quinta-feira, fevereiro 11, 2016

Hostória sobre a “reaccionária” Verónica Namiva

Por Eusébio P. Gwembe

Verónica Namiva era natural da Tanzânia, apaixonada pela Frelimo, entregou-se para cuidar das crianças órfãs cujos pais morriam vítimas da guerra, mas que acabou presa, na confusão que se seguiu à morte de Kamkhomba. Após sevícias, conseguiu escapar e entregar-se ao regime colonial tendo denunciado a escravidão a que os presos da Base Beira eram sujeitos. De novo foi presa em 74. Aliás, foi na mesma base de onde escapou que Samora disse: «OS REACCIONÁRIOS SERÃO EDUCADOS. Fixem bem, Lázaro Kavandame não está libertado. Sei que andam por aí boatos de que o Lázaro Kavandame está libertado, mas não está libertado. Verónica Namiva não está libertada, Joana Simeão não está libertada, Uria Simango não está libertado. Nós não os matamos, nós queremos que eles sejam educados por vocês, vocês vão conversar com eles. Eles passarão por todas as zonas libertadas, falarão com vocês e viverão com vocês também»
In Samora, excertos: DISCURSO NA BASE BEIRA - FIZEMOS A GUERRA PARA NOS LIBERTARMOS, 15 de Junho de 1975.


Para a história comovente dela, transmitida pela RTP em «Regresso à Casa» de 27/07/1970, aqui vai um cheirinho:


[FALA UMA MULHER OFENDIDA, VERÓNICA NAMIVA]


«Estou viva em terra portuguesa e estou bem contente. Chamo-me VERÓNICA NAMIVA, sou maconde, nasci na Tanzânia mas sempre conheci Moçambique, por ter cá muita família. Foi por isso que me interessei pela Frelimo, para o meu mal! Foi em 1966, estava eu na Tanzânia e era conhecida por me meter muito em política, por isso fui convidada a assistir a uma reunião de mulheres de Moçambique na Tanzânia. Logo no fim dessa reunião fui escolhida para mamã chairman e pouco depois estava em Moçambique fazendo banjas para convencer as mulheres a trabalhar nas machambas para os guerrilheiros de a Frelimo e a tomar conta dos numerosos órfãos que a guerra todos os dias fazia. Como trabalhava muito e andava muito de um lado para outro fui depois escolhida para voltar à Tanzânia, à reunião da LIGA FEMIMNINA MOÇAMBICANA. Fui. Estava lá gente muito importante: Eduardo Mondlane (...), Urias Simango (...), Silvério Nungo (...), e fui nomeada presidente da LIGA FEMININA para CABO DELGADO. Voltei para Moçambique. Fartei-me de trabalhar, de cuidar dos órfãos, cada vez em maior número, que a guerra todos os dias fazia. Até que um dia, (.....) começou o milando da Frelimo com o Lázaro Cavandame, mataram o Paulo Samuel Kamkoba e logo nesse dia, eu, que não sabia nada, fui presa por 4 guerrilheiros da Base Limpopo que me despiram, amarraram e levaram para a Base. Começava o meu sofrimento! Durante a noite o SIMÃO JÚLIO, que era o Comandante da Base, deixou que os homens abusassem de mim, à vontade de todos. No dia seguinte fui levada para a Base Beira onde encontrei presos, nus e maltratados, vários chairmen e a Catarina Agostinho que era a secretária da LIGA FEMININA MOÇAMBICANA. Foram 4 meses que lá estive. Pior que inferno, foi pior que o inferno a Base Beira! Eu, a Catarina, os chairmen, não tínhamos nada para vestir. Tínhamos que trabalhar nuas. Depois do trabalho éramos obrigadas a ficar deitadas no chão, no meio da Base, à disposição dos soldados que quisessem abusar de nós. Os chairmen tinham que ver isto tudo e os chefes da Base também vinham ver, para se divertirem, para se rirem de nós! ... A História continua (ler em)



Vaz, José Freire. Estandarte do BART 2901, Uma parcela de História Moçambique – Cabo Delgado 1970-1972, MEIOTOM, Artes Gráficas, Lisboa, 2008:121ss.

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