A falta de um modelo de ensino adequado à realidade e a inexistência de um inquérito para elaboração dos exames são as principais causas para o elevado nível de reprovações em Moçambique, defenderam professores ouvidos hoje pela Lusa.
"O nosso sistema de ensino deve ser pensado a partir da nossa realidade e não pode ser fruto de uma imposição, ambicionando, por exemplo, simplesmente cumprir metas das Nações Unidas", disse à Lusa Jorge Jairoce, professor na Universidade Pedagógica e director da Biblioteca Nacional de Moçambique, à margem de uma conferência para avaliação das causas das reprovações no ensino geral, organizada pela Oficina de História em Maputo.
Dados oficiais divulgados no ano passado indicam que cerca de 80% dos estudantes externos do ensino geral reprovaram, num processo em que dos 131.203 alunos avaliados pelo Ministério da Educação 101.027 chumbaram.
Para Jorge Jairoce, que já integrou a equipa que prepara os exames do ensino secundário no Ministério da Educação, a falta de um inquérito nacional para elaboração das avaliações é também uma das causas das reprovações, na medida em que, em muitos casos, quem elabora os exames não está familiarizado com a realidade nas salas de aulas.
"Nós temos de evitar a situação em que o topo decide e a base tem de cumprir, este é um grande erro", declarou o docente de Historia Económica na única instituição de ensino superior especializada na formação de professores do país.
Por seu turno, Yavalane Sérgio Parruque, professor secundário e mestrando em Desenvolvimento Curricular e Institucional, disse à Lusa que o modelo de avaliação adoptado no país está desajustado, defendendo também a necessidade de os exames do ensino geral serem elaborados por pessoas que conhecem a realidade nas salas de aulas, bem como nas comunidades ao longo do território moçambicano.
"O país precisa de adoptar a avaliação formativa, um método que realmente permite ao professor conhecer o aluno", afirmou Yavalane Sérgio Parruque, referindo que negligenciar estes aspectos significa "condicionar o futuro".
Comparando a experiência do Canadá à realidade de Moçambique, Abubacar León, professor e investigador da York University, de Toronto, apontou a falta de interesse por parte da família e da comunidade como um factor para as reprovações no ensino geral, observando, no entanto, que as análises sobre as causas do problema não podem ser generalizadas, na medida em que cada disciplina tem a sua especificidade.
"O ensino deve ser sempre acompanhado por vários outros elementos", referiu o investigador, observando que Moçambique precisa de entender que, no processo de ensino e aprendizagem, o aluno é o grande protagonista.
Para Abubacar León, Moçambique deve criar comissões permanentes de análise da qualidade dos exames elaborados, uma estratégia que vai servir para as autoridades perceberem a relação existente entre as avaliações e a realidade dos estudantes.
"Precisamos de perceber que o aluno é capaz de propor novas ideias e é preciso que haja um plano nacional", afirmou o docente da York University, concluindo que Moçambique deve desenhar um currículo que tenha significado prático para estudante.
Subordinado ao tema "Como Explicar o Alto Índice de Reprovações nos Exames de História no Ensino Secundário Geral", a segunda Oficina de História no país, organizada por um grupo recém-formados com o apoio do Arquivo Histórico de Moçambique, reuniu historiadores, professores e estudantes em Maputo, num projecto que acontece mensalmente e cujo principal objectivo é a partilha e divulgação de pesquisas nas diversas áreas de conhecimento científico.
Fonte: LUSA – 27.02.2016
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