Por Machado da
Graça
No momento que
corre uma das palavras mais ouvidas é “diálogo”. O diálogo parece ser a única
solução para o risco de uma nova guerra generalizada.
Eu acho que pode
ser... ou pode não ser.
Comecemos por ver o
que é o diálogo. Dou um exemplo:
“António: Eu
proponho isto.
Luís: Não aceito!
António: Eu
proponho aquilo.
Luís: Não aceito!
António: Eu
proponho aquela outra coisa.
Luís: Não aceito!”
Embora possa não
parecer, isto é uma forma de diálogo... que não leva a lado nenhum. Pelo menos
a lado nenhum bom.
Embora eu não
conheça detalhes, muito provavelmente foi o que aconteceu quando a Frelimo
contactou o Governo português para negociar pacificamente a nossa
Independência. Os argumentos do Governo de Lisboa terão sido que a proposta de
Independência contrariava a constituição e as leis do Estado português. Que a
constituição falava das províncias ultramarinas e isso não podia ser alterado.
O resultado foram 10 anos de guerra, a luta armada de libertação nacional, e o
fim da constituição e das leis colonialistas portuguesas.
Aqui mesmo ao lado,
o Congresso Nacional Africano teve, dezenas de anos, uma política de lutar
pacificamente contra o apartheid. O Governo de Pretória respondia que o sistema
do apartheid estava na constituição e nas leis do país e, portanto, não podia
ser abolido. Foi preciso o ANC optar pela luta armada, através do Umkhonto we
Sizwe, para que a constituição e as leis do apartheid fossem abolidas.
A escravatura, que
levou milhões de africanos para longe do continente, era perfeitamente legal
nos países que a praticavam. O facto de as mulheres não poderem votar, ou ser
votadas, era legal e constitucional em muitas partes do mundo. Ainda hoje o é,
por exemplo, na Arábia Saudita.
Entre nós a
constituição e as leis, elaboradas na altura da Independência, consagravam um
regime de partido único. Mas quando se viuque esse sistema já não correspondia
às necessidades do país, uma nova constituição e novas leis adoptaram o
multi-partidarismo.
Portanto, a
constituição e as leis não são livros santos, inalteráveis. São instrumentos
que vão sendo melhorados de acordo com o estágio da vida do país.
Tudo isto para
dizer que um encontro entre Afonso Dhlakama e Filipe Nyusi pode ser extremamente
importante...ou pode ser pura perda de tempo.
Se o diálogo
decorrer como o que cito acima entre o António e o Luís, com este último a
invocar a constituição e a lei, para dizer que não a tudo, não vale a pena.
Se, pelo contrário,
decorrer entre duas pessoas que procuram soluções políticas, cada uma aberta
para dar e receber, deixando para depois os ajustamentos legais, pode ser uma
solução para a Paz definitiva no país.
Por isso penso que
devemos exigir um diálogo, sim, político e sem pré--condições constitucionais e
legais que o esvaziem de todo o seu conteúdo.
Se isso não
acontecer, as possíveis consequências assustam-me muito.
Machado da Graça, Savana 19-02-2016
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