Por Custódio Duma
Moçambique espera ansiosamente pelas eleições gerais e multipartidárias marcadas para o dia 15 de Outubro próximo. Enquanto isso, as máquinas partidárias estão a movimentar-se de um lado para o outro, preparando-se para o evento. Entretanto, quanto mais nos aproximamos da data, uma série de acontecimentos fazem-nos questionar se realmente as eleições irão acontecer ou não. E a quem interessaria a sua não realização.
Moçambique espera ansiosamente pelas eleições gerais e multipartidárias marcadas para o dia 15 de Outubro próximo. Enquanto isso, as máquinas partidárias estão a movimentar-se de um lado para o outro, preparando-se para o evento. Entretanto, quanto mais nos aproximamos da data, uma série de acontecimentos fazem-nos questionar se realmente as eleições irão acontecer ou não. E a quem interessaria a sua não realização.
De há uns dias para cá, tem crescido acusações entre os principais três partidos moçambicanos com bancadas parlamentares, dando conta que um e outro não quer a realização de eleições. Por que é que um partido não quereria a realização de eleições, sabendo que ela é a única via para a obtenção da legitimação por parte dos cidadãos para a constituição dos órgãos de soberania pelos qual se exercerá o poder?
Ao mesmo tempo, enquanto o Presidente da República realiza a sua última “presidência aberta e inclusiva”, despedindo-se do povo e anunciando o candidato do seu partido para a sua substituição, o maior partido da oposição reclama publicamente da mobilização de esforços governamentais para impedir que o seu líder saia do “lugar incerto” para começar a fazer a sua pré-campanha, como está a fazer o seu eventual principal adversário.
Como forma de opor-se a essa “perseguição”, o partido reclamante decidiu incrementar os ataques militares na zona centro do país e chegou a ameaçar uma eventual divisão do país, sendo esta última situação a recuperação de antigos discursos, também proferidos por suas lideranças em vésperas eleitorais. Os ataques estão a acontecer, as pré-campanhas também, entretanto, as “negociações das segundas-feiras” parecem não caminhar para um ponto de consensos. A cada dia, recrudescem as acusações entre as duas partes, o que nos faz pensar que nem mesmo os observadores nacionais conseguem influenciar positivamente!
O discurso do ódio voltou a ganhar terreno. Os ataques militares e a recuperação do termo “bandidos armados” ilustra fraquezas no nosso processo de reconciliação e inclusão. Durante muito tempo, acreditamos que a maior parte das diferenças que nos levaram a conflitos que não vale a pena lembrar tinha sido ultrapassada, mas não parece ser verdade. afinal, não tínhamos destruído o “machado da guerra”, apenas o tínhamos enterrado, por um lado por receio do futuro e, por outro, por desconfiança recíproca. Hoje, no meio de desentendimentos, reacendemos as chamas do antigo ódio e desenterramos o machado.
Desesperadamente, apela-se à paz e à unidade nacional, numa clara demonstração de que, na verdade, elas estão em causa. Incompreensivelmente, enquanto se realizam as negociações, fazem-se as pré-campanhas e atacam-se colunas de viaturas. Nesse cenário, como acreditar que as eleições serão realizadas? Aliás, os dois maiores partidos já apareceram publicamente a acusar-se de que um e outro está a fazer de tudo para que as eleições gerais de 2014 não aconteçam.
Seja como for, parece, pelos sinais que temos, que esses dois principais actores nacionais não as querem. Ora vejamos: o “diálogo das segundas” não produz resultados, embora tenha contribuído no passado para alguns consensos; a tensão político-militar tomou contornos alarmantes; os discursos das partes voltaram a ser incendiários; crescem os receios de enfraquecimento do poder por transição fora do contexto; e os três principais candidatos à “ponta vermelha” parecem ignorar o cenário de indignação popular.
Tudo isto faz-me pensar duas coisas: primeiro, crescem as possibilidades de não realização das eleições de Outubro próximo e, segundo, o que é mais grave, cresce o sentimento de que estamos sentados sobre um enorme “barril de pólvora”, o que significa que, a qualquer momento, acontecendo a “situação de pretexto”, poderemos entrar numa situação ainda mais grave de convulsões e explosões, o que, na hipótese de se realizarem eleições gerais e multipartidárias, não se evitará o alto nível de violência, reduzindo a possibilidade de serem credíveis, por não terem sido livres, justas nem participativas.
A ver vamos.
Fonte: O PPaís online - 25.06.2014
Sem comentários:
Enviar um comentário