sábado, dezembro 29, 2012

Dizer por Dizer - As razões que Carmona tinha…

Por Pedro Nacuo

Ainda teremos que comer muita farinha para entendermos esta nossa profissão, o jornalismo, sobretudo por causa das fintas que todos os dias nos querem dar para, não tanto mentir, mas sim, não trazer a verdade,verdadinha. Os políticos são os primeiros escondidos na esquina, para, à primeira distracção, nos darem a rasteira que pretendem para os seus objectivos.

Em Setembro de 2011, fomos levados, assim um esquadrão jornalístico, para ir reportar qualquer coisa como o decurso das obras de reabilitação da estrada Montepuez/Ruaça, ligando as províncias de Cabo Delgado e Niassa. A importância do empreendimento pode ser medida pelo facto de, não só poder facilitar a vida económica e social da região em muitas vertentes, como pelo facto de se tratar da mais pública e importante promessa do presidente Armando Guebuza, desde quando por Balama passou, ainda como secretário-geral do partido Frelimo.

Quando fomos levados à expedição jornalística, de dois dias (veja-se só) ficámos com os olhos vedados, a tal ponto que nos havíamos esquecido da lição de Lula da Silva, antigo estadista brasileiro, que não me canso de repetir, segundo a qual “não será notícia aquilo que o politico quer que se publique, mas sim aquilo que o político esconde…”. Mais ou menos assim.

Por causa dessa desatenção, tudo foi feito para que escrevêssemos que não era verdade que as obras de construção da estrada tivessem sido paralisadas, tudo em reacção a informações em contrário. Para isso, quadros da ANE vieram de Maputo, para se juntarem aos de Cabo Delgado, para acompanharem os jornalistas, aliás, para tudo fazerem para que os escribas chegassem à conclusão conveniente.

Nessa altura dizia-se que as obras seriam concluídas em Novembro de 2012, este ano que vai morrer depois de amanhã. O que encontramos no terreno, que não se parecia com uma obra com vitalidade que é peculiar em empreendimentos de grande dimensão, foi classificado pelos donos da obra e as autoridades locais, como brando e que visava sanar algumas anomalias no processo de prestação de contas, pelo empreiteiro, que havia sido notificado por um dos doadores da empreitada.

Passavam dois meses que as obras se encontravam a marcar o passo e ainda se dizia que não era nada alarmante, pois tratava-se simplesmente de alguns pormenores de carácter burocrático que depois iriam ser ultrapassados. Depois do passeio, muitos de nós fomos engolidos, menos Carmona Luís, correspondente da Rádio Moçambique, em Montepuez, que disse directo: as obras estão paralisadas!

Carmona valia-se de um background que o avantajava, resultante do facto de que acompanhara o início e o decurso da obra até onde tinha parado. Valia-se do facto de viver em Montepuez, trocando impressões com todo o tipo de fontes, desde oficiais, normalmente escondidas em gabinetes, onde o calor é proibido chegar, passando pelos intermédios e os operários, até aqueles que, aparentemente, não têm nada a ver com a obra, mas que nas barracas, restaurantes, chapas, etc. comentam. E têm o direito à palavra!

Na mesma altura, quisemos saber da razão por que nos últimos tempos o empreiteiro não utilizava o cimento para a estabilização química do solo, o que as “bocas” associavam ao que de muito mau é conhecido no mundo, entre os italianos, que estavam a ser mafiosos. Ainda não tinha dito que a empreiteira é a CMC. Surgiu um moçambicano a justificar que apesar de o projecto prever a mistura com cimento para a estabilização química do solo, já se havia deixado de o fazer, alegadamente porque se acabava de receber resultados laboratoriais que evidenciavam a resistência do solo, que seria suficiente, sem necessidade da tal mistura.

Tinha-se na altura, do lado de Cabo Delgado, 59 quilómetros destroncados e limpos, havia 22 quilómetros com o solo compactado, 16 quilómetros já tinham a base com material vindo da pedreira e 7 quilómetros haviam beneficiado de rega de impregnação.

Carmona Luís, sob pressão das autoridades que nos haviam levado ao passeio jornalístico, teve que sofrer um interrogatório na sua redacção, que caminhava para um processo disciplinar. Perguntou-se tudo, incluindo sobre as suas intenções extra-profissionais (veja-se!). A verdade estava a doer, como sempre!

Hoje, as obras do troço de cerca de 491 quilómetros, dos quais 135 referem-se à secção Montepuez/Ruaça, limite entre as duas províncias, a 68 quilómetros da sede do distrito niassense de Marrupa, continuam paradas. Tinha ou não razão, o Carmona?

Na verdade, o projecto de três lotes, que para além do troço Montepuez/Ruaça (135 km), inclui a distância Ruaça/Marrupa (68 km) e Marrupa/Lichinga (268 km), está tal como na altura em que Carmona Luís dissera que havia parado. Afinal, ele não estava a dizer por dizer…

Fonte: Jornal Notícias - 29.12.2012

Hoje, as obras do troço de cerca de 491 quilómetros, dos quais 135 referem-se à secção Montepuez/Ruaça, limite entre as duas províncias, a 68 quilómetros da sede do distrito niassense de Marrupa, continuam paradas. Tinha ou não razão, o Carmona?
Na verdade, o projecto de três lotes, que para além do troço Montepuez/Ruaça (135 km), inclui a distância Ruaça/Marrupa (68 km) e Marrupa/Lichinga (268 km), está tal como na altura em que Carmona Luís dissera que havia parado. Afinal, ele não estava a dizer por dizer…

Fonte: Jornal Notícias - 29.12.2012

Na verdade, o projecto de três lotes, que para além do troço Montepuez/Ruaça (135 km), inclui a distância Ruaça/Marrupa (68 km) e Marrupa/Lichinga (268 km), está tal como na altura em que Carmona Luís dissera que havia parado. Afinal, ele não estava a dizer por dizer…
Fonte: Jornal Notícias - 29.12.2012

Fonte: Jornal Notícias - 29.12.2012

Para condimentar (ou enganar a quem?), o ministro responsável das Obras Públicas e Habitação, veio a Cabo Delgado por volta de Abril, para logo depois das reuniões que teve, afirmar que imediatamente a seguir, as obras iriam retomar. Um mês depois, de novo, vem e diz o mesmo. Em Julho, o seu ministério decide realizar um conselho coordenador, exactamente em Montepuez, onde a estrada começa, para, com todo o aparato jornalístico que cobriu o evento, o respectivo ministro voltar ao tema, jurando que as obras iriam começar logo a seguir. Quantos meses passaram?

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