mergulhado na água parece curto e vergar, mas isso dura enquanto você estiver por fora e o pau lá.
3. Nós, o povo, não politicos partidários estamos calados, mas atentos aos vossos movimentos, e um dia (quando a nossa paciência se esgotar) vocês vão se arrepender de estarem a brincar connosco.

Reflectindo disse...

Caro João Vembane

O seu comentário em resposta à reflexão de Adelino Buque é de muito interesse. Espero mesmo que ele possa lê-lo, mas para dar especial atencão, permita-me fazer do seu comentário um post independente, o qual também publicarei no Diálogo sobre Mocambique, um grupo no Facebook.

Um abraco
António A.S Kawaria

Joao Vembane disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Joao Vembane disse...

Caro Antonio A.S. Kawaria,

Obrigado pela sua apreciacao. Embora, precisasse de uma revisao para tal, tem a minha permissao para publicalo independente aqui e em outro forum.