quinta-feira, dezembro 13, 2012

Desenvolvimento só se atinge com a educação - consideram jovens africanos

OS governos africanos devem encarar com seriedade a educação da juventude como instrumento fundamental para se atingir o almejado desenvolvimento do continente. Esta posição foi defendida em Maputo por jovens entrevistados pelo “Notícias” no decurso da Conferência Africana sobre Democracia e Boa Governação, promovida pelo Parlamento Juvenil (PJ), cujos trabalhos terminam hoje na capital do país.

Segundo afirmaram, historicamente todo o processo de desenvolvimento que levou os países desenvolvidos a atingirem os patamares que hoje ostentam passou pela educação.
Pretender desenvolvimento sem munir os cidadãos de conhecimentos que lhes permitam interpretar os fenómenos à sua volta e deste modo participarem no processo de geração de riqueza e consequentemente o bem-estar é uma autêntica miragem, uma fatalidade. Mas para se cumprir este objectivo, é fundamental que imperem nos países do chamado continente negro os valores da democracia e boa governação.


Em Maputo participam desde segunda-feira na Conferência Africana sobre Democracia e Boa Governação centenas de jovens provenientes de diferentes países do continente e de diversos extractos sociais, numa iniciativa do Parlamento Juvenil que pretende promover um diálogo permanente, aberto e inclusivo entre os jovens africanos com potencial de liderança, cuja acção se faz sentir nas vertentes política, económica e social dos respectivos países.
Pretende, igualmente, fortalecer e apoiar a revolução intelectual da geração jovem do Continente Africano.

África pode melhorar - Ilyes Mkacher, delegado da Tunísia



Para Ilyes Mkacher, da Tunísia, país que foi afectado pela chamada Primavera árabe, o Continente Africano pode registar melhorias assinaláveis nos domínios económico, social e político se as atenções dos governos locais se centrarem, fundamentalmente, em duas frentes: a educação popular e a arte e cultura. Defendeu que com a educação, arte e cultura se podem moldar as mentalidades das pessoas para que possam se engajar nas acções de desenvolvimento. Afirmou que nesta perspectiva, a educação não só deve ser entendida como a formal, mas também a informal. Um dos grandes males que enfermam o continente, segundo a fonte, é a corrupção a vários níveis, a par das ditaduras. Assim, disse, cabe aos jovens promover mudanças para um mundo melhor, pois são a maioria e dominam as tecnologias. A propósito de mudanças e da responsabilidade dos jovens, Ilyes Mkacher afirmou que a revolução tunisina foi feita pela juventude. Em termos de democracia, disse haver no continente bons exemplos, apontando Cabo Verde como sendo um deles. “Em Cabo Verde há democracia participativa. É um novo modelo de democracia em África que pode até inspirar os europeus, por exemplo”, observou.

Jovens africanos possuem enormes potencialidades - Halila Issoufou Mamane, do Níger



Os jovens africanos possuem enormes potencialidades, daí que cabe aos governos do continente promover a sua participação em vários domínios, segundo afirmou Halila Issoufou Mamane, delegada do Níger. Disse que os recursos naturais que África possui só podem ser explorados e beneficiar os próprios povos africanos se os jovens forem considerados como principais actores dos processos de desenvolvimento. “Temos muitos jovens com ideias para coisas boas. Temos muitos voluntários. O problema, a meu ver, está nos dirigentes, muitos dos quais ainda não entendem que a juventude é a força-motriz duma sociedade. O nosso continente tem muitos problemas, o principal dos quais a corrupção. Muitas iniciativas dos jovens são simplesmente barradas, o que contraria o que está plasmado na Carta Africana da Juventude. A justiça em muitos dos nossos países não funciona”, disse. Segundo a delegada do Níger, para que os problemas que enfermam África sejam ultrapassados é preciso que os governos locais apostem seriamente na educação dos jovens, na saúde, justiça e segurança e tornar as instituições do Estado fortes. Defendeu que é preciso responsabilizar os jovens na tomada de acções visando o desenvolvimento das comunidades. “Os jovens africanos devem resolver os problemas de África, pois o futuro melhor reside nas suas mãos. Os jovens devem mudar o actual cenário em que se encontra o continente. Outra das questões que preocupam sobremaneira os jovens é o acesso à informação, que deve ser colocada à disposição dos jovens. Isso é fundamental”, disse, acrescentando que a conferência da juventude sobre democracia e boa governação é um marco histórico e importante para a camada juvenil, porquanto visa partilhar experiências e munir os jovens de ferramentas fundamentais para uma acção conjunta sobre os problemas que afligem o continente.

Igualdade do género - Hleli Luhlanga, da Swazilandia

Para Hleli Luhlanga, delegada da Swazilândia, um dos aspectos fundamentais na abordagem da democracia e boa governação é a questão da igualdade do género. Afirmou que em todas as abordagens sobre o assunto deve-se assegurar que o género tenha uma maior participação a todos os níveis. “Nós os jovens somos o futuro do continente. Deve haver políticas concretas que visam impulsionar a participação dos jovens, especialmente do género, em todos os domínios”, disse, acrescentando que a democracia torna-se frágil quando a questão do género não faz parte da agenda política. “Ainda há muitos desequilíbrios e desta forma é muito difícil garantir o desenvolvimento”, indicou. Para Hleli Luhlanga, o Continente Africano possui inúmeros recursos naturais que o pode tornar num dos maiores paraísos da Terra, mas para tal é necessário que, a par da transparência, o conhecimento seja colocado à disposição de todos. “É fundamental que os governos invistam na educação e promovam a igualdade do género. O tempo para agir é agora e os jovens podem dar o seu contributo na formulação e implementação das políticas de governação”, disse.


Fonte: Jornal Notícias - 13.12.2012

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