terça-feira, maio 06, 2014

"Será que quem dá esse tipo de ordem não se apercebe que está a dar armas aos críticos do sistema? "

MARCO DO CORREIO 

Por Machado da Graça

Caro amigo Timóteo

Como está essa saúde? A minha, felizmente, está bem.

Quem parece estar com a saúde um bocado aba­lada é a liberdade de imprensa, entre nós. E isso nota-se em vários aspectos.

Por exemplo, para comemorar o Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, o Jornal da Manhã, da Rádio Moçambique, dedicou a esse tema um dos seus últimos Cafés da Manhã. O que é muito de louvar.

O convidado foi o jornalista Tomás Vieira Mário que, embora com muita diplomacia, foi colocando o dedo nas principais feridas abertas nesta sensível questão. Falou do problema da auto-censura e das suas ligações ao momento político que o país vive. Falou, principalmente, do medo que muitos profis­sionais têm de perder o seu ganha-pão se não cum­prirem com “orientações superiores” que, em teoria, nunca lhes deveriam ter sido dadas.


Mas onde o caldo se entornou foi quando telefo­nou para o programa a Dr.ª Julieta Langa, que tem estado a fazer um trabalho de pesquisa sobre esta questão da liberdade de imprensa em Moçambique.

Ela falou da descida da posição do nosso país nas classificações internacionais devido a vários fac­tores que foi nomeando. Só que, quando ela referiu a questão dos G 40, antes que desenvolvesse a sua ideia, a palavra foi-lhe cortada abruptamente. Sem qualquer desculpa nem delicadeza.

Sendo eu ouvinte regular daquele programa sei que, quando alguém se estende demais na sua in­tervenção, quem está a dirigir o programa, normal­mente, interrompe, delicadamente, dizendo que já compreendemos a ideia e há que dar lugar aos outros.

No caso da Dr.ª Julieta Langa não aconteceu nada disso. Cortaram-lhe a palavra e passaram imediatamente a outro ouvinte, sem qualquer tipo de justificação.

Ora eu creio que este tipo de exemplo ajuda-nos muito mais a compreender o problema da liberdade de imprensa em Moçambique do que longas tiradas teóricas.

E lembra-nos o que aconteceu no último congres­so do partido Frelimo, em Pemba, em que a trans­missão da intervenção de Jorge Rebelo pelas rádio e televisão estatais foi abruptamente interrompida quando aquele quadro punha em causa a existência, ou não, de liberdade de informação entre nós.

Será que quem dá esse tipo de ordem não se apercebe que está a dar armas aos críticos do sis­tema?

Um abraço para ti do

Machado da Graça

Fonte: Correio da Manhã – 06.05.2014

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