O nível de crescimento do défice da conta corrente de Moçambique representa um grande risco para a economia do país a longo prazo, alertou hoje em Maputo o gestor macroeconómico do Banco Mundial (BM), Andrew Burns.
Apontando a previsão de um défice da conta corrente de cerca de 49% para este ano, Andrew Burns, que hoje apresentou em Maputo um relatório do BM sobre as perspetivas macroeconómicas do primeiro semestre de 2014 da região da África subsariana e de Moçambique, considerou insustentável o atual nível de endividamento da economia moçambicana.
"Moçambique é um caso especial porque o seu défice da conta corrente está perto de 50% do Produto Interno Bruto (PIB), o que, obviamente, não é sustentável a longo prazo", sublinhou o responsável, notando que, embora esta situação esteja associada aos investimentos em curso no país, poderá representar futuramente um risco caso aconteça "algo de mau em outro canto do mundo".
Inseridas num contexto de expansão regional na ordem de 4,8%, as mais recentes perspetivas do BM para Moçambique apontam um crescimento do PIB de 8,1% para 2014 e de 8,6% para o próximo ano, num cenário marcado por fortes investimentos na economia do país.
"O grande desafio que Moçambique enfrenta é o de converter os investimentos que estão a ser feitos na economia em desenvolvimento sustentável, procurando manter o atual nível de crescimento quando a fase de investimentos terminar", disse o gestor do BM.
Sublinhando que os preços internacionais de referência para minérios e metais estão em queda, o que continuará a ter consequências na atividade das mineradoras que operam em Moçambique no setor de extração de carvão, Andrew Burns alertou para a tendência de convergência dos preços do gás natural nos mercados americano, europeu e asiático, que poderá ter implicações nos futuros projetos de exploração de gás natural do país.
Para o economista-chefe do BM para Moçambique, Julio Revilla, "a convergência nos preços implica que Moçambique acelere o desenvolvimento do gás natural, basicamente para poder assinar contratos adequados de longo prazo [de venda de GNL]".
Revilla considerou ainda que "a ameaça não é imediata, mas está a aumentar".
Sobre a aparente centralização da economia moçambicana em áreas associadas à exploração de recursos naturais, Revilla instou as autoridades do país a promoverem uma maior diversificação dos seus setores produtivos.
"Acho que Moçambique tem uma dívida com a sua sociedade e economia, que é a de fomentar setores alternativos [ao de extração de gás e petróleo], como a agricultura, que tem apresentado um crescimento muito moderado", referiu o economista do BM.
Fonte: LUSA - 17.06.2014
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