O presidente da Federação Moçambicana dos Transportadores Rodoviários (Fematro) anunciou à Lusa que a organização vai reunir-se na próxima semana em Maputo para definir a sua posição face às emboscadas no centro do país.
Depois de algumas semanas de acalmia, na sequência do cessar-fogo decretado no início de Maio pela Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), o principal partido da oposição, nos confrontos com o Exército na região centro do país, a principal estrada moçambicana voltou a ser assolada por ataques armados atribuídos ao movimento.
Em declarações à Lusa em Maputo, o presidente da Fematro, Castigo Nhamane, disse que a organização vai reunir-se na próxima semana com os seus associados, para tomar uma posição sobre a insegurança no troço entre o rio Save e o posto administrativo de Muxúnguè, um trajecto de cem quilómetros que só pode ser realizado com escolta militar e tem sido alvo de ataques armados.
"Vamos reunir principalmente os transportadores interprovinciais, que usam o troço mais problemáticos, para definir a nossa posição em relação à situação militar naquela região, porque os nossos apelos para a cessação dos ataques ainda não produziram resultados", disse Nhamane.
Na terça-feira, automobilistas e passageiros recusaram-se a integrar colunas do exército no troço entre o rio Save e Muxúnguè, Sofala, centro de Moçambique, exigindo o seu cancelamento, por estarem a "atiçar a instabilidade e o conflito".
"O Exército escolta-nos, mas há ataques constantes no troço. Estes ataques visam militares. Então que nos deixem fazer sozinhos o percurso como dantes", disse à Lusa, por telefone, Sebastião Jorge, transportador de carga, e que descreveu a existência de milhares de carros parados, cujos proprietários "recusam-se a integrar a coluna no Save".
No mesmo dia, o presidente da Fematro disse em Maputo que a organização não descartava a hipótese de suspender a actividade no centro do país, devido à situação grave que se vive naquele ponto do país.
Os ataques a escoltas militares de viaturas na estrada que liga o sul e centro de Moçambique provocaram uma queda do número de passageiros dos transportes semipúblicos e a subida de preço dos alimentos na região.
"Os ataques fizeram escassear os produtos provenientes do sul, o que fez disparar o preço da cebola, batata e ovo", disse à Lusa Arminda Fajú, comerciante do mercado central em Chimoio, a capital da província de Manica, centro de Moçambique.
Motoristas ouvidos pela Lusa na cidade de Tete, província com o mesmo nome, no centro do país, contaram que estão a acumular prejuízos, devido à redução do número de viagens entre a província e a capital do país, na sequência da insegurança na região.
"Continuo a efectuar o meu trabalho, mas com muito medo, e porque tenho filhos para sustentar, entre ficar em casa e morrer à fome, vou preferir morrer a tiro a fazer o meu trabalho. Apenas nós os pobres e os nossos filhos é que estamos a sofrer com esta guerra", afirmou Alberto Mário, motorista há mais de vinte anos.
Nelson Bernardo, também motorista que usa o troço Muxúnguè-Save, afirmou que cada dia que tem de fazer o trajecto é como se fosse o último da sua vida, devido à insegurança que se vive no centro do país.
"Nos últimos dias, sempre que saio para viajar, despeço-me da minha família, porque não sei se voltarei com vida. Até quando vamos viver desse jeito? É importante que o senhor Armando Guebuza (Presidente moçambicano) e Afonso Dlakama (líder da Renamo) pensem no povo", pediu Bernardo.
Fonte: LUSA - 15.06.2014
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