Celebramos neste ano
de 1974 o X aniversário do desencadeamento da nossa luta armada. Dez anos
durante os quais inúmeros militantes e o Povo aceitaram toda a espécie de
sacrifícios e todo o tipo de privações, dez anos a superar dificuldades e a
provarmos que somos capazes de alcançar a vitória.
Começamos
já a conhecer a vitória. Em regiões cada vez mais vastas da nossa Pátria o Povo
já compara e diz «antes da Revolução» e «hoje». O nosso Povo começa a saborear
o fruto da sua luta.
Mas
ao mesmo tempo todos estamos conscientes que a vitória final não é para
amanhã e que um longo caminho ainda nos espera.
Qual
a razão dos nossos sacrifícios? Porque motivo o inimigo se mostra tão
intransigente e cruel? E porque razão, apesar da condenação de todos os homens
justos no mundo, ele continua a encontrar os apoios e ajudas necessários para
prosseguir os seus crimes?
Será
que tudo isto tem lugar apenas porque queremos a nossa Independência?
Mas
afinal em 1143 e em 1640 Portugal também lutou pela sua Independência. Os Estados
Unidos que hoje apoiam o colonialismo português fizeram no século XVIII urna
guerra para se libertarem do colonialismo britânico e serem independentes. A
França e a Inglaterra que financiam e armam Portugal fascista e colonialista, lutaram
ainda há poucos anos, de 1939 a 1945, contra o fascismo hitleriano, sofrendo
grandes perdas e sacrifícios a fim de preservarem a independência nacional.
Á volta de Moçambique encontramos muitos
países independentes. Madagáscar que era colónia francesa, Tanzânia, Zâmbia,
Malawi, Swazilândia, antigas colónias britânicas. E todos estes países
tornaram-se independentes através de negociações entre a potência colonizadora
e a colónia.
Porque razão a
Inglaterra e a França aceitaram reconhecer à maioria das suas colónias o
direito à independência, e hoje apoiam uma guerra colonial ?
Porquê então dez anos
de guerra colonial, dez anos de bombardeamentos, dez anos de massacres de
populações, dez anos durante os quais a OTAN e os países ocidentais têm feito
tudo para ajudar Portugal?
Nós
dizemos frequentemente que no curso da luta a nossa grande vitória foi saber
transformar a luta armada de libertação nacional em Revolução. Por outras palavras,
o nosso objectivo final de luta não é içar uma bandeira
diferente da portuguesa, fazer eleições mais ou menos honestas em que pretos e
não os brancos são eleitos, ou ter no Palácio da Ponta Vermelha em Lourenço
Marques um Presidente preto, em vez dum governador branco. Nós dizemos qu5 o
nosso objectivo é conquistar a independência completa, instalar um Poder
Popular, construir uma Sociedade Nova sem exploração, para benefício de todos
aqueles que se sentem moçambicanos.
Ê aqui que se
encontra a explicação da guerra. Como um homem assaltado de piolhos é obrigado
a mergulhar a roupa na água a ferver para liquidar os piolhos sem se interessar
pela cor ou origem dos piolhos, nós fomos obrigados a aceitar mergulhar o nosso
país no fogo da guerra para liquidar a exploração, qualquer que seja a sua
origem ou cor dos seus agentes.
O
que está em causa é pois o estabelecimento do Poder Popular que afirma a nossa
independência e personalidade e liquida a exploração, o que implica a
destruição do Poder dos exploradores que a fomenta.
Ë por isso mesmo que
os países imperialistas que vivem da exploração vêm socorrer Portugal porque
estão Interessados em que a exploração continue
Hoje, graças à nossa luta, um Poder novo constrói-se
na nossa Pátria.
Dez
anos de Poder da FRELIMO não é muito. Jovens que somos assumimos
responsabilidades que esmagam os velhos. O Poder dos exploradores tem centenas
e milhares de anos de experiência, enquanto o nosso Poder é jovem e ao mesmo
tempo tem de resolver os problemas que o Poder milenário dos exploradores nunca
conseguiu.
O Poder novo não é uma coisa
abstracta. O Poder novo somos nós com todas as nossas insuficiências quem tem
de o exercer.
De nenhuma nuvem vai
descer o Homem Novo capaz de exercer o Poder novo.
A
nossa responsabilidade é grande enquanto a nossa capacidade é ainda pequena.
Mas temos uma grande vantagem que é decisiva: possuímos a linha de orientação
correcta, as massas estão connosco.
Mas
ao construirmos o nosso Poder, ao exercê-lo, trazemos em nós, nas ideias, nos
hábitos e nos costumes, todas as deformações criadas pelo Poder antigo.
Por isso
continuamente temos que rectificar os nossos métodos de trabalho, Introduzir o
bisturi da crítica e da autocrítica, para amputar a herança enorme, pesada e negativa
que nos transmite a sociedade antiga.
Para este décimo
aniversário que celebraremos em breve queremos analisar o nosso Poder, repensar
a nossa actividade, estudar o que fizemos e o que resta para fazer e sobretudo
corrigir as deformações.
Começaremos
por estudar, na primeira parte, o que é o Poder, o que exprime e que valores
incarna. Analisaremos a diferença que existe na origem, natureza, métodos e
objectivos entre o Poder colonial capitalista e o Poder Popular construído sob
a direcção da FRELJMO.
Ao
abordarmos esta questão crucial estaremos em condições de compreender a razão
porque o conflito entre nós e o inimigo é de tal maneira antagónico que só a
guerra o pode resolver. Com efeito, a edificação do Poder Popular que exprime a
subida ao Poder duma nova classe, só é possível quando a classe anterior e o
seu Poder são derrubados. E ao assumirmos esta noção que estamos em condições
de verificar a impossibilidade de conciliar os nossos interesses com os do
inimigo, através de pretensas autonomias ou de independências, que salvaguardam
a essência do Estado colonial capitalista.
A natureza popular do
Poder em vias de edificação implica uma democracia profunda e real, que nunca
existiu na História da nossa Pátria.
Assim
como o Poder, a Democracia não é uma coisa abstracta: para que ela se exerça e
possua um conteúdo concreto é necessário que organizemos as condições para a
sua materialização.
Por isso uma segunda
parte é consagrada ao estudo da Democracia, nova experiência que pela primeira
vez o nosso Povo vive.
Finalmente,
porque nos nossos diversos centros o Poder Popular e Democrático já é exercido
na prática, eles aparecem como laboratórios da nossa experiência e centros
difusores da nossa linha e dos seus resultados práticos. Importa pois que
precisemos como os nossos centros devem cumprir essa tarefa e quais os
requisitos, indispensáveis para que levem a cabo a sua missão histórica.
1. O
PODER DOS EXPLORADORES Ê PARA OPRIMIR O POVO. O NOSSO PODER É O PODER DO POVO
No processo do
desenvolvimento histórico das sociedades, entre os homens foram forjadas
diversas relações sociais.
Na aurora da
Humanidade, quando se opera a transição dos símios em homens, os seres
pré-humanos viviam em bandos errantes dominados pela preocupação de sobreviver.
A totalidade do esforço era consumida imediatamente e frequentemente ela não
conseguia satisfazer as necessidades básicas. Os seres pré-humanos
alimentavam-se de raízes, frutos selvagens e cadáveres de animais.
Assim viveram durante
centenas de milhares de anos os antepassados da Humanidade. A partir dum certo
momento esses antepassados começam a utilizar ossos ou paus para escavarem as
raízes, para caçar animais. Começam a utilizar instrumentos para produzirem a
sua alimentação, a produção ainda que extremamente primitiva inicia-se, o símio
dá lugar ao homem. A produção demarca o homem do animal e liberta o seu cérebro
abrindo-lhe o caminho para o progresso.
Com o aparecimento da
produção, numa primeira fase a colheita e caça, numa segunda fase a agricultura
e a criação de gado, a Humanidade começa a desenvolver-se.
Surge a divisão do
trabalho, o melhoramento dos instrumentos de produção e das técnicas de
produção. Com isso o esforço produtivo do homem já consegue produzir mais do
que aquilo que ele próprio necessita para subsistir. A produção cria um
excedente.
O
aparecimento de excedentes na produção fornece a base material, as condições
objectivas para que surjam no seio da sociedade forças que procuram
apropriar-se desses excedentes em detrimento dos que produziram.
A
sociedade divide-se em classes opostas, com interesses diferentes: uns querem
apropriar-se do fruto do trabalho dos outros, enquanto estes últimos recusam.
As relações humanas que até aquele momento eram de cooperação tornam-se
relações de luta entre exploradores e explorados.
Ë
claro que todo este processo levou centenas de milhares de anos, não foi do dia
para a noite que surgiram interesses opostos, classes antagónicas. Mas o
fundamental é o processo.
Desde
que na sociedade apareceram interesses diferentes e antagónicos, a questão do
«Poder», o problema de saber quem deve decidir, que critérios usar para decidir e em
favor de quem, tornou-se uma questão fundamental no seio da sociedade.
Um
grupo determinado só poderá impor os seus interesses e fazer triunfar os seus
objectivos, se possuir o controle da sociedade, por outras palavras se dirigir
essa sociedade.
Dirigir
a sociedade significa organizar a sociedade para servir os interesses do grupo
dirigente, impor a vontade deste grupo a todos os outros grupos, quer estejam
de acordo ou não. Com o correr do tempo o grupo dirigente leva os outros
grupos a considerarem a sua dominação como a melhor, a mais justa e a mais
sábia, a que corresponde aos interesses de todos.
Isto
é assim até ao momento em que as novas forças no seio da sociedade tomam
consciência dos seus interesses prejudicados pelo grupo dirigente, unem-se,
lutam, derrubam o poder anterior e instalam o seu novo poder, reorganizando a
sociedade para satisfazer os seus apetites.
Até
a uma época recente da História da Humanidade, foram as diversas classes
exploradoras —senhores de escravos, feudais, burgueses— quem sucessivamente
dominou a sociedade e a organizou política, económica, ideológica, cultural,
administrativa e juridicamente em seu favor.
Assim foi porque as
largas massas exploradas nem tinham a suficiente consciência de classe que as
unisse, nem possuíam a ideologia capaz de lhes dar a visão do conjunto dos seus
interesses e capaz de lhes fornecer a estratégia e táctica de luta adequadas para
a conquista e exercício do poder.
Historicamente,
a primeira vez que as largas massas exploradas, após várias tentativas
fracassadas, conquistaram e exerceram o Poder, foi em 1870 em Paris. A Comuna
de Paris foi esmagada ao fim de alguns meses pela coligação entre os
reaccionários franceses e os reaccionários alemães, e 30 000 trabalhadores
foram massacrados.
Em 1917, finalmente,
sob a direcção de Lenine, as massas exploradas conquistaram o Poder na Rússia
Tsarista e construíram a União Soviética, o Primeiro Estado no mundo com o Povo
no Poder. A partir da vitória das forças democráticas na guerra anti-fascista. o Poder
Popular estendeu-se a novos países como a China, a República Democrática da
Coreia, e a República Democrática do Vietnam na Ásia. Na Europa o Poder Popular
foi erigido em numerosos países tais como a República Socialista da Roménia, a
República Democrática Alemã, a República Socialista da Bulgária, etc.... Na
América latina, com a vitória das forças populares em Cuba em 1959 instalou-se
o primeiro Estado Popular no continente americano.
A
instalação do Poder Popular tornou-se uma realidade para perto de 1/3 da
Humanidade. As zonas em que as massas trabalhadoras conquistaram o Poder, são
conhecidas como «campo socialista» constituído hoje por 14 países.
No
nosso país, senhores de escravos, feudais, reis, imperadores, dominaram a
sociedade até à conquista colonial. A burguesia colonialista instalou-se então
no poder e impôs a sua vontade a todas as camadas do pais até ao momento em que
a nossa luta começou a derrubá-la.
A
dominação sucessiva das diversas minorias exploradoras —a ditadura sobre
as massas — é exercida sempre duma maneira mais ou menos camuflada a fim que
as massas não compreendam a sua verdadeira situação e não se apercebam que
estão sujeitas à opressão.
No
nosso país antes da conquista colonial, os régulos e Chefes tribais que exerciam
o poder afirmavam que o seu poder representava a vontade dos antepassados.
Por exemplo, em
certos reinos, o Povo não podia ver a cara do rei, noutros casos era proibido
falar ao rei, só se podia ouvir a sua voz.
Ainda
nos nossos dias, em algumas regiões em que o poder dos régulos
permaneceu relativamente intacto, é habitual encontrarmos situações deste
género que camuflam, com os mitos e a superstição, a realidade cruel da
opressão dos senhores feudais.
Os
colonialistas, para melhor camuflarem a sua dominação e impedirem as massas de
compreenderem e se revoltarem contra a sua situação miserável, estimularam a
superstição. Assim difundiram numerosas religiões no nosso seio que, dividindo
as massas, enfraqueciam-nas. Ao mesmo tempo as religiões todas elas pregavam ao
Povo a resignação.
No
nosso país os missionários ensinavam-nos que desobedecer ao governo e ao colono
era pecado, que devíamos estar muito gratos ao colonialismo português porque
nos trazia a verdadeira fé. No século passado, a Igreja justifica o comércio
criminoso de escravos afirmando que este era bom, pois permitia que os escravos
fossem baptizados. O actual arcebispo de Lou-renço Marques, Custódio Alvim
Pereira, muitas vezes repetiu publicamente que o Povo moçambicano não devia
reivindicar a independência, porque esta só podia servir o comunismo e o Islão,
por outras palavras, a independência era um pecado contra Deus. No discurso
feito em Junho de 1961 aos seminaristas da arquidiocese de Lourenço Marques,
no tempo em que era ainda bispo coadjutor, ele exprimiu os seguintes
princípios:
1.
A independência é uma coisa indiferente para o bem dos homens. Pode ser boa
quando se verificam condições geográficas e culturais, mas estas últimas ainda
não existem em Moçambique.
2.
Enquanto não existem estas condições, fundar ou tomar parte no movimento pela
independência, é agir contra a natureza.
3.
Mesmo quando existem condições, a mãe Pátria tem o direito de se opor à
independência desde que sejam respeitadas as liberdades e os direitos e se
procure o bem estar e progresso civil e religioso para todos.
4. Todos os
movimentos que utilizam a violência são contra o Direito Natural, porque se a
independência é um bem deve ser obtida por meios pacíficos.
5. Quando o movimento
é terrorista, o clero em consciência, não só é obrigado a abster-se como também
a opôr-se. Isto é uma consequência lógica da natureza da sua missão.
6. Mesmo se o
movimento é pacífico convém que o clero se abstenha para poder ser o guia
espiritual de todos. O Superior pode impor esta abstenção, como o faz em
Lourenço Marques.
7.
Os Povos nativos da África têm a obrigação de agradecer os benefícios que lhes
foram dados pêlos colonizadores.
8.
As pessoas instruídas têm a obrigação de combater abertamente as ilusões dos
menos instruídos sobre a independência.
9.
A independência africana actual nasce quase sempre da Revolução e do comunismo.
A doutrina da Santa Sé é bem clara na sua oposição ao comunismo ateu e
revolucionário: a grande revolução é a do Evangelho.
10. A palavra de
ordem «a África para os africanos» é uma monstruosidade filosófica, um desafio
à civilização cristã porque os acontecimentos actuais mostram-nos que o
Comunismo e o Islamismo desejam impor a sua civilização aos africanos.
Nessa
mesma intervenção o actual chefe da Igreja em Moçambique concluía:
«Amai
a vossa terra que é Moçambique integrado em Portugal, da mesma maneira que um
habitante do Algarve se interessa pela sua província sem esquecer a Pátria
comum... os actuais movimentos de libertação africanos são contra a Igreja».
Em
resumo, segundo este prelado, devemos agradecer a exploração colonial, o
trabalho forçado e a venda de homens para as minas, a pilhagem das nossas
terras e as culturas forçadas. Devemos agradecer a opressão da palmatória, do
chicote, das deportações para São Tomé. Devemos agradecer a humilhação do
racismo e das mulheres violadas, os filhos do mato e o sermos transformados num
Povo de moleques. Devemos agradecer o obscurantismo, a falta de escolas e a
superstição, a falta de hospitais e assistência social. Devemos agradecer pois.
Revoltarmo-nos contra isso é pecado, pegarmos em armas quando nos vêm
massacrar como em Mueda, Xinavane, Lourenço Marques, Wiriyamu é pecado, é ser
contra a Igreja.
Conhecemos
muitas homílias dos bispos e padres católicos, muitas pregações de cheiques
muçulmanos, muitos sermões de todas as igrejas protestantes, e até a uma época
muito recente, todos nos diziam que nos devíamos resignar, que devíamos aceitar
e agradecer.
Devemos
notar no entanto que, perante os crimes crescentes cometidos pelo inimigo, nos
últimos três anos erguem-se vozes cada vez mais numerosas nos meios religiosos
condenando a guerra colonial e os seus massacres. Mas estas vozes ainda
aparecem como isoladas e assim não as podemos classificar como tomadas de
posição oficiais, públicas e claras das Igrejas em Moçambique contra o
colonialismo.
Mas além da
superstição, a sociedade burguesa colonialista utiliza outros argumentos para
camuflar e justificar o seu poder ditatorial.
Eles dizem que nós
somos urna raça inferior e atrasada, com costumes primitivos, um Povo ignorante
que deve ser educado pela raça superior e avançada, cheia de bons costumes e de
sabedoria. A Constituição portuguesa diz expressamente que a essência da Nação
portuguesa é «civilizar» os «bárbaros» que nós somos. Eles repetem
continuamente este argumento, muito embora toda a gente veja que em Portugal há
mais de 40 % de analfabetos, que a miséria dos camponeses e do Povo português é
enorme, o seu obscurantismo não é inferior ao nosso e têm tantas ou mais
superstições do que nós, embora diferentes.
Dizem
isso quando nos querem convencer. Mas na prática, e quando formulam a sua linha
política, dizem e fazem coisas muito diferentes.
O
falecido cardea] arcebispo de Lourenço Marques, Teodósio Clemente de Gouveia,
numa pastoral de 1960 em que fixava a linha política das escolas escrevia:
«As
escolas são necessárias, sim; mas as escolas em que ensinemos aos nativos o
caminho da dignidade humana e a grandeza da nação que os protege».
Vir-nos
«educar» significa claramente tornar-nos submissos, escravos mentais do
colonialismo.
O
General Kaulza de Arriaga, derrotado vergonhosamente em Moçambique, nas lições
que dava ao Curso de Altos Comandos do Exército colonial fascista, no ano
lectivo de 1966-1967, dizia:
«Se
em Angola ou Moçambique houvesse 20 ou 30 milhões de negros, o problema para
nós seria extremamente grave; ainda bem que essas populações são tão
reduzidas. Eu não sei se isto resultou da exportação que se fez para o Brasil;
se foi isso, ainda bem que se fez essa exportação».
Depois
de aprovar o comércio infame de escravos, a forma mais degradante da
exploração e humilhação humana, o «civilizador» Kaulza de Arriaga que
publicamente discursava sobre a conquista do «coração dos africanos» e o
«multiracialismo», preconizava ao mesmo tempo a liquidação do nosso Povo. Assim
ele diz que:
«Outro
problema muito importante é o problema da demografia: primeiro, crescimento
branco: depois, limitação do crescimento negro».
A
«igualdade racial» e a missão de «promoção das populações africanas», são
bem esclarecidas quando o general escreve:
«a multiracialidade
tem de ser autêntica e mantém-se autêntica mesmo quando à sombra dela
porventura precisamos de travar ligeiramente a promoção dos Povos negros.
Depois temos de convencer esta gente que estamos a promovê-los num ritmo
adequado... Claro que existe um outro problema: é que também não vamos ser
demasiado eficientes na promoção dos negros, pois devemos promovê-los sim, mas
nada de exageros».
Em
resumo, «civilização», «educação», «promoção», são apenas para camuflagem da
realidade concreta de exploração e pilhagem, opressão, brutalização e
humilhação. Palavras bonitas para nos enganarem e adormecerem. Por isso,
através de cada palavra de ordem do regime de opressão devemos ver a realidade
que ela encobre.
A burguesia afirma
ainda que deve ser a minoria inteligente e capaz., os ricos e os doutores, quem
deve governar a maioria que eles consideram brutos e incapazes.
Oliveira
Salazar, o grande orientador do colonial-fascismo português, exprime claramente
esta concepção dizendo (F.C.C. Egerton: Salazar, Portugal and her
Leader):
«Esta hierarquia
entre o trabalho de invenção, organização e direcção e a execução propriamente
dita, não só exprime uma necessidade inerente da produção material, como também
reflecte a desigualdade imposta pela natureza à capacidade dos indivíduos, uma
coisa a que a sociedade não pode, nem deve tentar opor-se».
Um
dos maiores escritores portugueses, Eça de Queiroz, numa obra magistral em que
denuncia e desmascara a burguesia — O Conde de Abranhos — explica-nos
a mentalidade da burguesia exploradora e opressora através do sistema de
educação universitária:
«Assim
o estudante fica para sempre penetrado desta grande ideia social: que há duas
classes — uma que sabe, outra que produz. A primeira naturalmente, sendo o
cérebro, governa; a segunda sendo a mão, opera e veste, calça, nutre e paga a
primeira... Bacharéis são os políticos, os oradores, os poetas e por adopção
táctica, os capitalistas, os banqueiros, os altos negociadores. Futricas são os
carpinteiros, os trolhas, os cígarreiros, os alfaiates... Esta ideia de divisão
em duas classes é salutar, porque assim educados nela, os que saem da
universidade não correm o perigo de serem contaminados pela ideia contrária —
ideia absurda, ateia, —destruidora da harmonia universal — de que o futrica
pode saber tanto como sabe o Bacharel. Não, não pode: logo, as inteligências
são desiguais e assim fica destruído esse princípio pernicioso da igualdade das
inteligências, base funesta dum socialismo perverso».
Os
opressores, em particular a burguesia colonial, com o objectivo de camuflarem a
sua acção e manterem-nos ignorantes, passam a vida a gritar-nos nas orelhas que
exercem o poder para benefício de todos, ou da maioria, que o fazem para
difundirem o progresso, a civilização, a religião cristã. Eles afirmam-nos
sempre que é um grande sacrifício o exercício do poder, que são pesadíssimas as
responsabilidades, que de boa vontade e coração alegre as abandonariam, se a
isso os não obrigasse o dever.
Os
discursos que ouvimos, os artigos nos jornais, a propaganda na rádio, toda a
máquina de intoxicação colonialista, diariamente nos tenta convencer que o
poder dos opressores é o melhor do mundo, que nos devemos sentir felizes pela
dominação e só os ingratos, loucos e comunistas podem pensar o contrário.
No
entanto é muito diferente a realidade que podemos descobrir por detrás das
palavras maravilhosas.
Do
Governador Geral ao Chefe do posto, todo o aparelho administrativo só tem um
objectivo: fazer tudo para que as companhias, os ricos, os capitalistas,
explorem o povo.
As leis que são feitas, os
impostos que são cobrados, as ordens que são dadas, nunca servem o Povo, sempre
são para benefício dos patrões. Se algumas vezes, aparentemente, uma lei parece
beneficiar o Povo, é porque a revolta do Povo era muito forte e então fez-se
qualquer coisa para tentar acalmar a cólera de Povo com o objectivo de
desmobilizar as massas e assim poder continuar a dominação colonial.
Um exemplo disto foi
a greve da estiva em Lourenço Marques em 1963. Antes da greve eles pagavam de
12.00 a 15.00 por dia aos estivadores, mas depois da greve e apesar da
repressão, temendo uma revolta mais séria dos estivadores, eles subiram os
salários para 28.00. Agora, por causa da guerra, em toda a parte se sobem os
salários com o objectivo de corromper as pessoas, fazer-lhes esquecer que vivem
colonizadas, exploradas, oprimidas, humilhadas. Da mesma maneira, nas zonas em
que eles temem que o povo comece a apoiar a luta, que a luta se estenda para
essa zona, os colonialistas diminuem logo a sua arrogância, difundem grandes
fotografias de pretos e brancos juntos e aparentemente alegres. No entanto,
trata-se apenas duma máscara, pois a PIDE continua a prender, torturar e
assassinar pessoas enquanto que para efeitos de propaganda se distribuem
rebuçados às crianças.
Mas a natureza da opressão continua a mesma.
As leis do governo
continuam a mandar-nos prender e a vender-nos para as minas da África do Sul.
Quem ganha são os donos das minas de ouro, quem perde a vida, quem regressa
tuberculoso, sem um braço ou uma perna, somos nós.
São as leis do
governo quem nos obriga a cultivar o algodão e a vendê-lo às companhias. Quem
ganha são as companhias, mas somos nós quem nunca tem roupa para se vestir
apesar de ter produzido o algodão.
As leis do governo
entregam-nos como máquina de trabalho às companhias de açúcar, às companhias
de chá. As companhias ganham muitos e muitos milhares de contos, mas nas nossas
casas, de manhã nós e as nossas famílias não temos chá nem açúcar.
É a
administração que nos prende se recusamos cumprir a vontade da companhia, é ela
que nos força a irmos trabalhar nas machambas, nas minas e nas fábricas.
São os nossos
impostos quem paga o vencimento dessa administração que nos oprime, são os
nossos impostos quem paga a polícia que nos prende quando desobedecemos à
companhia, são os nossos impostos quem paga o exército que nos massacra se nos
revoltamos contra a opressão.
Somos
nós e o nosso trabalho quem paga tudo, mas quem é servido e obedecido são os
que exploram.
Os
burgueses e os colonialistas dizem que os tribunais são imparciais e fazem
justiça. A propaganda diz que a justiça é cega para não distinguir entre o rico
ou o pobre, o grande senhor ou o pequeno trabalhador e assim dizer a verdade,
dar o prémio ao justo, castigar o culpado.
Dizem
isso é certo. Mas nunca ninguém ouviu dizer que os tribunais da burguesia e do
colonialismo mandaram devolver a terra aos camponeses que foram espoliados.
Hoje, como acontece para a barragem de Cabora Bassa -em que 25 000 pessoas
foram espoliadas das suas terras e expulsas, nenhum tribunal nos dá razão.
Ninguém ouviu dizer que o tribunal condenou a PIDE por assassinar e torturar
pessoas ou por ter pessoas meses e anos na cadeia sem serem julgadas. Os
tribunais condenam os que lutam pelo Povo e aprovam, apoiam e elogiam os que
massacram o Povo.
Estes exemplos muito
concretos que toda a gente conhece, que cada um de nós verificou diariamente na
sua vida, mostram muito claramente para que serve o poder dos colonialistas e
capitalistas, quem é que dele beneficia.
Quando
o poder está na mão dos exploradores, ele serve os exploradores e Impõe a
ditadura dos exploradores.
Na
sociedade dos exploradores, para se exercer o poder é necessário pertencer ao
grupo explorador, dedicar-se de corpo e espírito ao serviço dos exploradores.
Na sociedade
tradicional não é qualquer pessoa que pode ser régulo. Para se ser régulo
deve-se pertencer à camada feudal, ser da família do chefe, isto é, ser seu
filho ou seu sobrinho. Quem designa o novo régulo ou é o régulo anterior ou um
órgão composto por feudais.
Da mesma maneira se
passa na sociedade burguesa, onde o poder pertence às companhias, aos grandes
capitalistas e é exercido pelos servidores fiéis do capital.
Toda a gente sabe que
um Governador-Geral ou Ministro, além de se enriquecer durante o seu mandato,
quando é substituído encontra imediatamente uma alta posição nos bancos e
companhias. Deputados, governadores, ministros, saem das companhias e dos
bancos para o governo, do governo para as companhias e para os bancos.
Por
exemplo, Pimentel dos Santos que agora é governador de Moçambique, até â sua
nomeação em Outubro de 1971, entre os seus diversos cargos, tinha o de
Presidente do Conselho de Administração da Companhia Mineira do Lobito. Ê claro
que apesar de governador ele continua ligado à sua companhia e servindo-a.
Assim, em Setembro de 1972, a sua companhia, em associação com a Betlehem
Steel dos Estados Unidos e a Companhia de Urânio de Moçambique, recebeu em
concessão para a prospecção e exploração de minérios uma área de dezenas de
milhares de quilómetros quadrados, compreendidas entre Cioco e Changara na
Província de Tete. Podemos repetir o mesmo exemplo com cada um dos ministros,
governadores, deputados, etc....
No quadro de uma sociedade colonial como aquela que existe em
Moçambique controlada pelo colonialismo, além das «qualidades» exigidas
pela sociedade burguesa normal, requere-se que o indivíduo pertença
à raça colonizadora ou ao menos se encontre
totalmente submetido ao colonizador,. transformando-se
então em verdadeiro fantoche.
Estes
factos conhecidos de todos, mostram-nos claramente que o Poder, o Estado, não
são instrumentos técnicos e neutros, mas sim armas utilizadas pelas classes
exploradoras contra as massas exploradas.
A
opressão que existe não é porque o chefe de posto, administrador ou governador
são maus, têm mau coração ou se enchem de satisfação ao explorar-nos.
Duma
maneira geral, individualmente, humanamente, eles não são nem melhores nem
piores que qualquer outra pessoa, de qualquer outra raça.
Eles são aquilo que são em
virtude da posição que ocupam.
Se por acaso surge um
administrador ou chefe de posto que sinta a sua consciência torturada pelos
crimes que é forçado a praticar, se ele ousa opor-se àquilo que é a sua tarefa) ele
é imediatamente afastado, substituído, punido.
E por isso que
afirmamos sempre lutar contra um sistema e não contra pessoas individualmente.
A
prática do colonialismo português e da guerra de agressão em nada foram
alteradas pelas melhores ou piores qualidades humanas de Marcelo Caetano,
quando este substituiu Salazar, da mesma maneira que a prática criminosa e
assassina da PIDE persiste sob o novo nome de DGS.
A existência de
classes exploradoras, brancas ou negras ou de qualquer outra cor, produz um
Poder e um Estado exploradores.
Por
isso nós dizemos sempre que lutamos contra a exploração do Homem pelo Homem, de
que o colonialismo português é hoje a principal expressão no nosso pais. Por
outras palavras, isto significa que o nosso objectivo é derrubar o Poder das
classes exploradoras em Moçambique representadas principalmente pelas
burguesias coloniais e imperialistas, destruir o Estado Colonial, forma
essencial da dominação colonialista e imperialista na nossa Pátria.
É necessário conhecer
claramente estes pontos. Há nacionalistas, uns ingenuamente por não possuírem
uma consciência de classe desenvolvida, outros porque estão comprometidos com a
exploração, que pensam que o objectivo da nossa luta deveria ser a de instalar
um Poder negro, em vez dum Poder branco, nomear ou eleger africanos para os
diferentes postos políticos, administrativos, económicos e outros, que são hoje
ocupados por brancos. Os primeiros, quando engajados na prática, compreendem e
aceitam a necessidade da destruição do Estado explorador, enquanto os últimos,
identificando-se ao sistema, recusam a destruição do Estado explorador. Em
resumo, para estes nacionalistas, a quem o Poder colonial, porque estrangeiro,
não dá inteira satisfação, o objectivo final da luta seria na realidade o de
«africanizar» a exploração. É por isso que eles recusam a nossa ideologia revolucionária
— como recusam sobretudo as transformações da mentalidade e comportamento que
exigimos, que pretendem não ter importância para o combate contra o
colonialismo.
Esta
posição é uma posição reaccionária que põe em causa a natureza e o objectivo da
luta.
A nossa luta, para
eles, deveria ser uma luta entre o Poder negro e o Poder branco, quando para
nós a luta é entre o Poder dos exploradores e o Poder Popular.
Vimos já que num
Estado explorador toda a máquina do Poder, as suas leis, a sua administração,
tribunais, polícia, exército, têm o objectivo único de manter a exploração,
servir os exploradores.
O
Estado, o Poder, as leis, não são técnicas ou instrumentos neutros que podem
igualmente ser utilizados pelo inimigo e por nós. Por isso a questão decisiva
não é a de substituir o pessoal europeu pelo pessoal africano.
Da mesma maneira que
os colonialistas têm o seu modo de combater e nós temos o nosso, eles têm a sua
ciência militar e nós a nossa, assim nós temos o nosso poder, e eles têm o
deles. Há um antagonismo entre, nós e eles sobre a origem, natureza, métodos e
objectivos do Poder.
Não podemos fundar um
Estado popular, com as suas leis e sua máquina administrativa, a partir dum
Estado cujas leis, cuja máquina administrativa foi inteiramente concebida
pelos exploradores para os servir.
Não
é governando com um Estado concebido para oprimir as massas que se pode servir
as massas.
«Africanizar»
o poder colonial e capitalista retira o sentido à nossa luta. Para que serviria
a luta se continuássemos submetidos ao trabalho forçado, às companhias, às
minas, mesmo se tudo estiver cheio de gerentes e capatazes africanos? Para quê
o sacrifício se continuarmos a ser obrigados a vender o gado e o algodão, em
feiras que só beneficiam os comerciantes, mesmo se estes forem africanos? Qual
a razão de ser de tanto sangue, se no fim continuássemos submetidos a um Estado
que, mesmo se governado por moçambicanos, só serve os ricos e os poderosos?
Como manter uma polícia que prende e tortura os trabalhadores, guardar um
exército que dispara contra o Povo, mesmo se todos os generais forem pretos?
Um
Estado de ricos e poderosos em que uma minoria decide e impõe a sua vontade,
quer a aceitemos ou não, quer compreendamos ou não, é a
continuação sob novas formas da situação contra a qual lutamos.
A questão do poder popular é a questão essencial da
nossa Revolução.
E
neste quadro que se torna absurdo falar de autonomia, ou conceber uma
independência que nos seja oferecida por Caetano ou sucessores.
As
massas populares compreenderam, o seu instinto de classe fez-lhes compreender
esta questão: a Independência, a autonomia, concebidas pelo Imperialismo, pelo
colonialismo, são tácticas destinadas a manterem tudo como antes, a manterem a
exploração.
Foi
por isso, porque assumiram a defesa do seu poder, que as massas aceitam os
sacrifícios mais heróicos para estender a luta e consolidar as zonas
libertadas. Todas as ofensivas do inimigo, por mais furiosas e violentas,
têm-se quebrado diante desta intransigência firme das massas em defenderem o
seu poder.
Quando
no nosso seio, entre 1967 e 1969, o grupo de novos exploradores tinha
conseguido em grande medida paralizar a direcção e começar a desviar o sentido
da nossa luta para implantar de novo uma ditadura de exploradores, foi o povo,
o instinto de classe das nossas massas laboriosas que assumindo o perigo que
corríamos, deu às forças revolucionárias no seio da direcção o ajioio decisivo
que nos conduziu à vitória.
O nosso Poder representa os
interesses do nosso povo trabalhador, exprime a nossa vontade de expulsar o
colonialismo e o imperialismo e criar uma sociedade nova sem exploração. O
nosso poder é a expressão revolucionária da aliança que, defendendo os
interesses da nossa classe camponesa e operária, une todas as camadas e grupos
sociais, animados de espírito patriótico e democrático: operários, camponeses,
trabalhadores das plantações e das serrações, das Concessões, trabalhadores das
minas e caminhos de ferro, dos portos e indústrias, motoristas e
mecânicos, intelectuais, técnicos e funcionários, estudantes e empregados,
pequenos e médios comerciantes, etc... O poder que está a nascer traduz esta
nova relação de forças que surge no nosso País, favorável à aliança popular. A
antiga ditadura da minoria exploradora sobre o povo substitui-se o poder do povo,
que se impõe a todas as forças colonialistas e classes reaccionárias, o Poder
da maioria esmagadora que submete a ínfima minoria e destrói a exploração.
O nosso Poder é
diferente na forma e no conteúdo de tudo o que existiu no passado no nosso
País.
O
Poder pertence ao povo, é exercido pêlos seus autênticos representantes, para
servir os interesses do povo.
Na
reunião de Maio de 1970, o Comité Central da FRELIMO num documento em que se
define as qualidades de um membro do Comité Central afirma: «é entre os
militantes que realizam de uma maneira mais saliente estas qualidades de
militante, que se deve escolher os membros que devem dirigir a organização e em
particular os membros do Comité Central. O membro do Comité Central deve vir
das fileiras da luta. O membro do Comité Central deve distinguir-se pela sua
devoção à luta de libertação nacional, pelo abandono de si próprio para
entregar-se à luta e para servir os interesses do Povo».
O mesmo documento, ao
expor as qualidades exigidas do militante da FRELIMO, sublinha:
«E um servidor das massas e sacrifica-se pela
maioria».
Quer
isto dizer que, enquanto na outra zona, na zona dos exploradores, se exige do
dirigente ser um servidor dos exploradores, saído das suas fileiras, na nossa
zona o dirigente sai das massas, das fileiras da luta, e é um
servidor das massas que está pronto a sacrificar tudo, incluindo a própria
vida, em benefício da maioria, na defesa da maioria.
A maioria somos nós,
nós camponeses, nós operários, nós trabalhadores nascidos do povo explorado,
dominado, e que temos o objectivo de nos libertarmos, de construir a nova
sociedade, a sociedade que corresponde aos nossos Interesses.
A
nossa luta já instalou o nosso poder em vastas regiões da nossa Pátria. Nessas
regiões são os nossos interesses que comandam. A linha política da FRELIMO que
exprime esses interesses aplica-se diariamente em todos os sectores de trabalho
para beneficiar a maioria. A linha política da FRELIMO que orienta o nosso
poder transforma diariamente as relações sociais, as relações entre os homens,
ela transforma a sociedade. A nossa linha transforma a natureza, põe os
recursos da nossa terra à disposição da maioria, mobiliza as leis da natureza
para beneficiar as largas massas.
A
partir do momento em que o nosso poder se exerceu na educação, definimos que a
tarefa desta era de educar o homem para vencer a guerra, construir uma
sociedade nova e desenvolver a Pátria.
O nosso ensino
destina-se a pôr a ciência ao serviço do povo e da revolução, a fazer dos
alunos, estudantes e intelectuais, trabalhadores ao serviço dos outros
trabalhadores.
Quando
tomámos o poder na frente da saúde, dissemos que no trabalho hospitalar devemos
materializar o princípio que a revolução liberta o povo.
Não queremos hospitais para ricos
onde trabalham grandes técnicos que são ricos e servem os ricos. Poucos nos
importa o luxo dos hospitais burgueses e colonialistas, o que nos interessa é
fazer do nosso hospital uma base, um destacamento operacional de luta contra a
doença física e também a doença que mina o espírito, a superstição, a
ignorância, o tribalismo, o espírito burguês.
Em
Cabo Delgado, em Niassa, em Tete, em Manica e Sofala, as companhias, os ricos
proprietários abandonam as nossas zonas e fogem.
Assim
o nosso poder instala-se na produção. Já não são as companhias e os ricos que
definem os objectivos da produção e do trabalho e beneficiam do nosso esforço.
Hoje,
porque temos o Poder, a produção liberta o homem, dá-lhe a sua identidade
de transformador da natureza e da sociedade. Produzimos para aprender e
aprendemos para produzir e lutar melhor, produzimos para satisfazer as nossas
necessidades, para alimentar as nossas crianças e famílias, vivermos melhor.
O nosso Poder cria a
produção colectiva ao serviço do Povo e da Revolução, destrói a produção
exploradora, transforma os produtores individualistas em produtores integrados
na colectividade. A produção em vez de dividir os homens em explorados e
exploradores une-os agora todos, faz de todos servidores do Povo, desenvolvendo
o bem estar do Povo.
Nas zonas livres o
Estado colonial e burguês foi destruído, as estruturas feudais desapareceram.
Surge um novo Poder que é democrático que é nosso.
Os elementos que
exercem o Poder gozam realmente da confiança das massas pois cresceram
politicamente no seio da luta das massas. Eles discutem continuamente com as
massas. As novas orientações, as novas directrizes, vêm da discussão e da
experiência prática das massas, são assumidas pelas massas para serem
aplicadas.
Do Círculo à
Localidade, do Distrito à Província e à Nação, pela primeira vez na nossa
História, o Povo tem um poder que é seu, que não sente como coisa estranha que
o submete.
Poder
que pertence à maioria explorada e que impõe a. vontade desta
a toda a Nação, assim é o nosso Poder.
2. ORGANIZAR
A VIDA DEMOCRÁTICA
O
exercício do Poder, a sua forma e os seus métodos, devem corresponder ao seu
conteúdo.
Mas acontece muitas
vezes que o conteúdo novo seja ainda guardado nas garrafas velhas, isto é,
exprime-se pela forma antiga.
O nosso Estatuto ao
definir os métodos de trabalho na FRELIMO — capítulo VII, alínea a) e seguintes
— expressamente estabelece uma série de pontos que podem ser resumidos nas
fórmulas seguintes: livre discussão, submissão da minoria à maioria,
responsabilidade colectiva, crítica e autocrítica do trabalho e do
comportamento.
O nosso Estatuto, o
conteúdo da nossa acção, exigem uma democracia real, uma verdadeira liberdade
de expressão de opinião, uma discussão profunda acerca das decisões que
tomamos.
Por isso na nossa
vida damos tanta importância às reuniões com as massas e com os combatentes.
São as reuniões que permitem auscultar o verdadeiro sentimento e consciência da
base, detectar as contradições, explicar e fazer assumir a linha e as
orientações concretas para cada situação específica.
As nossas decisões
devem sempre ser democráticas no conteúdo e na forma. No conteúdo quer dizer
que elas correspondem aos interesses reais das largas massas. Na forma
significa que as largas massas devem participar na elaboração da decisão,
senti-la como delas e não imposta de cima para baixo.
E: evidente que há
situações concretas, de emergência, em que o responsável tem que assumir a
tarefa de decidir só sem consultar ninguém. Numa emboscada o comandante não vai
reunir os combatentes para que estes votem o momento em que se abre o fogo, se
dá o assalto ou ordem de recuo.
Mas em contrapartida,
quanto mais e melhor antes da batalha o responsável discutiu com os
combatentes, lhes fez assumir o sentido e objectivo da batalha em que se
engajam, as dificuldades e a táctica a seguir, tanto mais estes estarão
disciplinados na linha do fogo, mais prontos estarão para o sacrifício, porque
a vitória depende dum bom combate que resulta do comando que libertou a
iniciativa da base.
Pode acontecer por
vezes que no curso da discussão um companheiro ou se exprima mal, ou mesmo
exponha uma ideia errada. A nossa tendência pode ser então a de o mandar calar,
na base da nossa autoridade. O resultado é negativo: primeiro porque esse
orador sentir-se-á incompreendido e persistirá na sua ideia errada indo até
murmurar fora da reunião. Segundo, e mais importante ainda, para se combater
uma ideia errada é necessário que todos, ou a larga maioria, compreendam como e
porque a ideia é errada.
A
democracia no seio do Partido é uma condição indispensável para que todos e
cada um se sintam engajados e responsáveis da situação, pois que a criação e
desenvolvimento da situação sempre foram associados.
É
certo que nas estruturas temos escalões diferentes. Na prática o tipo e
natureza de cada discussão variam em função do escalão em que a discussão se
estabelece, o que é normal. Mas o princípio de discutir e elaborar a decisão
em conjunto deve sempre ser mantido.
A
decisão burocrática, isto é, a decisão tomada pura e simplesmente pelo chefe ou
direcção sem que haja um debate e explicação com as massas, embora possa ter um
conteúdo excelente — o que é difícil — não mobiliza as massas, que em última
análise são quem a deve assumir, pôr em aplicação e defender.
A
decisão burocrática arrisca-se, embora tendo um bom conteúdo, a não
corresponder ao nível de compreensão das massas, por outras palavras, ser
Irrealista e criar uma contradição que teria sido evitada se uma discussão
tivesse tido lugar.
A discussão democrática exige uma
preparação rigorosa. Antes da discussão devemos proceder a uma investigação
cuidadosa do assunto ou assuntos a debater, detectar o sentido geral da
questão, estarmos claros sobre a linha do partido na matéria.
Assim
preparados estamos em condições de orientar a discussão e formular as
orientações correctas, as palavras de ordem exactas.
Devemos
sempre considerar que, se uma orientação em si é correcta, muitas vezes se
tentamos impô-la pode ser negativa por não corresponder à compreensão das
massas. Em particular, as orientações que contrariam as tradições devem ser
introduzidas progressivamente, depois de uma mobilização profunda que toque em
especial o sector ou sectores que são mais vítimas dessa tradição.
Ao
orientarmos uma discussão devemos utilizar a táctica de unir os sectores
conscientes, isolar as forças recalcitrantes, ganhar ao ponto de vista justo a
maioria hesitante.
Por
isso nas discussões não podemos ser abstractos, temos que tocar os pontos concretos,
raspar as crostas para que sangrem as feridas e assim todos sintam realmente a
necessidade da resolução do problema.
Preparar
pois a discussão como quem prepara um combate: fazer um reconhecimento
estratégico e táctico dos pontos a discutir, conhecer os pontos fracos e fortes
nossos e daquilo que queremos combater, organizar e dispor correctamente as
nossas ideias, conhecermos como avançar e como recuar se necessário.
Para levarmos a cabo
a ofensiva de democratização dos nossos métodos de trabalho, devemos dar uma
importância à democracia política, económica e militar no nosso seio.
Ao trabalharmos
devemos sempre ter em mente que o Poder pertence ao Povo e somos todos
igualmente oprimidos e humilhados, vendidos e explorados, massacrados, que
somos irmãos da mesma classe com uma mesma missão: servir o Povo. Ê esta a base
da nossa unidade, o ponto de partida da nossa democracia.
A democracia política
é fundada na discussão colectiva, na resolução colectiva dos nossos problemas.
Todos e cada um são chamados a exprimirem os seus pontos de vista sobre como
melhor servir o Povo em cada situação concreta. Todos e cada um são
responsáveis pela vida da Organização, pelo desenvolvimento e consolidação da
luta e Revolução. Todos e cada um têm o dever de desenvolver criadoramente a
nossa linha, sintetizando as nossas experiências ricas, adquiridas no combate
político e armado contra o inimigo, na transformação da sociedade, na
mobilização das leis da natureza a favor do progresso colectivo.
Os erros cometidos,
individuais ou colectivos, as violações da nossa linha e da nossa disciplina
devem servir-nos para nos educar. As lições tiradas dos erros devem ser
discutidas pelas massas para que elas adquiram a nova experiência. As violações
da linha e as agressões contra a nossa disciplina devem ser objecto de
discussão e crítica pública das massas. Fazendo assim, por um lado utilizamos
os erros para aprofundar a nossa consciência política, e por outro lado
entregamos às massas a defesa da linha e da disciplina, que é a sua
propriedade.
A tendência de certos
camaradas de esconder perante as massas os erros cometidos especialmente por
responsáveis, reflecte falta de democracia política e falta de confiança nas
massas.
O poder pertence ao
Povo trabalhador. A linha política exprime os interesses das massas laboriosas
e a disciplina é a sentinela que defende a linha. Assim é evidente que a defesa
da linha e da disciplina compete primeiramente às massas populares, essa
defesa é a defesa da sua vida.
Confiar às massas a
tarefa de criticar os erros, os desvios e agressões contra a linha e a
disciplina é afirmar também que os erros, os desvios e agressões, os crimes,
são antes de tudo actos políticos que reflectem ou insuficiências na
compreensão da linha ou oposição à linha. Neste quadro a denúncia e crítica
públicas constituem lições políticas que nos educam e educam também aquele que
violou a linha.
ï! por esta
razão que nos opomos de maneira geral aos julgamentos secretos ou à preocupação
imediata com a elaboração de códigos penais e disciplinares. O julgamento
secreto quando introduzido como sistema impede as massas de exercerem o seu
Poder e abre O! caminho para abusos eventuais. Os códigos
por seu lado tendem a congelar a evolução dinâmica e o processo de
transformação constante em que nos engajamos, podem por isso facilmente
despolitizar e burocratizar a justiça.
A democracia militar
é assegurada pela participação de todos na sintetização das nossas
experiências de combate, no estudo colectivo do conjunto do nosso país e do
inimigo, nas lições tiradas em comum sobre cada acção, na discussão constante
sobre os métodos para estendermos a luta armada a novas zonas e consolidar a
nossa rectaguarda.
A
democracia económica insere-se directamente no nosso combate pela liquidação do
sistema de exploração do homem.
Asseguramos a
democracia económica abolindo primeiramente o poder das -companhias e das
classes exploradoras coloniais-capitalistas, ou tradicionais-feudais. Impedindo
que estas classes explorem os trabalhadores, criamos as bases da democracia
económica.
O nosso trabalho de
mobilização e organização das massas na transformação da produção individual
ou familiar em produção colectiva consolida o processo da democracia económica.
Com efeito, agindo assim impedimos que a produção individual ou familiar
degenere em propriedade exploradora originando classes de novos exploradores.
Simultaneamente tornamos concreto o princípio justo de que todas as riquezas do
nosso país e o nosso esforço pertencem à colectividade , servem a colectividade
e destinam-se a desenvolver e melhorar as condições de vida e o bem estar do
Povo.
Neste
quadro, o trabalho, a participação na produção não só é um dever como também um
direito de todos e cada um.
Para
a Revolução não há desempregados, inúteis ou inválidos, talentos que não possam
ser utilizados. Todos têm o dever e o direito de participarem na luta colectiva
pela transformação da sociedade e pela utilização dos recursos da natureza em
proveito da colectividade. A participação na produção une-nos à nossa classe, e
a recusa de participação na produção exprime uma oposição à nossa linha e um
apoio aos exploradores.
A discussão colectiva
sobre os métodos de aumentar, diversificar é melhorar a nossa produção, a
síntese constante e colectiva das nossas experiências positivas e negativas, a
decisão tomada em comum sobre o método de repartição dos frutos da produção
tendo em conta as necessidades quer da guerra, quer da elevação do nível de
vida das largas massas, garantem o desenvolvimento da democracia económica.
Dentro
deste quadro compreendemos que manifestações de preguiça no nosso seio, a falta
de respeito pêlos bens do Povo e da Organização, constituem atentados graves
contra a nossa linha política de democracia económica, expressões dum espírito
de parasita, espírito de explorador.
O processo e a
experiência da democracia é novo no nosso país. O nosso Povo, porque sempre
viveu sujeito à dominação das diversas classes exploradoras, nunca conheceu a
democracia real.
A
revolução trouxe a democracia, ela afirma-se já a diversos níveis: político,
económico, militar. Ela é exercida ainda no quadro das estruturas da
Organização. Importa na fase presente alargarmos o campo da sua aplicação,
materializando assim ainda mais o princípio de que o Poder pertence às massas
trabalhadoras.
Dentro deste quadro,
uma necessidade importante, que corresponde à consolidação do Poder nas zonas
libertadas, é a de progressivamente, começando dos escalões inferiores, ir
generalizando o sistema de eleições para a designação dos responsáveis civis da
população, por outras palavras, criarmos verdadeiras estruturas democráticas
de base do Poder administrativo.
É evidente que as
eleições não podem ser anárquicas, mas têm de ser orientadas de maneira a que a
escolha das massas recaia nos elementos que assumiram na ideia e
comportamento a linha do Partido, possuam capacidade de iniciativa e de
organização.
Importa por isso
exercer uma grande vigilância para impedir que sejam eleitos elementos com
tendências exploradoras, embora gozando de popularidade — por razões
subjectivas ou acções demagógicas.
Velhos
e jovens, homens e mulheres, igualmente devem participar na escolha e devem
aparecer no exercício das responsabilidades lutando contra a tendência arcaica
de discriminar a mulher e os jovens.
Devemos compreender
que na medida em que a revolução se desenvolve e se consolida e a vida se
reorganiza, uma divisão de tarefas cada vez mais nítida se estabelece entre a
organização política, a administração e as estruturas militares.
A
associação cada vez maior de representantes eleitos das populações às tarefas
de administração das mesmas, fomenta a iniciativa das massas e habitua as
massas à vida democrática, cria um sentido de responsabilidade colectiva, leva
as massas a exercerem o poder.
Em
definitivo, na fase final, a tarefa do Partido político é dirigir, organizar,
orientar e educar as massas; a tarefa das estruturas administrativas é pôr em
prática as decisões nos diferentes campos da vida económica e social, enquanto
que a tarefa da estrutura militar é apoiar as massas e protegê-las, expulsar o
inimigo da Pátria, defender a Pátria e participar activamente na sua
reconstrução.
O Partido dirige e
orienta a reorganização da vida das massas e a reconstrução nacional, como
orienta e dirige o exército, definindo-lhe os alvos, educando a consciência. O
exército cria as condições para libertar o Povo e a terra. A administração, ela
põe em aplicação as directrizes sobre a reconstrução nacional.
Na fase actual em que
aumentam e se diversificam as tarefas da administração, importa
progressivamente irmos democratizando os métodos do trabalho e de designação de
responsáveis.
Os
nossos métodos de trabalho não são secundários, pois que são eles quem materializa
a aplicação das decisões.
Para um órgão de
direcção trabalhar com as massas necessita que esteja unido.
Quando
existem contradições num órgão de direcção nasce o boato, a intriga e a
calúnia. Cada facção procurará mobilizar apoio para a sua corrente, dividindo
as massas. Quando estamos desunidos, dividimos as massas e os combatentes,
conduzimos a base a perder confiança na direcção, a desmobilizar-se e tornar-se
inactiva, abrimos brechas por onde o inimigo penetra. Finalmente dividimos os
nossos amigos.
Para estarmos unidos e unirmos as massas, devemo-nos
conhecer bem.
Conhecermo-nos bem é
sabermos que estamos correctos na ideia e no comportamento, e quando há algo de
incorrecto, estarmos prontos a assumir a responsabilidade, submetendo-nos à
crítica e auto-crítica.
A unidade no seio da
direcção, à volta da linha correcta seja a que escalão for, é a força motriz do
sector e condição para o sucesso da tarefa.
Da
mesma maneira que uma pessoa se deve alimentar diariamente a fim de que o seu
corpo se encontre em condições propícias para aguentar as tarefas e
dificuldades, assim também a unidade se alimenta diariamente.
A
vida colectiva, o trabalho colectivo, o estudo em conjunto, a crítica e
auto-crítica, a ajuda mútua, são alimentos, os sais e vitaminas da unidade.
Os membros da
direcção não devem ter vidas separadas uns dos outros, cada um ter uma vida
própria e só se juntarem no momento em que há reuniões. Os membros duma
direcção, tendo em conta é claro as tarefas de cada um e as deslocações
necessárias, devem esforçar-se por viverem juntos, conhecendo-se assim melhor
no quotidiano, apreendendo as deficiências de cada um, para melhor se
corrigirem mutuamente. Trabalharem juntos, produzirem juntos, suarem juntos,
juntos sofrerem os rigores da marcha, juntos superarem as dificuldades do
inimigo, da natureza, cria laços fortes de amizade e respeito mútuo. O que nos
liga não são palavras, mas muitas acções que vivemos juntos servindo o
Povo, liga-nos uma unidade irrigada pelo suor e sofrimento, fertilizada pelo
sangue.
Assim, quando
sentimos que um companheiro está atrasado, vamo-nos esforçar por fazê-lo
avançar.
Temos
que compreender que a ignorância de um é um ponto fraco colectivo e afecta o
trabalho de todos.
Como podemos aceitar
por exemplo, que o nosso companheiro continue analfabeto, sem falar português?
Será necessário, para alfabetizarmos esse camarada, para lhe ensinarmos
português, que se reuna o Comité Central e vote uma resolução sobre isso?
O
ponto fraco de um nunca pode servir de ponto forte para ninguém, o ponto fraco
de um, o erro de um dificulta o trabalho de todos, prejudica a nossa tarefa,
enfraquece a colectividade.
A
nossa preocupação é de avançar como as vagas do mar, avançar em conjunto, não
deixar outros atrasados e ignorantes cometendo erros.
Organizar o estudo
político, científico e literário para em conjunto assumirmos a situação e
dispormos da técnica capaz de nos ajudar a superar as dificuldades.
Utilizar
com frequência a crítica e auto-crítica, tanto para rectificar os métodos de
trabalho, como para corrigir os erros e desvios individuais.
Mas
não fazer da crítica e auto-crítica uma rotina religiosa, uma espécie de
confessionário em que dizemos os pecados, somos absolvidos, recebemos uma
penitência e preparamo-nos para repetir as mesmas situações.
Combatermos
energicamente o espirito de vitória, a auto-satisfação. Nada mais ridículo e
falso do que ouvir um camarada dizer que «tudo está bem, a situação é boa».
Afirmações como esta
mostram auto-satisfação e rotina, como demonstram falta de análise,
incapacidade para detectar as deficiências e organizar o combate contra elas.
A falta de análise e
estudo conduz à ignorância dos problemas e à hesitação perante as situações
concretas, e um vacilante não pode ter autoridade perante as massas.
Um
elemento não é responsável, não é dirigente, apenas porque foi eleito ou
designado para executar uma tarefa.
A verdadeira autoridade que faz um dirigente, é a
autoridade política.
Quando um dirigente
não possui a confiança dos seus companheiros e as massas, ou tendo-a possuído
perdeu-a, cai na autoridade administrativa, no autoritarismo.
Possuir autoridade
política é primeiramente demonstrar, pelo comportamento e ideias, que se
assumiu a linha do partido e se vive essa linha continuamente.
O
dirigente é em todo o momento o representante, o defensor e o exemplo da linha
política da FRELJMO.
Se
surge uma contradição entre a linha e o comportamento do dirigente, este não
se encontra em condições de perante as massas representar, defender e mostrar o
que é a linha.
Costumamos
dizer duma maneira vulgar, que aquele que tem bife na boca não pode falar.
Por
outras palavras, um responsável que é indisciplinado, por muito que fale de
disciplina, só explicará na realidade a indisciplina e com a sua indisciplina
vai fomentar liberalismo e anarquia.
Um
responsável que desvia bens do Partido para satisfazer os seus interesses e
vícios poderá fazer mil discursos sobre a importância de respeitar os bens do
Partido e do Povo, o preço do sangue com que esse material foi adquirido. Na
realidade ele só pode ensinar corrupção às pessoas, e estas lutarão entre si
para ver quem mais e melhor se beneficia dos bens do Partido, quem mais e
melhor explorará a seu favor o sangue e suor do Povo.
Um responsável que
recuse ter calos nas mãos poderá fazer centenas de reuniões sobre a produção,
mas isso não levará ninguém a produzir e não organizará uma só cooperativa.
Um responsável que
fale de produção colectiva e queira manter a sua machamba e o seu gado,
continuará a ensinar que devemos persistir na propriedade privada.
Um responsável que
organiza o combate contra as tradições que oprimem a mulher e é o primeiro a
aceitar que os filhos e filhas sejam submetidos aos ritos de iniciação, na
realidade mobiliza as massas para continuarem mergulhadas nas tradições
reaccionárias.
Um
responsável que vem explicar o valor da higiene e saúde e é incapaz de cavar
uma só latrina, de limpar a sua casa e libertá-la de moscas e mosquitos, que
não ferve a água de beber, que continua a recorrer a curandeiros e
feiticeiros, conduz pelo seu exemplo o Povo a fazer o mesmo.
Em
resumo, as massas dirão sempre: ele diz palavras porque lhe deram ordem de
dizer essas palavras, mas essas palavras são vazias como o vento, deixa passar
e tudo continuará como antes.
O
resultado é que o responsável, pelo seu comportamento, cria o caos, e temendo a
censura dos seus superiores, temendo ser afastado do seu posto que rodeou de
privilégios, vai impor uma ditadura às massas para criar uma fachada de coisas
bonitas quando tudo está em ruínas.
Em
vez de discutir e convencer, berrará ordens, dará punições, e ao mesmo tempo,
porque com a sua vida cria compromissos, não pode punir os seus cúmplices,
criando uni sentimento geral de injustiça, não pode punir os que conhecem os
seus pontos fracos criando liberalismo.
Este
responsável cria todas as condições favoráveis para fomentar contradições nas
massas, divisões, abre as portas e janelas aos boatos e intrigas, em resumo,
instala uma base inimiga onde deveria ser um centro difusor da vida da FRELIMO.
A
autoridade política exige do responsável uma alta disciplina, isto é, que as
suas ideias, vontade e comportamento se identifiquem totalmente com a linha da
FRELIMO e as decisões dos órgãos competentes. A autoridade política requer
ainda competência, vontade de aprender, capacidade em reconhecer as próprias
limitações e decisão em combatê-las.
Um
incompetente não está em condições de dirigir e organizar. Para manter a sua
posição imporá decisões, e como estas terão de ser erradas, ele impedirá a
discussão e a crítica. Ao mesmo tempo ele oprimirá todos aqueles em quem sente
qualidades superiores, porque conhecendo apenas a sua ambição, ignorando as
necessidades do conjunto, ele vê na competência dos outros «concorrência».
Quanto
mais competente é um elemento, mais vontade de aprender dos outros ele tem,
melhor reconhecerá as suas limitações e lutará contra elas. Por isso fomentará
sempre um espírito colectivo, a discussão; estimulará a
iniciativa dos seus subordinados e combaterá o burocratismo que dificulta e
trava o progresso.
Um dirigente deve possuir a visão
do conjunto, a única que lhe permite compreender como a sua tarefa ou sector de
actividade se integra no processo geral da luta. Assim poderá definir os
objectivos e prioridades do seu trabalho a curto, médio e longo termo.
É estabelecendo as
prioridades correctamente que se pode planificar o trabalho. Planificar
significa organizar a tempo os recursos materiais e humanos, criar as condições
políticas e materiais para se atingirem os objectivos programados dentro do
período determinado, estabelecer a estratégia e a táctica adequadas para
utilização mais eficiente dos recursos de maneira a cumprir-se correctamente o1 plano.
Um aspecto final que
é exigido do dirigente é a preocupação constante pela melhoria das condições de
vida das massas e combatentes. A Revolução destina-se a criar melhores
condições de vida.
Isso
implica as transformações materiais que fornecem a base objectiva da elevação
do nível de vida. Esta acção requer também uma acção de explicação e educação
para que por um lado se compreenda a necessidade da transformação e por outro
se compreenda como beneficiar da transformação e como a utilizar.
Assim, por exemplo,
não basta criar-se uma horta, é necessário ainda que as pessoas compreendam o
beneficio que lhes traz o consumo da salada e como a consumir. Não é suficiente
cavarem-se latrinas numa povoação ou base: é indispensável explicar-se qual a
sua necessidade e como as utilizar.
Em última análise, um
responsável, uma direcção, exprimem a nossa linha.
Assim a sua qualidade
central é a defesa da linha, a preocupação pela vida da Organização política,
pela vida das massas e combatentes.
É este o critério
supremo para apreciarmos os méritos do nosso trabalho, a pedra de toque para
distinguirmos a direcção correcta e eficaz da direcção incompetente e errada.
Na zona colonialista
e capitalista a direcção é julgada em função dos benefícios que a sua
actividade traz para as classes exploradoras e a sua capacidade em impedir e
reprimir o movimento reivindicativo das massas.
Porque
o nosso objectivo é servir o Povo e o Poder pertence ao Povo, o nosso critério
são as transformações operadas no seio da sociedade e a utilização dos recursos
da natureza em benefício das largas massas.
3. CENTROS
DIFUSORES DA LINHA
Um
centro nosso, educacional ou sanitário, um infantário ou posto comercial, uma
cooperativa ou destacamento, uma base ou um distrito, para além da sua tarefa
específica, tem a missão fundamental de ser um centro difusor da nossa linha e
da nova vida, um modelo da nova sociedade em construção e das novas relações
sociais entre os homens.
Como uma lanterna na noite escura
nos indica o caminho a seguir, os nossos centros mostram às massas o processo
de construção da nova sociedade. Isto implica que os centros apareçam como
agentes dinâmicos na transformação da mentalidade do homem, e forças motrizes
na mobilização das leis e recursos da natureza para elevar o nível de vida das
massas.
No processo de
transformação do homem e da sociedade encontramos numerosos obstáculos.
Compete-nos
transformar a massa enorme, diversa e rica, que do Rovuma ao Maputo e dos
confins de Tete ao Oceano Indico, constitui o nosso Povo. Há velhos incrustados
em tradições arcaicas e jovens deformados pêlos falsos valores do colonialismo
e capitalismo. Temos mulheres a quem durante milénios a sociedade oprimiu
asfixiando a iniciativa. Vêm para as nossas fileiras advogados e engenheiros,
sociólogos e economistas, técnicos e intelectuais, frequentemente endoutrinados
pela burguesia para desprezarem o trabalho manual e se conceberem como uma elite
dirigente que nada tem a aprender. Mas encontramos também camponeses
analfabetos com uma experiência do mundo limitada aos horizontes da sua
povoação, a quem a dominação colonial inculca a ideia de que constituem uma
massa ignorante e bruta incapaz de raciocinar ou possuir iniciativa. Das
fábricas e das minas, das serrações e das plantações, dos transportes chega-nos
uma classe operária embrionária, com uma consciência de classe fraca e ainda
incapaz de assumir o seu papel dirigente no processo de transformação da
sociedade. Das administrações e escritórios, das casas comerciais e bancárias
vêm a nós funcionários e empregados eivados duma mentalidade pequeno-burguesa.
As
zonas rurais e urbanas enviam-nos continuamente novos elementos possuindo as
suas deformações específicas.
Nas
zonas rurais a vida é particularmente desorganizada, sem noção de programa ou
pontualidade, profundamente dominada pela rotina e tradições ultrapassadas que
inibem o progresso e paralizam a iniciativa. Para o camponês o
Poder é o governo hostil e estrangeiro que se manifesta pela caderneta e
imposto, pelo recrutamento forçado e os baixos preços fixados
à venda dos produtos penosamente obtidos, pela palmatória e machila. O terror
asfixia a iniciativa. O homem vive em contradição permanente com uma natureza
que desconhece e teme, com um Estado que o explora, oprime e humilha. As suas
relações sociais vão pouco para além da povoação em que vive e quando muito
estendem-se ao grupo linguístico que é seu.
Na
cidade colonial-capitalista a luta pela sobrevivência é feroz e força os seres
ao egoísmo, à concorrência. A ambição, a luta para mais e melhor explorar
outros homens destroem a confiança entre as pessoas e fazem delas rivais.
Funcionários e empregados fomentam calúnias e intrigas contra colegas para
serem promovidos em seu detrimento. Adulam-se chefes, procuram-se «cunhas»,
arranjam-se alianças de uns contra outros, humilham-se as pessoas para salvaguardarem
o seu pão quotidiano. A cultura degenerada colonial capitalista exalta gostos
degradantes e corruptos que animalizam o homem. A cada um é inculcado o desejo
do Poder e do luxo construídos por cima da exploração e humilhação dos outros
seres.
No
campo, como sobretudo na cidade, domina ainda a onda de opressão
colonial-fascista. A acção da PIDE procura infundir um terror permanente nas
pessoas que as conduza a resignar-se à fatalidade dum destino de exploração e
dominação.
O desencadeamento da
luta e as vitórias que alcançamos mostram duma maneira concreta que não existe
nenhum destino ou fatalidade, que somos capazes de transformar a sociedade o
criar uma Nova Vida.
Por isso as pessoas
procuram a FRELIMO. Todos odeiam o inimigo, a opressão e a humilhação, a
exploração e o terror, muito embora frequentemente não esteja bem clara a
definição do inimigo. Todos anseiam pela liberdade e estão dispostos a
sacrificar-se por ela mesmo quando ainda ignorem como exprimir correctamente o
seu conteúdo. Todos aspiram a um mundo diferente ainda que não possam precisar
qual a diferença.
Assim, sem clareza,
com dúvidas e incertezas, com vícios e defeitos, com tradições mortas e gostos
decadentes, presos no tribalismo ou no individualismo, com a iniciativa
asfixiada e a inteligência temendo pensar, com os complexos herdados e
impostos, cada um chega à luta, cada um vem à FRELIMO procurando a resposta
certa, o caminho correcto.
A nossa tarefa é a de
a todos integrar e transformar em servidores do Povo, combatentes defendendo os
interesses das massas exploradas, militantes da causa da libertação da Pátria.
Nenhum milagre virá
ajudar-nos nesta tarefa gigantesca. O processo de transformação é feito pêlos
homens que somos, lutando continuamente contra as nossas próprias limitações.
Para
nos transformarmos e transformarmos os homens que cada dia chegam a nós
precisamos de viver organizados, por outras palavras possuir o aparelho, as
estruturas capazes de aplicarem a linha.
Sem
estarmos organizados não conseguimos transformar-nos a nós próprios e seremos
ao contrário arrastados pelo peso dos hábitos e gostos da outra zona.
Viver organizado
significa primeiramente possuir estruturas. As estruturas são a presença
organizada da FRELIMO no nosso seio. São elas que nos mostram qual a nossa
tarefa, como ela se combina com todas as outras tarefas e como estamos assim
integrados no corpo da FRELIMO. Sem as estruturas, por outras palavras sem a
integração na FRELIMO, viveremos isolados, como membros fora do corpo.
E;
evidente que por mais inteligente, dinâmica, trabalhadora e dedicada que uma
pessoa seja, ela não pode sozinha fazer todos os trabalhos do centro em que
vive. São as estruturas que nos fornecem os mecanismos adequados para
distribuirmos as tarefas entre nós.
As estruturas
fornecem-nos os canais apropriados para a resolução dos problemas que
enfrentamos no nosso trabalho e na nossa vida.
JÊ através das nossas estruturas que asseguramos a
discussão dos nossos problemas, descobrimos como aplicar a nossa linha duma
maneira criadora em cada situação concreta enfrentada. É no quadro das nossas
estruturas que corrigimos os nossos métodos de trabalho.
As estruturas são o
instrumento da democratização da nossa vida, pois que levam à participação de
todos duma maneira organizada, à solução dos problemas de maneira colectiva.
Quando levamos todos a
participarem na resolução dos problemas, quando fazemos que todos e cada um se
sinta responsável pela resolução dos problemas enfrentados, estamos a
colectivizar a nossa direcção, a colectivizar a nossa vida.
As
estruturas não caem do céu, elas são produtos de situações precisas e respondem
a necessidades concretas. Quer dizer que as estruturas devem ser operacionais,
isto é, responder às necessidades e situações precisas de um dado centro. Elas
devem permitir uma divisão e coordenação das tarefas do centro, a execução da
tarefa principal e das outras tarefas revolucionárias.
E evidente que não
vivemos uma situação estacionária: o desenvolvimento da luta, a acção inimiga
modificam constantemente a situação que vivemos. A modificação da situação, a
mudança de condições requerem que as estruturas se adaptem a elas. As
estruturas devem adaptar-se à vida, não é a vida que se deve submeter às
estruturas. Isto significa que as estruturas devem ser flexíveis, para poderem
sempre adaptar-se à situação concreta.
As
estruturas têm uma função: assegurar uma continuidade e desenvolvimento do
trabalho, permitir que as nossas tarefas sejam cumpridas correctamente em todas
as condições, por outras palavras, elas devem ser dinâmicas, elas são
transmissoras da energia que faz movimentar a máquina.
Mas
as estruturas são também os homens, sem eles as estruturas tornam-se apenas
bonecos, mais ou menos bem desenhados numa folha de papel ou num quadro.
Frequentemente
no processo da revolução surgem erros e desvios, muito embora a linha seja
clara e as estruturas adequadas. E ao nível das Insuficiências que possuímos,
que devemos situar a causa destes erros e desvios.
O
desenvolvimento da nossa Revolução, a extensão e consolidação da nossa luta
armada suscitam o aparecimento de novas contradições.
Cada
progresso suscita sempre uma reacção, a Revolução é sempre oposta pela
contra-revolução.
A
contradição principal que surge entre nós na fase presente é entre as
exigências da situação e a nossa capacidade.
A
luta, a instalação do poder popular, desenvolvem-se mais rapidamente do que a
consciência e a capacidade dos quadros, sobre quem pesa a tarefa de orientar,
canalizar e dinamizar o processo geral.
O
aspecto principal desta contradição manifesta-se na incapacidade das estruturas
de alguns centros em resolverem por si correctamente os diferentes problemas
que surgem, a sua dificuldade em definir e planificar as tarefas, a
impossibilidade desses centros em integrarem e transformarem efectivos
crescentes que lhes são confiados, as populações cada vez mais numerosas de que
são responsáveis.
Ora
todos nós possuímos uma linha clara de orientação, uma linha provada pela
prática: a linha da FRELIMO, que cobre todos os aspectos da nossa vida e todos
os sectores da nossa luta. A análise criadora da linha permite-nos encontrar a
resposta adequada para cada situação concreta que enfrentamos. As nossas
estruturas têm acompanhado a evolução da situação, estamos sempre a
organizarmo-nos. Temos connosco as massas, temos as estruturas, a linha.
Então onde se encontra a causa da
contradição? Como resolver a contradição para passarmos a uma fase superior? A
resposta está nos quadros, que são o factor decisivo na aplicação
da linha e na vida das estruturas.
Perguntamos, porque é
que os quadros veteranos da luta, que construíram com numerosos sacrifícios
aquilo que somos hoje, se deixam, como dizemos, ultrapassar?
Temos primeiramente como causa desta situação, o
espírito de vitória.
As grandes vitórias
que alcançamos, tanto no campo da luta armada como no da liquidação das forças
reaccionárias e na destruição das infiltrações inimigas no nosso seio, ou
ainda na reconstrução nacional, levam certos camaradas a só verem vitórias
contínuas, a desprezarem tacticamente o inimigo, a considerarem sempre a
situação como «normal», «boa», e nunca tiram lições dos revezes, não estudam
como combater as nossas limitações.
Por
isso deixam de estudar a nossa linha, acham que já conhecem o suficiente e aí
estão as vitórias a prová-lo. O resultado é o abandono da análise política, a
nossa consciência torna-se insensível aos desvios e agressões contra a linha e
assim não conseguimos detectar e destruir no ovo as infiltrações ideológicas,
morais e físicas do inimigo.
Negligenciam o estudo
científico, consideram que já sabem o suficiente, tanto mais que aí estão as
vitórias a prová-lo. Mas o desenvolvimento da guerra e da reconstrução nacional
requerem conhecimentos científicos cada vez mais sólidos e superiores, e nós não
os temos. Como resultado desta atitude a nossa ignorância bloqueia o progresso,
e o que não progride estagna e apodrece.
Deixam de estudar o
inimigo, consideram que já o conhecem suficientemente, e a prova é que aí
estão as vitórias. Mas as manobras do inimigo evoluem continuamente, o seu
espírito criminoso e desesperado cresce com cada derrota. Não estudar
continuamente o inimigo, desprezá-lo tacticamente, leva-nos à rotina, e por
isso a sermos surpreendidos pelas novas manobras do inimigo, pêlos seus novos
crimes. Assim, em vez de mantermos a ofensiva, em vez de destruirmos a cobra
quando está no ovo, caímos na defensiva, descobrimos a cobra quando, já adulta, levanta
a sua cabeça venenosa para nos liquidar.
Abandonam
o combate interno pouco a pouco, já estamos suficientemente puros, já nos
demarcámos o suficiente do inimigo porque não temos contacto físico com ele.
Pouco a pouco a velha vida, a vida da outra zona penetra, o liberalismo
introduz-se, a corrupção surge, os compromissos começam a paralizar-nos, as
ideias erradas pululam, a superstição espalha-se. Cria-se com isto o clima de
relaxamento, a desconfiança e a injustiça infiltram-se, a divisão surge e o
inimigo descobre que o terreno começa a fertilizar-se para ele poder agir.
O
espírito de vitória é uma manifestação de oportunismo de esquerda: leva-nos a
desprezar tacticamente o inimigo, conduz-nos ao aventureirismo. Cedo ou tarde o
espirito de vitória far-nos-á pagar em sacrifícios, far-nos-á pagar caramente
em baixas pesadas e inúteis os erros que cometemos.
O
espírito de vitória é irmão gémeo do espirito de derrota, o oportunismo de
esquerda é a outra face do oportunismo de direita.
Quando, em consequência dos erros
cometidos pelo espírito de vitória, se sofrem revezes, os aventureiros caem
então no espírito de derrota, temem o inimigo do ponto de vista estratégico,
começam a só analizar fracassos, deixam de ver os progressos da luta. Como
tinham o espírito de vitória rápida, a guerra torna-se «interminável» nas suas
cabeças. As vitórias alcançadas são para eles casuais e isoladas.
Com este espírito
passam a realizar as suas tarefas com um desinteresse evidente, abandonam
totalmente a visão de conjunto, só vêm erros nos trabalhos efectuados pêlos
outros camaradas, mas recusam-se a apontar e discutir os erros, a propor
soluções justas. Preferem o murmúrio à crítica e auto-crítica, a intriga à
discussão aberta. Criam os seus grupinhos, os seus aliados.
S6
analisar fracassos, só ver erros, torna-se uma maneira de justificar e camuflar
o abandono das posições revolucionárias, o desinteresse pelo trabalho.
Criam-se doenças e
problemas imaginários, apresentam-se como Incompreendidos, perseguidos,
mártires de conspirações e inimigos que só existem na sua imaginação ociosa e
doentia.
Os
corpos continuam na nossa zona, mas os espíritos já se instalaram na outra
zona, sonhando com o conforto e corrupção vistos como coisas maravilhosas.
Uma outra
insuficiência que aparece frequentemente ligada às manifestações anteriores é
o espírito de «veterano», de «antigo» na guerra e na política e por isso sabe
tudo, nada tem a aprender sobretudo das novas gerações. As novas gerações em
particular, cheias de dinamismo e desejosas de introduzir novas ideias e
métodos, são concebidas como concorrentes indesejáveis que vêm desalojar os
«veteranos» da sua rotina e privilégios.
Estes
«veteranos», que de veteranos só possuem a antiguidade e não a riqueza duma
experiência sintetizada para ser transmitida às novas gerações, são elementos
estagnados mentalmente. Cumprem rotineiramente as suas tarefas sem se
preocuparem em introduzir novos métodos nascidos da experiência adquirida. Ao
trabalhar não se preocupam em realizar a tarefa o melhor e mais rapidamente
possível, e cometem erros que justificam dizendo que errar é humano. Têm
vergonha de reconhecer a sua ignorância e assim recusam-se a aprender,
persistindo nos velhos caminhos errados. A sua antiguidade é pretexto para
reclamarem privilégios e darem prioridade aos seus problemas pessoais e
egoístas. Querem um tratamento especial porque são antigos, esquecendo-se que
dos veteranos exigimos sobretudo um espírito e comportamento exemplares que nos
eduquem na Nova Vida. Impedem a promoção de novos quadros e novas forças e
procuram semear a desconfiança contra elas. Fazem isso porque perderam a visão
do conjunto e a noção das necessidades crescentes da guerra e reconstrução
nacional. Preocupam-se pois com postos e não com as tarefas da luta, querem
defender privilégios e rotinas que os transformam em pequenos capitalistas.
Estas
manifestações exprimem a contradição permanente entre o velho e o novo, o
progresso e a rotina, o espírito de desenvolvimento e o espírito conservador.
Esta contradição é própria de todas as revoluções e o método para a tratar
correctamente é de educar os quadros no espírito de progresso, na visão do
conjunto e no sentido de servir as massas ganhando as novas gerações para
desenvolver o trabalho.
As novas gerações também devem
ser educadas correctamente. Estas novas gerações, quando nas nossas zonas
libertadas, quando crescem nos nossos centros, são frequentemente consideradas
automaticamente como «revolucionárias», impregnadas da nossa linha. Elas
próprias assim também o pensam. Por isso negligencia-se por vezes o trabalho
político no seu seio, o combate colectivo contra os gostos, os vícios e
defeitos da outra zona. Sem qualquer base e porque simplesmente cresceram fora
da presença inimiga, consideram-se as novas gerações livres do passado.
Isto
é um erro grave e perigoso que pode conduzir à formação de pequenos
reaccionários no nosso seio, quando estamos convencidos de que formamos
gerações de continuadores da revolução.
Devemos compreender
que as novas gerações crescem em contacto com as velhas gerações que lhes
transmitem os vícios do passado. A nossa prática demonstra-nos como é que
crianças e jovens nos nossos próprios centros são contaminados pelas ideias,
hábitos e gostos decadentes. Na nossa situação a acção subversiva do inimigo
também desempenha um papel importante na introdução e fomento dos valores e
práticas da outra zona. Final- mente, e durante todo o período em que
ainda subsistir o capitalismo e o imperialismo no mundo, a sua propaganda e
subversão far-se-ão sentir entre nós, e a conquista da independência e do Poder
não constituem de modo algum garantia de impermeabilização contra os valores
decadentes.
Com
efeito, não é em dez ou vinte anos que se liquidam os pesos mortos duma herança
milenária. Os valores, os gostos, as concepções que vêm do passado, ainda que
contrárias à linha, contrárias à nossa vida, contrárias ao progresso, continuam
fortes. A luta abalou-os, mas ainda é muito cedo para cantarmos vitórias. Este
combate político terá que se prosseguir durante dezenas de anos, até que
realmente a mentalidade nova ganhe a quase totalidade da sociedade e novos
problemas e contradições surjam exigindo novos combates. Por outro lado, as
novas gerações cresceram sem contacto directo com a exploração, a opressão, a
humilhação próprias da sociedade colonialista e capitalista. Elas conhecem os
bombardeamentos, mas nunca sofreram a palmatória, combateram contra
helicópteros mas nunca foram submetidas ao trabalho forcado, liquidaram
soldados inimigos mas não foram presas para pagar impostos,
testemunharam crimes mas nunca foram vendidas para as minas.
No
seio das largas massas existe uma rica experiência de sofrimento, um enorme
potencial de ódio contra o inimigo. Mas as experiências não são suficientememte
trocadas, não são suficientemente sintetizadas para que se aprofunde o
conhecimento e o ódio contra o inimigo, contra a exploração. Podemos dizer que
se desperdiça a experiência de sofrimento que devia servir para formar as novas
gerações e consolidar a consciência das massas em geral.
Para
superar estas deficiências e resolver as contradições da fase presente, a
ofensiva ideológica e organizacional impõe-se.
Isto
significa agir ao nível das secções e do grupo, no que respeita à organização
do exército, e dos círculos no que concerne a organização das massas.
Mas para que realmente
transformemos as secções e círculos em células de base, em centros da nossa
vida política, sentiu-se a necessidade de agir sobre os quadros, porque é sobre
estes que recai a tarefa de dinamização da base.
Devemos dinamizar
cada sector de trabalho com os elementos que, pelo seu comportamento e pelas
suas ideias, demonstram ter assumido criadoramente a nossa linha e fazerem
parte da vanguarda da nossa organização, que possuem o espírito de iniciativa e
visão do conjunto, se preocupam em combinar a sua tarefa principal com as
outras tarefas revolucionárias, engajam-se no combate interno, estudam e são
sensíveis aos mínimos desvios e agressões contra a linha, defendem a disciplina
que é a sentinela da nossa linha política.
Para
além dos problemas concretos e das feridas precisas existentes em cada sector,
direcção e quadros devem preocupar-se em:
a) Representar,
Inculcar e defender a nossa linha no seu sector;
b) fazer assumir e defender a
nossa disciplina que é a sentinela
da nossa política;
c) pôr a
política nos postos de comando em todas as nossas actividades;
d) organizar o
sector de trabalho, organizá-lo no espírito de combate entre duas linhas e na
demarcação crescente entre nós e o inimigo, na aquisição da visão de conjunto e
na combinação entre a tarefa principal e as outras tarefas revolucionárias;
e)
organizar e orientar os militantes na análise crítica diária das actividades
individuais e colectivas e na sintetização das experiências, na libertação da
iniciativa e na destruição do espírito de rotina e na criação do espírito de
inovação e progresso;
/) organizar e
orientar o sector de trabalho no estudo político, na alfabetização e elevação
do nível científico, no estudo e análise da nossa situação e do inimigo;
g) manter
uma ofensiva intensa e permanente de combate colectivo e de purificação das
nossas fileiras dos elementos incorrigíveis, impermeáveis à linha e que
persistem nos gostos corruptos, nos vícios e defeitos, e recusam a
transformação;
h) organizar e
orientar o estudo das experiências teóricas e práticas das outras revoluções, a
fim de tirar lições úteis para a nossa situação, e educar os militantes no
espírito revolucionário internacionalista.
Podemos
afirmar essencialmente que a ofensiva ideológica deve-nos criar uma consciência
política sólida fundada em três pontos centrais:
1. Conhecimento profundo da
nossa linha política.
2. Conhecimento
íntimo da nossa luta, tanto na sua evolução como no seu significado para o
nosso Povo e os outros Povos do Mundo.
3. Confiança
total nas massas unidas e organizadas sob a direcção da nossa linha correcta,
estar consciente de que as massas neste quadro compreendem e assumem a luta,
têm energia criadora e são invencíveis qualquer que seja o adversário e a sua
força.
A dinamização exige
uma investigação cuidadosa, tanto para determinar os problemas concretos
existentes no sector em que devemos agir, como também na selecção do núcleo
dinamizador, que realmente deve ser composto por elementos de vanguarda.
Dinamizando
os quadros, que são o factor decisivo na aplicação da nossa linha política,
estaremos em condições de transformar as secções e círculos em células de base
da nossa organização política.
E
esta acção que nos habilitará a enquadrar e transformar a vida das massas que
em número crescente se integram na nossa organização, assegurando assim o
alargamento consolidado da nossa frente. Esta acção criará ainda as condições
para que se constitua no nosso seio a vanguarda organizada do nosso Povo e das
classes trabalhadoras exploradas, instrumento indispensável para o
desenvolvimento da revolução democrática e popular em Moçambique.
Neste quadro, a
natureza das relações entre os nossos centros e as massas populares tem um
papel fundamental.
São as massas a fonte
de vida da nossa organização, são elas a força principal e decisiva no processo
da libertação da nossa Pátria e na construção da nossa sociedade. O combate é
feito e ganho por elas e destina-se 8 satisfazer os seus interesses.
Qualquer
centro nosso é um centro colectivo ao serviço das massas, um centro que
sintetizando as experiências da revolução leva essas experiências às largas
massas para desenvolver o processo de transformação da vida.
Servimos as massas dando-lhes o exemplo da aplicação
da nossa linha.
Quando
o nosso comportamento de militantes corresponde à linha, estamos a educar as
massas na nova vida.
Servimos
as massas dando-lhes o exemplo de vida organizada, Inculcando-lhes métodos
para viverem organizadas, orientando-as para se organizarem cada vez melhor.
É organizando as
massas, é criando estruturas democráticas e populares no seu seio que
poderemos transformar a sociedade.
São as estruturas
criadas no seio do círculo que orientarão os camponeses, criadores de gado,
pescadores, artesãos, a organizarem-se colectivamente para produzirem nas
cooperativas, melhorarem as suas técnicas produtivas, diversificarem e
aumentarem a produção, elevando assim o nível de vida das massas. É evidente
que o exemplo da produção colectiva nos centros, dos seus resultados, as
machambas, as hortas7 as árvores de fruto, as lagoas artificiais ou naturais
para a criação de peixe, serão as melhores testemunhas do valor e veracidade da
nossa capacidade colectiva em transformar a sociedade.
São as estruturas criadas no seio
do círculo que levarão as massas a organizarem-se em destacamentos que punem
qualquer acção inimiga contra a povoação, as machambas e locais de trabalho. E
o trabalho organizativo que transformará cada povoação, cada machamba, numa
fonte de sofrimentos e baixas para o inimigo. O exemplo dado por cada um dos
nossos centros na defesa contra as agressões inimigas, o nosso trabalho de
instrução militar no seio das massas, o sabermos estimular a imaginação e
iniciativa criadora das massas para combinarem as armas e armadilhas
tradicionalmente utilizadas contra as feras com as armas modernas, tornarão
impossível qualquer acção generalizada do inimigo contra o nosso Povo.
São
as estruturas criadas no seio do círculo que, elevando a consciência política
das massas e conduzindo estas ao aprofundamento da demarcação com o inimigo,
aguçarão a sensibilidade das massas contra as manobras ou infiltrações do
inimigo, permitindo assim que as destruamos no embrião.
Em
última análise, é esta estruturação que torna irreversível a libertação duma
zona e nos conduz a rechaçar as invasões e agressões inimigas por poderosas que
estas sejam.
É
evidente que para os nossos centros dinamizarem a vida das largas massas e
transformarem a sociedade, isto exige que cada centro e cada militante afectado
num centro assumam a missão de servidores das massas e continuamente, duma
maneira exemplar e sem qualquer relaxamento, respeitem integralmente os
interesses das massas.
Não
poderemos nunca tolerar que um militante nosso ouse utilizar o poder ou a arma
que lhe foram confiados para servir o Povo, para cometer qualquer violação dos
interesses do Povo, por mínima que seja. Devemos ser intransigentes perante
qualquer liberdade tomada com as mulheres e abuso aos bens do Povo, ou qualquer
injustiça cometida contra as populações. Isto é parte integrante da nossa luta,
da nossa disciplina, e condição indispensável para que as massas possam sempre
distinguir, sem hesitação, as nossas acções das do inimigo.
Servir
as massas, transmitir-lhes a arma invencível da nossa linha, as nossas
experiências, orientá-las na elevação do nível ideológico e organizativo, é a
missão de todos os nossos centros nas suas relações com as massas.
Iniciamos
o décimo ano da nossa guerra popular de libertação contra o colonialismo
português e o imperialismo.
Durante estes dez
anos de luta armada, estes doze anos da existência da FRELIMO, a situação da
nossa Pátria e do mundo sofreram alterações profundas.
Os nossos objectivos
iniciais de independência nacional aprofundaram-se no processo de
desenvolvimento da guerra popular, criando as bases da revolução nacional
democrática e popular para instaurar o poder popular, o poder das largas massas
trabalhadoras do nosso país.
A
extensão da luta armada para zonas onde dominam grandes interesses económicos
e estratégicos do imperialismo, levou-nos a uma confrontação directa com
este, tornando imediato e concreto o conteúdo anti-imperialista do nosso
combate.
As graves derrotas
político-militares sofridas pelas forças coloniais portuguesas, a sua
incapacidade manifesta em bloquear a progressão do combate libertador, forçaram
a direcção inimiga a modificar a natureza da agressão contra o nosso Povo, com
o intuito de salvaguardar os interesses fundamentais imperialistas: a
exploração das massas trabalhadoras nacionais, a pilhagem dos nossos recursos e
a destruição do movimento revolucionário na África Austral em particular e no
continente em geral.
Ë neste contexto que se situa a
entrada da África do Sul e Rodésia na guerra contra nós, o reforço do apoio
militar, financeiro e técnico, a transmissão das experiências de agressão aos
colonialistas portugueses e aliados, pelos Estados imperialistas, em particular
os Estados Unidos, França, Alemanha Federal e Inglaterra.
Assim a
internacionalização da agressão contra o nosso Povo tornou-se uma realidade, a
guerra colonial assume já o carácter de guerra imperialista de agressão.
Com
o objectivo de diminuir as suas baixas crescentes e alarmantes, o comando
inimigo decidiu modificar a cor dos cadáveres, «moçambicanizar» a guerra pela
criação dum exército fantoche, recrutado à força e enquadrado por portugueses:
OPV, GE, GEP, etc....
Esta
acção permitiria ainda camuflar perante a opinião mundial a agressão
estrangeira contra o nosso Povo.
Estas modificações da situação requerem de nós uma
resposta adequada.
Definimos
no passado que as nossas tarefas essenciais eram as de Intensificar o trabalho
político no seio dos quadros, estender a luta e consolidar as nossas zonas. A
IV Sessão do nosso Comité Central eleito pelo II Congresso (Dezembro de 1972),
ao dar-nos a palavra de ordem de generalizar a ofensiva para estabelecermos a
nossa favor a correlação de forças com o inimigo, precisou que isso requeria a
popularização da nossa linha, isto é, fazer que ela seja assumida e vivida
pelas largas massas, a democratização dos métodos de trabalho e a
colectivização da direcção.
Mais
recentemente, ao estudarmos os meios para criarmos as condições para a
aplicação destas directrizes, definimos duas orientações fundamentais: a
intensificação da ofensiva ideológica em direcção dos quadros, combatentes e
massas, a intensificação do trabalho organizacional pela constituição de grupos
e secções como células de base, no seio do exército, e fazer dos círculos a
base da nossa acção política no seio das massas.
Os
diversos centros da FRELIMO— militares, educacionais, sanitários, infantários,
de produção, de comércio — têm um papel decisivo a desempenhar: são eles o
centro difusor da nossa linha.
Para
as largas massas, é a eles que compete mostrar duma maneira prática a
superioridade e justeza dos nossos princípios e objectivos.
Em
resumo, é sobre os nossos centros que recai a responsabilidade de transmitir às
massas duma maneira viva a linha política da FRELIMO.
É
sobre cada um dos militantes que recai a responsabilidade de enraizar a
revolução na nossa Pátria, garantir a sua vitória, única justificação para a
imensidade de sacrifícos, para o mar de sangue que já consentimos.
Ë
nos nossos centros que se encontram as respostas, é lá que possuímos as
forjas do Homem Novo, da Sociedade Nova.
Por
isso, ao prepararmos as celebrações do décimo ano da nossa guerra popular,
transmitimos a todos os nossos centros e militantes a palavra de ordem:
«DEMARCAR O NOSSO
PODER DO PODER DO INIMIGO, ESTABELECER O PODER POPULAR PARA SERVIR AS MASSAS».
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