MARCO DO CORREIO
Por Machado da Graça
Caro amigo Timóteo
Como está essa saúde? A minha, felizmente, está bem.
Quem parece estar com a saúde um bocado abalada é a liberdade de imprensa, entre nós. E isso nota-se em vários aspectos.
Por exemplo, para comemorar o Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, o Jornal da Manhã, da Rádio Moçambique, dedicou a esse tema um dos seus últimos Cafés da Manhã. O que é muito de louvar.
O convidado foi o jornalista Tomás Vieira Mário que, embora com muita diplomacia, foi colocando o dedo nas principais feridas abertas nesta sensível questão. Falou do problema da auto-censura e das suas ligações ao momento político que o país vive. Falou, principalmente, do medo que muitos profissionais têm de perder o seu ganha-pão se não cumprirem com “orientações superiores” que, em teoria, nunca lhes deveriam ter sido dadas.
Mas onde o caldo se entornou foi quando telefonou para o programa a Dr.ª Julieta Langa, que tem estado a fazer um trabalho de pesquisa sobre esta questão da liberdade de imprensa em Moçambique.
Ela falou da descida da posição do nosso país nas classificações internacionais devido a vários factores que foi nomeando. Só que, quando ela referiu a questão dos G 40, antes que desenvolvesse a sua ideia, a palavra foi-lhe cortada abruptamente. Sem qualquer desculpa nem delicadeza.
Sendo eu ouvinte regular daquele programa sei que, quando alguém se estende demais na sua intervenção, quem está a dirigir o programa, normalmente, interrompe, delicadamente, dizendo que já compreendemos a ideia e há que dar lugar aos outros.
No caso da Dr.ª Julieta Langa não aconteceu nada disso. Cortaram-lhe a palavra e passaram imediatamente a outro ouvinte, sem qualquer tipo de justificação.
Ora eu creio que este tipo de exemplo ajuda-nos muito mais a compreender o problema da liberdade de imprensa em Moçambique do que longas tiradas teóricas.
E lembra-nos o que aconteceu no último congresso do partido Frelimo, em Pemba, em que a transmissão da intervenção de Jorge Rebelo pelas rádio e televisão estatais foi abruptamente interrompida quando aquele quadro punha em causa a existência, ou não, de liberdade de informação entre nós.
Será que quem dá esse tipo de ordem não se apercebe que está a dar armas aos críticos do sistema?
Um abraço para ti do
Machado da Graça
Fonte: Correio da Manhã – 06.05.2014
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